Um pé na porta (parte II)

get a/your foot in the door

to enter a business or organization at a low level, but with a chance of being more successful in the future: Making contacts can help you get a foot in the door when it comes to getting a job.

Uma das minhas expressões preferidas em inglês é esta. “Get your foot in the door”. A sua aplicação não está muito distante da tão portuguesa “está com um pé dentro”, que significa que um processo está bem encaminhado.

Para a exposição que se segue, opto por uma adaptação do uso tradicional. Ou seja, aproveitando que a porta se abriu, coloca o pé para não deixar fechar, aumentando a probabilidade de entrar, logo, aumentando a probabilidade sucesso.

Ciência

Então…estamos em tempo de crise. Pandemia. Como muitos dizem, a COVID-19 é a doença de quem viajou e ajudou o vírus a atravessar fronteiras. Enquanto a população e alguns políticos parecem interessados em discutir a origem do vírus (interesse em carimbar o passaporte do vírus que não pareceu existir com a gripe suína (H1N1) surgiu em 2009 mas que foi importante em 2003, com a gripe aviária (h5N1), a comunidade científica tenta agilizar a vacina ou, pelo menos, um tratamento para a COVID-19.

Para isso, é fundamental sequenciar o genoma do SARS-CoV-2. Na USP, conseguiram sequenciar o genoma deste novo coronavírus e isso aconteceu 48 após a confirmação do primeiro caso brasileiro de infecção. É importante notar que o resultado é fruto da cooperação entre cientistas do Instituto Adolfo Lutz do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP e da Universidade de Oxford. Esta comunicação e coordenação internacional é essencial para identificar os genomas completos do vírus SARS-CoV-2 nas diferentes localizações, perceber dispersão e mutações. Só assim se pode perceber, por exemplo, que o genoma do paciente que foi infectado na Itália – pesquisadores italianos já isolaram o vírus que circula no país, sem haver notícia da publicação do genoma para comparação – seja diferente do genoma identificado na Alemanha, mas muito semelhante ao encontrado em Espanha.

“A China sequenciou o primeiro genoma do SARS-CoV-2 logo em Janeiro, o que permitiu desenvolver de forma rápida um teste genético que indica se a pessoa está ou não infectada. Entretanto, já foram tornados públicos mais de 400 genomas de casos em quase 30 países.

Os primeiros casos positivos em Portugal foram anunciados a 2 de Março. Tinha chegado então a vez de Portugal sequenciar o genoma do vírus destes casos. “Não há obrigatoriedade [para o fazermos], mas há o pedido para que as pessoas partilhem publicamente este tipo de sequências”, refere João Paulo Gomes, responsável do Núcleo de Bioinformática do INSA.”

(in Público, 13 de março 2020)

A COVID-19 acaba por abrir a porta para quem discutia, no Brasil, em Portugal, e não só, a importância do financiamento dos setores de saúde e de educação. São os dois que podem salvar vidas. Mas, dizendo isto, é preciso perceber quantos hospitais privados e quantos laboratórios for-profit estão envolvidos nesta jornada. E quantos lavam as mãos e empurram para o estado. Afinal, qual é o plano de saúde que cobre uma pandemia?

É um pé na porta para exigir mais financiamento, mais meios e, sobretudo, valorização dos profissionais de ensino, pesquisa e da saúde.

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