to enter a business or organization at a low level, but with a chance of being more successful in the future:
Making contacts can help you get a foot in the door when it comes to getting a job.
Uma das minhas expressões preferidas em inglês é esta. “Get your foot in the door”. A sua aplicação não está muito distante da tão portuguesa “está com um pé dentro”, que significa que um processo está bem encaminhado.
Para a exposição que se segue, opto por uma adaptação do uso tradicional. Ou seja, aproveitando que a porta se abriu, coloca o pé para não deixar fechar, aumentando a probabilidade de entrar, logo, aumentando a probabilidade sucesso.
Telemedicina
No caso da telemedicina no Brasil, tem sido uma constante porta fechada, por parte do CFM. Recentemente (escolho esta palavra e, de imediato, ocorre que já passou mais de um ano), parecia ter havido algum avanço, mas, a RESOLUÇÃO CFM nº 2.227/2018, Publicada no D.O.U. de 6 de fevereiro de 2019 foi revogada. Não se abriu uma porta. O CFM veio à janela, ouviu o que tinha de ouvir, decidiu da forma que entendeu, ou seja, sem fugir muito da orientação que já vinha sendo seguida.
Para quem dividiu a sua vida entre Portugal e Brasil, frases que apontam tempos de crise como tempos de oportunidade para quem quer empreender são cliché.
Mas, curiosamente, aquilo que está disponível para leitura há, pelo menos, 6 anos, sobre a necessidade de atendimento remoto para locais mais remotos (rurais, de acordo com a maior parte das publicações dos EUA, como esta e esta) ou para locais que, não ficando na periferia, são de difícil acesso (outra leitura interessante) tem sido ignorado pelo CFM e por quem tem o poder de alterar a legislação vigente e permitir o acesso da população mais carente.Sabiam que, em 2019, Portugal celebrou 20 anos de telemedicina? Na Europa e um pouco por todo o mundo, a mudança de hábitos está em plena aceleração. Não é apenas nos hábitos de convivência e socialização ou nos hábitos de trabalho, a relação com o atendimento em saúde já mudou. Em 2018, a estimativa da Comissão Europeia era de que o mercado global de telemedicina atingiria os 37 mil milhões de euros até 2021, com uma taxa de crescimento anual de 14%. Não há dúvidas, os números vão ser superados, e o vírus e o medo do contágio leva as pessoas a considerarem essas consultas mais rotineiras e tornando-as aceites. Mas, é preciso perceber que, da mesma forma que o isolamento e a quarentena já causaram problemas na velocidade da internet caseira em vários países, várias instituições de saúde nos EUA anunciaram que o elevado volume de solicitações levaram a que os sistemas ficassem sobrecarregados e, em alguns casos, indisponíveis.
Para mim, que testemunho a sede que os empreendedores brasileiros têm de acabar com o atraso tecnológico que existe em relação aos EUA, Europa ou China, é espantoso ver como o CFM consegue manter o Brasil duas décadas atrás de Portugal. Isto poderia levar à discussão dos homens-velhos-heteros-brancos que estão no poder, mas para isso seria necessário que não existissem homens-velhos-heteros-brancos associados a homens e mulheres, brancos ou não, heteros ou não, que se batem diariamente por um Brasil mais avançado. Seria suficiente para conseguir que o CFM abrisse a porta. Mas não.
Foi preciso um vírus. Uma pandemia. Foi preciso que surgisse uma calamidade que afetasse tudo e todos, para que o CFM, dia 19 de Março de 2020, encaminhasse um ofício ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, comunicando a decisão de “reconhecer a possibilidade e a eticidade de uso da telemedicina no País, além do que está estabelecido na Resolução CFM nº 1.643/2002, que continua em vigor. A decisão vale em caráter excepcional e enquanto durar o combate à epidemia de COVID-19”.
A COVID-19 é o pé na porta.
A pandemia é a tal oportunidade que surge da crise. (Tão bonito que isso parece quando uns estão bem e dizem isso do alto do seu bem-estar para quem está desempregado e pega na bike para fazer entregas, ou aluga um carro para “fazer uber”…)
Mas aqui é algo bem mais global. É algo que pode ter impacto significativo. Havia receio de ir contra o CFM, nem todos têm a força da Amil ou do Einstein, ou do grupo Hapvida, que informa que:
“A telemedicina já é utilizada nos atendimentos pela rede própria do Hapvida há sete anos, atendendo a cerca de 8 mil pacientes por mês nesta modalidade. A operadora conta com 24 salas equipadas com sistemas de videoconferência de alta qualidade em som e imagem, equipadas com TVs de 40 polegadas e câmeras que conseguem aumentar em 20 vezes as imagens para facilitar o diagnóstico.Todo o histórico do paciente é anotado no prontuário eletrônico à distância.”
Sete anos! Agora é uma porta que se abre e médicos e instituições de todo o Brasil vão poder colocar o pé e impedir que se feche. Tal como Uber ou 99, que operaram enquanto estados e governo federal falavam em regulamentação, a telemedicina veio para ficar.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem sido exemplar, competente e sensato no meio do desgoverno do governo, fez mais uma vez o que deveria e o Ministério da Saúde publicou no Diário Oficial regulamentando a telemedicina e permitindo a teleconsulta (médico direto ao paciente) durante o período da pandemia, permitindo prescrever e emitir atestados eletronicamente, seguindo as orientações da portaria.
É colocar um pé na porta. Mas, para isso, é preciso que os médicos e profissionais de saúde que usam as ferramentas de telemedicina disponíveis não assumam qualquer comportamento anti-ético ou mercantilista que possa colocar em causa todos os benefícios oferecidos pelo uso da telemedicina. E é preciso que as empresas que desenvolvem ferramentas absorvam os exemplos internacionais para evitar erros de uso, criando códigos de conduta e normas de compliance que ajudem os utilizadores, e que, no caso dos SUS, percebam que é preciso uma rede forte que suporte os milhões de brasileiros que têm direito a usar, para terem atendimento de qualidade, independentemente do local onde se encontram.