Ao longo dos últimos anos, com o poder que as redes sociais foram ganhando, foi possível observar fenómenos das mais distintas dimensões, como a Primavera Árabe ou como um luau na praia entre grupos de amigos. É a organização de eventos na ponta dos dedos.
Mas, todas as maravilhas que conseguimos com a facilidade proporcionada pelas ferramentas digitais são acompanhadas por detalhes que podem gerar resultados negativos.
De memória, consigo recordar um episódio bem simples. Um pedido de ajuda bem simples de um amigo, para marcar um evento de campanha. Acontece que eu estava no Brasil, o evento era em Portugal. Um pequeno detalhe de fuso horário fez com que o evento tivesse sido criado para a hora errada. Felizmente alguém viu, avisou, e alterei de forma rápida. Felizmente, mesmo com várias pessoas confirmadas, ao alterar os detalhes do evento (hora, local…), depois o aviso é atualizado.
Mas, vamos falar de algo bem mais sério?
Em 2017, em conversa com o meu chefe de então, o debate era sobre o alcance das redes sociais e como ele, por um lado, desvalorizava as redes sociais, por outro, ficava extremamente empolgado ou desanimado com os números que eu enviava nos relatórios.
Como eu expliquei na época – e pouco mudou – é óbvio que prefiro ter 100000 pessoas que confirmam presença no evento que organizo, mas as redes sociais valem o que valem. Quantas pessoas clicaram que iriam por terem recebido o convite de uma pessoa amiga? Quantas gostaram do nome? Quantas clicaram por engano? Quantas confirmaram simplesmente por confirmarem tudo? No final, o que importa é o número de inscritos ou o número de pessoas que realmente marcam presença?
Se quisermos analisar números, podemos tirar algumas conclusões:
1. Um evento para 250 pessoas que tem 1000 confirmados ou 5000 confirmados, no final, tem 250 pessoas, no máximo. É importante ter pessoas atentas ao evento, garantir que seguem e querem saber sobre as próximas edições, mas a lotação está lá e, estatisticamente, analisamos e vemos que, no primeiro caso, conseguimos 25% de inscritos, no segundo apenas 12,5% de inscritos. Mas, na hora do evento, em números reais, temos sempre lotação completa e objetivos atingidos.
2. Um evento de nicho, cuja divulgação é erradamente dirigida, vai originar uma ilusão estatística. Falando da minha experiência, quando um cliente quer o seu evento com um público X no local Y, há várias informações que deve considerar.
a) ter um número significativo de pessoas de público não-X do local Y…vale zero.
b) ter um número nulo de pessoas do local Y…vale zero.
c) ter um número significativo de pessoas do público X, de locais que não são Y…é complicado
i. se o local for distante, o interesse e a concretização do interesse podem não casar. Risco de não atingir resultados: grande.
ii. se o local for no estrangeiro, exigir visto, câmbio, viagem, hotel, as variáveis são muitas e o risco de não conseguir resultados é muito grande.
Portanto, ainda que o evento tenha ótimos números online, ainda que gere interesse, ainda que consiga confirmações, ainda que tenha pessoas que confirmam presença por genuinamente quererem estar presentes, na hora H, conta quem se inscreveu e apareceu.
3. Um evento gratuito, em que os inscritos não tiveram qualquer despesa, em que não têm nada a perder se não estiverem presentes, funciona exatamente da mesma forma que a confirmação em redes sociais. Confirmam 1000, aparecem 100. Como avaliar? O que aconteceu? O que temos de alterar? Onde estivemos mal? Provavelmente não será possível saber. O perigo do no-show em eventos grátis é exatamente esse, não existe uma perda para quem se inscreveu e não apareceu.
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