Theranos: como uma startup de biotecnologia desceu do céu ao inferno

Técnica promissora de análise de sangue sem uso de agulha, afinal, não funciona. Investigações da FDA, Medicare e Medicaid já decorrem e Walgreen cessou parceria com laboratório. Mais recentemente o hedge fund de São Francisco, Partner Fund Management LP, processou a Theranos por ter mentido para atrair investidores.

A promessa da Theranos era fazer 250 exames diferentes com uma simples gota de sangue, sem uso de agulhas

Elizabeth Holmes, fundadora da Theranos, anunciou ao mundo que tinha descoberto uma técnica revolucionária que iria reinventar os exames laboratoriais e permitiria realizar mais de 200 exames de sangue com uma gota de sangue apenas. A notícia fez correr muita tinta, por isso, não foi espantoso quando, há um ano atrás, a Theranos valia 9 bilhões de dólares. Isso significava que Holmes, detentora de 50% da empresa, liderava a lista da Forbes das mulheres empreendedoras mais ricas da América. Desde o momento do anúncio até à atualidade, a Theranos tem estado envolvida em diversos escândalos, que levaram um grupo de investidores a reavaliar o valor da empresa, depreciando de 9 bilhões para 800 milhões de dólares.

Os problemas da startup se multiplicam. Holmes adotou a tática de Steve Jobs e tentou liderar a empresa envolvendo-a num manto de secretismo. Se a promessa era de realizar exames sem uso de agulhas e rentabilizando uma gota de sangue que serviria para centenas de diferentes testes, desde câncer a colesterol, a realidade foi bem redutora: pouco mais de uma dezena de resultados foram atingidos. Até a credibilidade desses resultados tem sido amplamente discutida, perante a ausência de publicação de estudos e pesquisa. Após as questões levantadas, a Theranos submeteu à aprovação da Food and Drug Administration (FDA) um teste para herpes, algo que provaria que a tecnologia estaria funcionando. Essa seria a primeira de mais de uma centena de aprovações. O resultado saiu totalmente ao contrário, uma vez que a FDA impôs tantas restrições, que a Theranos foi obrigada a suspender os testes.

A Theranos tem sido acusada de fraude, a própria declaração de que seria apenas uma gota de sangue foi dada como falsa. A tecnologia precisa de apenas 3 pequenos frascos, bem menos que os 6 frascos grandes que normalmente são necessários, ainda assim, mais que uma gota. Apesar da ausência de condenações e apesar de não ter visto revogada a sua licença pela Medicare ou Medicaid, está sob investigação após terem sido detetados erros nos exames de sangue. A maior cadeia de farmácias dos Estados Unidos, a Walgreens, decidiu terminar a ligação à Theranos, o que significou o encerramento de 40 operações, só no estado do Arizona.

Os piores desafios que a Theranos enfrenta agora são a recuperação de sua reputação e as promessas de processos judiciais, quer de pacientes, quer de investidores. O Partner Fund Management LP deu o primeiro passo, mas outros já se perfilam. Elizabeth Holmes afirmou publicamente que acredita que vai conseguir atingir os objetivos que definiu inicialmente. Em caso de falência da empresa, Holmes corre o sério risco de ficar sem um centavo, uma vez que acionistas e investidores serão os primeiros a receber indenizações.

Publicado originalmente no Portal DiagnósticoWeb

John Nosta O Consigliere da Google Health

Biomédico americano, John Nosta, é definido como um influenciador e um dos mais admirados disruptores na saúde digital. A si próprio, prefere ser visto como um consigliere — termo eternizado no filme The Godfather – O Poderoso Chefão. Mas do bem.

John Nosta apresenta-se como business consigliere, alguém em quem se pode confiar e que vai ajudar na evolução de seu pensamento e na condução de sua estratégia de engajamento de mercado

John Nosta é mais um caso de sucesso de 2ª geração, imigração europeia para os EUA. Seus avós emigraram da Europa Oriental, da Romênia e da Polônia, e criaram raízes a meia hora de Manhattan, em Perth Amboy (NJ). Seu pai, John T. Nosta, era engenheiro eletricista e apresentou a seu filho o universo da eletrodinâmica, incutindo nele a curiosidade em saber como as coisas funcionam. Rose Nosta, uma CEO do lar, presidia ao conselho de administração doméstico que geria toda a educação de John e sua irmã Nancy. Nancy, oito anos mais velha que John, se tornou uma pintora expressionista abstrata, professora e líder educacional das belas-artes. A criatividade parece ser algo genético nos Nosta, mas no caso de John teve uma forte influência do pai e da lógica científica que norteava sua profissão.

Nosta também tem um lado de facilitador, de tradutor da ciência, da medicina e do digital. Já Einstein defendia que “você não entende realmente algo, a menos que você consiga explicá-lo para sua avó.” E Nosta tem essa capacidade, ele sabe explicar os temas científicas mais complexos para sua avó. Até mesmo em espanhol, idioma que aprendeu ao lidar com a populosa comunidade porto-riquenha de Perth Amboy.

O sonho de John T. Nosta era que seu filho fosse médico. Aos 16 anos, John frequentou um programa avançado de verão em Harvard, em seguida explorou a área de trauma médico móvel, tornando-se paramédico na sua cidade. Estavam concluídos os alicerces para se concretizar o desejo do pai Nosta e o filho Nosta entrou na Universidade de Boston em uma graduação em biofísica. Em seguida, John passou um ano fazendo pesquisas na Harvard Medical School e foi orientado por vários médicos, incluindo o chefe de cardiologia (naquela época) Thomas Smith. Foi ideia do Dr. Smith que John seguisse um programa de PhD. “Entrei na faculdade para estudar fisiologia. Eu sempre tive um grande interesse em medicina, mas descobri que os meus interesses iam bem além da medicina, em áreas como criatividade, arte, filosofia. E acabei achando a medicina, naquele momento, uma área muito chata, em última análise. Eu tive uma oportunidade fantástica em Harvard de falar com algumas das pessoas mais inteligentes nessa área. Tendo esse luxo, não falávamos sobre detalhes de medicina, mas de questões de geopolítica, de amor, de arte.

Mas John estava interessado em explorar uma realidade mais vasta. Então, deixou Boston e se mudou para Nova Iorque, onde se tornou escritor e pensador. Nosta deixou a investigação médica em fisiologia cardiovascular para desespero de seus pais, mas não sem antes publicar com seus mentores, por exemplo, no American Journal of Cardiology. Isso foi algo que lhe deixou ensinamentos importantes, que acabaram sendo a base para sua apetência pela saúde digital.

“Comecei a trabalhar na indústria de ciências da vida, como pensador criativo e estratégico para grandes farmacêuticas. Esse foi o início da minha transição. Foi aí que ganhei competências que me deram um pouco da experiência real para moldar a forma como olho para o mundo e para a saúde e a medicina, sempre muito próximo da medicina e inovação, mas olhando sob uma perspectiva diferente”, conta John Nosta.

Ele acredita profundamente na simbiose entre o poder da capacidade humana e o poder da tecnologia, em como a aliança entre ambos pode melhorar a nossa saúde. E é com entusiasmo e paixão pela saúde digital que fala com outras pessoas sobre o assunto. Uma paixão reconhecida por seus pares, por pacientes, médicos, indústria farmacêutica, pelas empresas de tecnologia, por analistas e jornalistas. Foi escolhido como um dos Influenciadores de Saúde Digital, em 2015, Defensor de Topo da Revolução Digital de Saúde, Pensador Líder de Saúde Digital, Futurista de Saúde Digital e é assinalado como um dos Influenciadores do Top 25 em Big Pharma. John Sculley, ex-CEO da Apple Computers e Pepsi, afirma que “John Nosta fornece uma perspectiva abrangente sobre o movimento de saúde digital. Com sensibilidades únicas para a ciência, engajamento do consumidor e marketing da marca, ele combina a paixão com conhecimento e oferece mais do que um discurso, ele fornece uma conversa engajada que informa e move sua audiência. O domínio do conhecimento de John da medicina, tecnologia e marketing faz dele um observador atento da saúde digital e um dos poucos capazes de articular claramente a importância deste movimento na história da humanidade”. E Gil Bashe, vice-presidente executivo, diretor de prática de saúde da Makovsky & Company, alinha pelo mesmo discurso e acredita que “John é um pensador talentoso capaz de ver peças do puzzle e visualizar todo o quebra-cabeça em conjunto. John é capaz de ver como os clientes de saúde, a viagem do produto e o sucesso se cruzam. Em um mundo digital de convergência, John é um essencial em qualquer equipe Quando John tem uma ideia, ouça!”.

John diz que tenta entender tendências e dados de uma forma básica e fundamental. Depois tenta interpretar dentro de um contexto social ou clínico ou de saúde digital. E acredita que tudo o que escreve vem de uma perspectiva assente numa base factual. Mesmo as pessoas que leem a Forbes ou que assistem à Bloomberg muitas vezes ainda não possuem conhecimento para compreender uma área nova ou emergente e a sua percepção é superficial. “Acredito que os meus leitores querem um determinado nível de análise e uma voz informada que proporcione uma visão mais profunda. Eu gosto de levar as ideias para locais novos e inesperados. Em saúde, isso acontece fazendo perguntas essenciais, olhando para a natureza da inovação e como essa inovação se encaixa nas necessidades clínicas, sociais e financeiras.”

Aceitou integrar o conselho consultivo da Google Health e conta que as suas expectativas estavam em aberto. “Acho que esperamos sempre surpresas da Google. Na verdade, pessoalmente foi uma oportunidade de me sentar em uma sala com pessoas realmente inteligentes e falar sobre o que está acontecendo no mundo e ter essas pessoas compartilhando sua sabedoria comigo.”

Na opinião de Nosta, as empresas de tecnologias vão facilitar grandes avanços em saúde sem nem saberem. Empresas como Google e Microsoft estão atuando no espaço da saúde por existir uma convergência única de múltiplos fatos. “Primeiro, existe uma necessidade urgente, segundo, existe a oportunidade tecnologica para executar. Em terceiro, existe um sentimento de deslumbramento na sociedade, a tecnologia é parte fundamental das nossas vidas e nós a abraçamos de formas novas e emocionantes. Existe também um imperativo moral que nos leva a fazê-lo. Vivemos num momento em que a oportunidade e a tecnologia estão se encontrando”.

A Ogivly foi sua casa durante dez anos, foi chief strategic officer e chief creative officer, o que era uma combinação singular. Muitas vezes os estrategistas são analíticos e olham para o mundo de uma maneira muito factual, enquanto um criativo é mais eclético, olhando para o mundo com uma visão totalmente diferente. “Para mim foi uma oportunidade excepcional para olhar para o setor de healthcare e filtrar a informação através de um cérebro que está sintonizado numa frequência criativa.” Vê a indústria farmacêutica enquanto indústria que muda as nossas vidas e, literalmente, salva vidas. “É extraordinariamente interessante trabalhar para essa área enquanto criativo, pois é também extraordinariamente regulada. Cada frase que sai desse setor é revista cada vez menos pelos criativos, e cada vez mais pelas pessoas dos departamentos legais e regulatórios.” É um desafio, mas John ri e diz que fazemos as coisas, não por serem fáceis, mas por serem dificeis, por serem aliciantes e por poderem mudar nossas vidas.

Redes sociais

“A pasta dental já saiu do tubo e não volta a entrar”. Na área de saúde algumas pessoas ficam nervosas, pessoas que não acham que os pacientes devam comentar sobre a qualidade do hospital ou sobre a competência clínica de um médico. Nosta crê que a inteligência coletiva dos pacientes é tão ou mais inteligente que a do médico. “Vamos supor que um casal tem um filho com câncer. Esses pais têm um conhecimento extraordinário da condição de saúde do filho, das pesquisas sobre câncer e das questões particulares do câncer do filho. Quando esse conhecimento é compartilhado com outros pais que compartilham quer o poder intelectual, quer a experiencia emocional, o que obtemos é um resultado importante, poderoso e profundo que pode acrescentar algo à intervenção que tradicionalmente seria oferecida pela comunidade farmacêutica e clínica para abordar o problema de saúde. Não é algo trivial, é um aspecto transformativo dos cuidados de saúde.” O paciente já está redefinindo a saúde e a medicina como as conhecemos. E as escolas médicas estão treinando médicos para ser menos intimidadores para os pacientes.

Um importante fator de mudança quando falamos no movimento de saúde digital é a telemedicina. “É, cada vez mais, a primeira linha de defesa”, diz Nosta. Representa a possibilidade de interagir com um médico de forma imediata e rápida aos primeiros sinais de doença ou mal-estar, pode ajudar a colocar o paciente no caminho para uma terapia mais eficiente, mais econômica e mais poderosa clinicamente. “É uma oportunidade para providenciar mudanças disruptivas fundamentais na assistência médica, principalmente em pontos de necessidade urgente, como certos países em desenvolvimento, onde as pessoas não têm qualquer acesso a cuidados de saúde, aí a telemedicina pode proporcionar mudanças fundamentais.”

NostaLab — Os avanços na tecnologia são perturbadores, desafiadores e capacitam um novo “coletivo social” que irá mudar a medicina na sua essência. Por isso, o think tank NostaLab propõe a criação de uma nova sociedade médica. A premissa do NostaLab é empoderar inovação através de pensamento estratégico e crativo eficaz. Nosta usa uma comparação interessante: “Por vezes quando você tem uma grande ideia é como piscar o olho no escuro. Você sabe que está piscando, mas ninguém mais sabe. É importante comunicar as ideias de forma eficaz para criar uma estratégia de mercado. Por exemplo, muitas vezes as pessoas dizem ‘se eu construir, os interessados vão aparecer’. E isso não é verdade. Se você construir um dispositivo ou tecnologia de saúde digital, você precisa engajar uma comunidade própria, seja a comunidade hospitalar, médicos, para obter validação, ou conectar com os consumidores ou pacientes e levar a inovação na direção deles. Não é algo em que tenha que escolher um ou outro, por vezes é uma combinação. E pensamos formas de criar marketing e publicidade para ajudar a comunicar isso da maneira mais eficaz e mais eficiente. Convém lembrar que muitas empresas digitais não têm orçamentos grandes e mesmo as grandes companhias que têm orçamentos maiores limitam os montantes disponíveis para testar essas ideias.

É aqui que surge o NostaLab, um grupo de consultores que ajudam a providenciar pensamento fundamental em torno de inovação de saúde digital e também dão segunda opinião a empresas farmacêuticas, agências de publicidade e firmas de RP, que lhes permitem reavaliar suas linhas de pensamento do ponto de vista de alguém que tem uma visão de quem está por dentro.

Business consigliere — O NostaLab não é um anjo, pois não financia. Nem mesmo é um cupido, pois não causa paixão entre projetos e investidores. Nosta encontrou no filme Godfather (O Poderoso Chefão) a definição mais correta para a sua função. É um business consigliere, alguém em quem se pode confiar e que vai ajudar na evolução de seu pensamento e na condução de sua estratégia de engajamento de mercado.

Nosta quer transformar a saúde digital em uma realidade prática para ele, o setor de saúde necessita de plataformas de colaboração para permitir que os médicos trabalhem em torno de processos como investigação, prática clínica, educação continuada, saúde digital e medicina digital. Mais do que IA, ou inteligência artificial, estamos presenciando, graças à tecnologia, o aparecimento de AI, aumento de inteligência.

Para ser pensador, criativo, filósofo, conselheiro, Nosta analisa o seu papel como paciente que ambiciona uma interação com a medicina que melhore a experiência humana e traga mais valor à vida. A medicina não pode ser apenas um meio de solucionar problemas de saúde. Nosta acredita que o digital tem tudo para tornar completamente diferente a relação do paciente com a medicina. Para melhor.

Publicado no Portal DiagnósticoWeb
Publicado na Revista Diagnóstico

2016: o ano zero para a saúde no Brasil

A crise brasileira avisou que ia chegar em 2013, mas só se instalou em 2015. Comércio e imobiliário foram dois dos setores mais afetados. A Saúde, pela sua demanda constante, não sofreu o mesmo tipo de sequela. E 2016? Como será?

No ano de 2013 já se falava na crise que estava chegando; em 2014, o pior estava por vir, mas o Brasil foi sacudindo como podia, evitando que as previsões do ano anterior se confirmassem. Mas, em 2015, não teve mais volta. A crise bateu à porta e decidiu ficar. 2015 foi também o ano da aprovação da lei que permite investimento estrangeiro no setor da saúde. Interessados não faltam. O dólar em alta favorece fusões e aquisições, mas também levanta ressalvas, pois tem impacto negativo na hora de importar insumos, dispositivos e tecnologia, tudo mais caro e diminuindo o lucro. A falta de acreditação e o nível de maturidade reduzido da gestão das instituições também deixam o capital estrangeiro hesitante.

O sistema de saúde brasileiro continua com falta de médicos e de leitos, a população segue envelhecendo, aumentando o número de pacientes crônicos, prosseguem velhos problemas, a luta entre privado, público e suplementar, o “nós” contra “eles” coloca a nu lacunas de gestão e atrasa o Brasil na corrida pelo melhor modelo de saúde possível.

E 2016 tem tudo para ser um ano de mudança, o ano zero de adoção de novos modelos, tecnologias e mentalidades. Será um ano em que muitos poderão sofrer as consequências darwinianas da sobrevivência dos mais fortes e preparados, mas será também o ano em que se poderão vencer desafios e afinar estratégias que melhorem a gestão das instituições.

As consultorias são uma ajuda preciosa em horas de dificuldade; rara é a instituição que não recorre a esse auxílio especializado. Seguindo essa lógica, a Diagnóstico fez o mesmo e quis avaliar 2015 e projetar 2016 junto com algumas das consultorias de topo mundiais.

A Inflação médica é um parâmetro de elevada relevância destacado por Ernst & Young (EY) e PricewaterhouseCoopers (PwC). Para Eliane Kihara, sócia-líder da consultoria da PwC na área de health, “em março de 2015, ocorreu o maior índice de inflação médica já registrado desde 2007, de 18,24%”, explica, recorrendo a dados do IESS. É possível perceber que o setor está aberto a discussões para analisar maneiras de reverter a situação. Novos modelos de remuneração estão sendo analisados. Sistemas de saúde do mundo todo já tiveram que lidar com a alta inflação do setor, portanto experiências internacionais, como o uso do DRG (metodologia Diagnosis Related Group), têm sido consideradas. O aumento dos custos médico-hospitalares poderá ser contido quando houver um compartilhamento de riscos entre pagadores e prestadores de saúde, pois, no atual modelo, quem demanda os recursos (prestadores) não é quem paga por eles (operadoras).

A diretora de consultoria para o setor de saúde da Ernst & Young, Adriana Gasparian, diz que o ano não foi fácil para todos os setores da economia, incluindo a saúde. “O custo do setor está insustentável, ele está numa linha de tendência, que é uma linha de crescimento, decorrente de uma inflação médica alta, muito acima da inflação normal, decorrente não do aumento de honorários, mas de todos os custos assistenciais. Há um descolamento da inflação habitual que afeta todos os players do mercado, sejam prestadores, pagadores, todos os setores”, sustenta a diretora da EY.

Observamos também uma grande movimentação das empresas. Com o aumento do custo médico, o benefício do colaborador, o do plano de saúde, está ficando insustentável nas empresas, portanto, isso está tendo um impacto grande nas empresas. Antes a gente falava de players e providers, mas hoje em dia a maioria das empresas está muito envolvida nessa cadeia e, por isso, elas estão revendo o modelo de oferecer esse benefício de saúde.

Há o aumento de custo devido ao envelhecimento da população. Temos uma população mais idosa, invertendo a pirâmide. A população mais idosa tem doenças crônicas, fica doente com mais frequência, com coisas mais complexas. Isso impacta no custo médico. A receita das operadoras é muito menor, mesmo os hospitais de excelência estão tentando manter a qualidade com um custo menor, mais controlado. Resumindo, os custos referentes à saúde aumentaram bastante, tornando o ambiente bastante desafiador para todos os envolvidos, incluindo aí as empresas dentro da cadeia.

Já Enrico de Vettori, sócio-líder da Deloitte na área de life sciences e healthcare, divide a análise pela área de life sciences, que engloba indústria farmacêutica, dispositivos médico-hospitalares, medicina diagnóstica e materiais de consumo, e de healthcare, relativa a médicos e prestadores. De acordo com Vettori, “o grande ponto de 2015 é a questão das demissões, na medida em que, sendo 80% dos planos coletivos, foi registrada uma demissão na ordem de 100 pessoas por mês. Considerando colaboradores e família, o impacto global no setor é maior. Em segundo lugar, olhando para o plano de saúde dos funcionários, vemos um movimento importante, algo que até há três ou quatro anos não era alvo de cortes ou retenções ou reduções, passa a ter políticas muito fortes, quer na coparticipação, quer na migração para planos de uma categoria maior para uma categoria menor. Houve uma mudança de comportamento que era regra, pelo menos no que era normal em termos de despesas das empresas com saúde.

Ainda assim, nem tudo é negativo. Vettori refere a legislação que passou a admitir investimento estrangeiro no setor de saúde e as consequências que daí advêm. O capital não chega sozinho, ele traz conhecimento, experiência, exigências, como o próprio desenvolve: “Já existem vários negócios em curso. Isso vai energizar, vai ajudar o setor, com uma priorização do investimento em detrimento de outros setores, passando a ser uma opção no meio de outras escolhas de investimentos setoriais. Diante disso, iremos ver uma consolidação de um setor que ainda é fragmentado, dividido entre indústrias, distribuição, prestadores, operadoras. Esse investimento vem mas traz com ele uma gama de outras empresas, da área de tecnologia, de serviços, outras abordagens, como wellness, não é puramente capital e investidor. A reboque vêm mais benefícios, mas esses são dois grandes vetores, novas tendências, que, sem dúvida, vão ajudar a mexer com a ordem natural do setor”.

Mas 2015 merece uma outra abordagem por parte de Cintia Soares, gerente da KPMG, que define como um ano de muito mais discussões e abertura de questões. Para a gerente da KPMG, a participação de capital estrangeiro no setor levou as empresas, tanto hospitais quanto as demais fornecedoras de serviço em saúde, a discutir o impacto e as mudanças nas instituições que podem surgir desta oportunidade. “Sobretudo no sentido de definir o momento de negociar com um fundo estrangeiro ou reavaliar o modelo de governança”, diz, deixando o aviso para não se esperar algo a curto prazo: “São alterações que beneficiam o setor, não agora, mas daqui a dois ou três anos”.

Saúde: Igual ou diferente dos outros setores?

Especialistas consideram o setor de saúde como um dos que menos sofrem os impactos da crise. A abertura para capital estrangeiro e a desvalorização do real trazem boas perspectivas para o setor na área de aquisições. Porém, avisa Eliane Kihara, isso não significa que esteja totalmente protegido. Para a responsável da PwC, “a saúde suplementar, por exemplo, pode sofrer o impacto da crise atual, pois seu crescimento esteve nos últimos anos diretamente relacionado ao nível de emprego no país. Com o aumento do desemprego, espera-se diminuição no número de beneficiários. Se fizermos uma avaliação retroativa desde junho/2011, março de 2015 foi a primeira vez em que houve diminuição da carteira de beneficiários das operadoras”.

O setor público também sofreu impacto. Foi anunciado em julho um corte orçamentário de aproximadamente R$ 12 bilhões. O subfinanciamento da saúde pública afeta o setor como um todo, já que a maioria dos hospitais do país presta serviços ao SUS. O governo também possui bastante representatividade nas compras de medicamentos, podendo afetar também o setor farmacêutico. Além de, claro, afetar principalmente a população, que terá de lidar com filas de espera mais longas e falta de atendimento.

Vettori indica o exemplo do setor da agricultura brasileira, que descolou bem da crise. Por outro lado, o setor da saúde já está tendo transformações e vai ter uma depuração no sentido de ficarem os maiores, os mais competentes, os mais resilientes, aqueles que olham mais para o longo prazo, que de fato valorizam a qualidade e que têm melhor gestão e governança. O setor foi impulsionado de modo a que agora passa a ter a necessidade de uma requalificação e readequação, de uma atualização, principalmente nos aspectos de gestão, governança, de estrutura, de capital, de gestão financeira do fluxo de caixa. O setor está sendo impactado por tantas variáveis, entre as quais o aparecimento de novos atores, que vieram para a área de saúde, e a vinda desses novos atores veio aumentar o nível de exigência. Em life sciences, o impacto do dólar foi muito forte. De acordo com o responsável da Deloitte, é preciso notar que “em materiais médicos, genéricos e outros insumos, o problema não é o dólar alto ou baixo, é o dólar instável. Isso atrapalha muito o fechamento de câmbio de negócios. E tem ainda a questão regulatória de uma Anvisa que precisa se reinventar, na medida em que é necessário permitir o acesso a novas tecnologias e uma agência reguladora que não esteja com esse foco não dá à população local acesso aos melhores tratamentos possíveis”.

Transformações, mudanças, movimentações. As consultoras parecem estar de acordo e Cintia Soares menciona isso mesmo, falando de um setor de saúde “caracterizado predominantemente em relação a mudanças e movimentações, apostando na redução de custos e melhoria da eficiência operacional”. Embora seja semelhante aos outros setores, para a KPMG não é algo comparativo, uma vez que a saúde tem um nível menor de maturidade em termos de gestão profissional e aplicação de estratégias. Tem havido movimentações de parcerias entre players em relação à governança, está sendo discutido como otimizar esse mercado misto, ou seja, como as instituições podem atender os planos de saúde privados e suplementares, também questões sobre remuneração e empoderamento das lideranças, ou nas palavras de Cintia Soares: “Tudo atrás dos restantes setores”.

Eficiência. Essa é a chave que permite abrir a porta de saída da crise, segundo Kihara. As organizações devem tomar ações de investimentos para buscar eficiência operacional, através de melhoria de gestão e tecnologia. O momento é difícil para se tomar decisões sobre investimentos, porém, quanto mais tempo as organizações esperarem, menor capacidade de reação elas terão para ser mais competitivas num cenário de crise que parece que se manterá por um tempo. O investimento estrangeiro é, para a PwC, precioso, principalmente devido à desvalorização do real. As empresas estrangeiras percebem o país como fonte de oportunidades, e é uma fonte de capital importante para permitir os investimentos necessários para a modernização da gestão.

Já Gasparian acredita que o Brasil sai da crise sem o investimento estrangeiro: “Não é essencial. Precisamos buscar relações saudáveis, isso sim. Aliás, o capital estrangeiro é saudável na medida em que ele não se torne essencialmente especulativo, que nem nos outros setores. Estamos mexendo com um bem essencial à população. Deve haver uma monitorização dos órgãos competentes e lapidando a lei”. Mas essa abertura aos investidores estrangeiros pode ter uma influência muito positiva. “Como esse capital está vindo de países com uma eficiência de processos maior que a nossa, pode ser muito útil na busca e construção desse modelo de relação mais saudável entre os prestadores e os pagadores. Até porque os investidores não colocam o capital em algo ruim, o objetivo não é ajudar o Brasil num momento difícil. O Brasil deve aproveitar a chance dessa entrada de empresas estrangeiras para aprender com essas empresas mais evoluídas”, sustenta a diretora da EY, não sem relembrar as particularidades do Brasil: “É necessário tropicalizar a eficiência dessas empresas, não é possível pegar e aplicar uma cultura, isso não vai dar certo. É preciso considerar o cenário brasileiro, o modelo de saúde e a cultura do Brasil”.

Adriana Gasparian recomenda que o Brasil encontre um modelo de relacionamento novo para a cadeira da saúde. Ela descreve o modelo de saúde como sendo essencialmente paternalista e reativo: “Eu trato a doença, espero o paciente estar doente para tomar alguma atitude. O novo modelo é proativo, atua na prevenção das doenças, ou seja, existe um historial do paciente desde a infância, acompanhando e fazendo um trabalho de prevenção. Outra diferença é o papel do paciente, ele tem que ser mais engajado e mais responsável pela sua saúde. O paciente atual tem uma postura muito passiva sobre a sua saúde”. O novo modelo, além da cultura da relação médico e paciente, deve instituir uma a relação diferente entre operadoras e hospitais: “Hoje estão em lados opostos e eles devem caminhar para a colaboração entre ambos, a troca de informação saudável. Não é necessário interferir na ação um do outro, mas eles têm algo em comum: o paciente”. Nos modelos mais maduros, essa troca de informações existe e só beneficia o próprio sistema como um todo, tornando os custos mais sustentáveis.

KPGM e EY concordam na análise do impacto do financiamento estrangeiro. A questão da lei, para que possa ser aproveitada, implica que as empresas estejam preparadas e para isso elas precisam elevar minimamente o seu patamar de gestão. “A salvação não é o financiamento, as instituições devem seguir um caminho de reestruturação, governança com relação à gestão financeira, trabalhar modelos de colaboração. Cada vez mais deve haver aproximação de grupos e empresas em prol de um único tema, como por exemplo, desenvolvimento de fornecedores, compartilhar com a indústria a custificação e remuneração de consumo de materiais e medicamentos”, refere Cintia Soares. No final do dia, o que dita quanto vai custar a saúde é o consumo de materiais e medicamentos, não dá para sustentar a indústria sem fazer mudanças no sistema. Para a KPMG o mais importante será instituir um modelo colaborativo.

No meio das diversas soluções apontadas para escapar das teias da crise, a tecnologia tem sido uma das mais referidas. A adoção de tecnologias de informação (TI) só por si nada garante, como explica Cláudio Giulliano Alves da Costa, diretor-presidente da Folks. Aliás, quando mal utilizadas, essas ferramentas podem ter um efeito nefasto. Existem quatro benefícios básicos da adoção de TI: qualidade assistencial, segurança do paciente, eficiência operacional e redução de custos. Esses dois últimos é que permitem que o hospital tenha um retorno financeiro melhor, por exemplo, tornando mais rápidas tarefas que consumiam largos minutos ou horas, ganhando também eficiência e produtividade. A redução e controle dos custos é consequência do controle total da cadeia, todas as informações estão no sistema. Isso são resultados que, por vezes mais, por vezes menos mensurados, já acontecem e estão documentados. No entanto, para Cláudio Giulliano, 2016 pode ser cedo demais: “Nem sempre quando se investe em tecnologia os retornos vêm no primeiro ano ou no segundo. Em tempos de crise, qualquer ferramenta tecnológica que aumente a eficiência operacional e controle ou reduza os custos é essencial para sobreviver a esse período turbulento. Pode ser que o retorno desse investimento não aconteça em apenas um ano”. Isso não significa que não existam instituições com resultados no imediato, basta que tenham se antecipado na adoção dessa tecnologia. Os hospitais que plantaram isso ao longo dos últimos três ou quatro anos vão colher os frutos agora em 2016.

América Latina

O universo da América Latina, no que diz respeito à saúde, é altamente heterogêneo e exibe uma diversidade de estágios de desenvolvimento e maturidade, dependendo do país que analisamos. O Brasil deverá seguir modelos de sucesso de seus vizinhos e deverá servir como referência para outros.

Enrico de Vettori não tem dúvidas em afirmar que o setor de saúde brasileiro segue o modelo americano. “O Brasil tem um mercado privado mais pujante que a maioria da América Latina, mas alguns mercados deram soluções mais inteligentes do que o Brasil, começam a existir mais soluções na rede primária, mais integrada, em alguns casos não só com o próprio médico mas com a distribuição de medicamentos”, afirma Vettori, ilustrando com o caso da Fundação Carlos Slim, que começa a trazer a rede de atenção primária no metrô do México, e com o caso da Colômbia, onde já existe wellness de prevenção com um forte ataque às indústrias de alimentação, por causa do açúcar e refrigerantes para crianças. “É um movimento global na América do Sul que busca uma melhor atenção primária. O mercado brasileiro é mais descolado e está mais próximo do que era o mercado norte-americano há uma década ou duas”, conclui.

Já Adriana Gasparian documenta sua visão com sua experiência no Equador. Dentro da América Latina, o Brasil tem o maior valor do PIB envolvido com saúde — 10% — mas está muito aquém dos países desenvolvidos. Existem realidades muito distintas na América Latina, até por existirem outros países que estão em diferentes estágios. Tomando o exemplo do Equador, que tem um modelo de saúde diferente do brasileiro, que não é universal, a população que não tem emprego formal, com baixas condições socioeconômicas, não tem direito a assistência de saúde pública. Eles estão num estágio anterior ao Brasil. Gasparian acredita numa diversidade que assenta num plano comum, que se estende a uma escala planetária: “Cada um tem seu perfil, mas todos eles se encontram numa fase de controle de custos, não apenas na América Latina, mas também os países mais desenvolvidos e mesmo os que são inteiramente custeados pelo governo, com planos de saúde universais”.

“O Brasil pode aprender com os seus vizinhos, tem algumas instituições que são referência na América Latina, mas não temos o melhor modelo de gestão em saúde da América Latina”. As palavras são de Cintia Soares, que remete para a reforma feita na saúde da Colômbia, “principalmente dos modelos operacionais, que é onde o Brasil deve mudar, onde devem ser feitos alguns tipos de reformas ou no mínimo uma aproximação do órgão regulador, a ANS, com o Ministério de Saúde, criando mais sinergias entre os dois modelos de saúde existentes.”

A gerente da KPMG segue para a mesma localização e indica o Equador, país que está tomando o Brasil como modelo de elaboração de processos mais eficientes, de otimização e redução de custos e de atendimento a uma parcela maior da população, dizendo que “o Equador tem deficiências semelhantes, faltam veículos, faltam médicos, faltam enfermeiras, mas o Brasil tem uma maturidade maior”.

Brasil não é uma nova Grécia ou uma nova Argentina

Não serão as vozes mais ouvidas, mas a verdade é que há quem compare o Brasil com a Argentina. Outros dizem que o Brasil é uma repetição da recente situação da Grécia. Os mais pessimistas recuam mesmo até a crise de 2001 na Terra da Prata. Enrico Vettori assegura que “existe uma diferença brutal de uma Argentina ou até mesmo de uma Grécia. O que nós temos é uma crise política que está se abatendo fortemente, interesses pessoais que estão atrapalhando os nossos avanços fiscais, mas iremos avançar até porque esses interesses irão ser compatibilizados de uma maneira ou de outra, caso a classe política não tenha a dignidade, a decência ou a presteza de o fazer, o mercado já está fazendo”. O líder da Deloitte prossegue explicando que não é um caso de dominância fiscal, ou seja, quando o Banco Central perde totalmente a capacidade de política monetária”. Por outro lado, ele acredita que chegou ao fim aquilo que designa como “ciclo do populismo e inconsequência”. O momento agora é de arrumação, de as empresas olharem para dentro, para fazer uma reflexão de gestão e modelo de negócio. A crise pode trazer oportunidades, aqueles que estão menos maduros e confiam no amadorismo, na sorte ou empirismo podem sofrer mais, mas os que estão preparados vão superar. Aliás, ele faz questão de deixar um elogio: “O DNA do empresariado brasileiro resiste bem a isso”.

Para a KPGM, na voz de Cintia Soares, a única comparação que deve ser feita é no sentido de seguir o exemplo da Argentina sob o ponto de vista de assumir uma postura colaborativa da saúde com a indústria de fármacos, mas só nesse sentido. Transitar de um modelo individualista para modelos colaborativos em parceria com a indústria. Eliane Kihara concorda que apenas faz sentido comparar as duas realidades em apenas um detalhe: “As famílias argentinas optaram por trocar seus planos de saúde por outros mais em conta. Nessa linha, acredito que este movimento pode ocorrer aqui, vis-à-vis o impacto de custo de saúde no orçamento familiar bem como as famílias irão procurar opções mais em conta de medicamentos também, alavancando o mercado de genéricos”.

Projeções para 2016

O ano de 2016 não será um ano de crescimento para o setor de saúde brasileiro. Cintia Soares prevê que seja um ano — talvez o primeiro grande ano — em que existirá uma mobilização em massa para reestruturar e, aí sim, alcançar a estabilidade para fazer face às dificuldades econômicas. O motor dessa mobilização será o setor privado: “Não teremos mudança nenhuma no sistema público, por isso essa mobilização terá que vir do setor privado”.

“As perspectivas são muito mais positivas, que a maioria dos demais setores da economia”, nas palavras de Eliane Kihara. A demanda por serviços de saúde se manterá ou aumentará, vis-à-vis aos reflexos do envelhecimento da nossa população. “O grande desafio das organizações será o quão preparadas elas estarão para enfrentar a pressão sobre custos em toda a cadeia da saúde, para ofertar uma proposição de valor adequada para o quanto os seus clientes estão preparados a pagar, num contexto de crise”, sustenta Kihara.

Segundo Enrico de Vettori, 2016 vai ser um ano muito difícil, os índices econômicos não são favoráveis, mas o mercado já passou por uma primeira perda do grau de investimento e está preparado para precificar uma segunda. “Não é um cenário econômico ou político positivo, mas é o final de ciclo democrático e esse final é o lado positivo. Houve um bom aproveitamento da liquidez gerada e da caixa existente, mas acabou”, explica, lançando seu vaticínio: “2016 vai ser um ano melhor que 2015 e vai ser bom para as empresas e empresários, primeiro porque vai ter muitas oportunidades, segundo porque vai fazer com que mergulhem nessas empresas e vão sair mais fortalecidos”.

Adriana Gasparian é mais contundente e repele o pessimismo: “Quem acreditar que 2016 é um ano que já está perdido deve fazer as malas e ir embora do Brasil”. Gasparian define 2016 não como um ano perdido ou difícil, mas como mais desafiador. Vai exigir ser mais criativo, mais colaborativo e mais participativo. Pensando nisso, a saúde brasileira e os players da cadeia da saúde têm que se voltar para um modelo participativo, colaborativo e engajador, que envolva paciente, médico e governança. “A saúde não pode dar o ano como perdido, isso significaria que muita gente morreria”, palavras fortes, seguidas de uma mensagem final de otimismo: “Os grandes players de saúde são afetados pela situação econômica, as empresas que contratam planos de saúde são afetadas, mas o Brasil e a saúde brasileira têm chance”.

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6 dicas para driblar a crise na saúde brasileira

Todos os indicadores levam o Brasil a procurar soluções para o cenário de crise que atravessa e que deverá se agravar. Os diversos setores buscam otimizar recursos e diminuir despesas, criar novos modelos de gestão e equilibrar a contabilidade para encarar a tempestade econômica brasileira.

As instituições de saúde tentam se organizar e procuram quem as possa auxiliar. Antônio Carlos Kronemberger, Diretor Acadêmico e de Soluções Corporativas e EAD do Grupo Ibmec, é co-autor do livro “Marketing em Organizações de Saúde” e dá seis dicas para conseguir driblar a crise numa área responsável por quase 10% do PIB nacional. O setor de saúde no Brasil registra uma inflação anual de 18%, o que traduz uma considerável falha entre custos e preços. Exigem-se soluções, são necessárias para não cair no buraco da crise que parece querer engolir a economia brasileira e levar a saúde e suas instituições junto.

Numa lista de importantes dicas, a luz ao fundo do túnel pode ser surgir através de aprimorar a alocação de recursos humanos ou dotar de mais eficácia o tipo de serviços prestados serão preciosas ajudas na hora de superar os desafios que se avizinham.

1.Olhar com muita atenção o sistema de custeio e entender corretamente o negócio

O objetivo é fim de reduzir o gap entre custos que aumentam mais do que os preços, destruindo valor (a inflação médica este ano está em 18%). O que acontece é que os custos aumentaram muito, em função, em grande parte, da tecnologia ser “dolarizada” e o mercado não consegue absorver esse aumento de custos nos preços. É necessário olhar para dentro e ver de que maneira pode se trabalhar esses custos para reduzir esse gap.

A administração da farmácia, chamada farmácia central, que normalmente tem diversos remédios escolhidos por cada médico, deverá ter um número reduzido de remédios de diferentes marcas de um determinado princípio ativo. Dessa forma o hospital tem maior capacidade de negociação junto do fornecedor, tanto para remédios como para insumos, pedindo maior número de um determinado produto de certa marca.

A dose única é um outro exemplo. Por meio de tecnologia, consegue fazer com que a enfermeira vá uma vez só por dia no apartamento ou quarto do paciente e coloque lá todos os medicamentos daquele dia, com o respectivo horário.

2. Alterar o modelo de pagamento dos prestadores de serviço

Mudando o modelo de pagamento com base em atendimento para pagamento por serviço com sucesso/resolução do problema ou fazendo um mix entre os dois modelos. Hoje em dia, o prestador é pago por atendimento. Através do plano de saúde, o paciente vai no médico ou na fisioterapia e são atendidas quatro pessoas em uma hora, pois é pago por atendimento. Se passar a remunerar isso pelo êxito ou pelo mix entre êxito e atendimento, certamente esse atendimento vai ter uma quantidade menor e melhor. Com isto, melhora a resolutividade como reduz custos. É uma operação que agrega valor para toda a cadeia, para o paciente, para o médico e para a operadora.

3. Montar a solução em função do usuário ou paciente e não focar apenas nos recursos disponíveis.

Atualmente as soluções dos problemas são oferecidas de forma isolada e com foco apenas nos recursos disponíveis, quando, na verdade, deveriam ser de forma integrada, sempre com foco no paciente. Por exemplo, quando você vai no médico com dor de cabeça. O médico diz que a causa é um problema de visão e encaminha para um oculista. Você escolhe um oculista, marca a consulta e o oculista analisa e fala que o problema é na retina. Então você vai para um especialista de retina. O especialista de retina diz que você precisa de uma cirurgia, então você tem que procurar um cirurgião. É necessário focar nos recursos disponíveis. Se você efetivamente no primeiro atendimento já consegue encaminhar diretamente, o resultado vai ser mais rápido, melhor e menos custoso, com uma percepção de valor muito maior.

4. Buscar o equilíbrio entre pessoas, tecnologias e processos.

A partir do diagnóstico correto da necessidade, a solução deve ser oferecida por meio do balanceamento entre pessoas (competências), tecnologias e processos. Se for algo simples como, por exemplo, alguém que quebrou um dedo. É um atendimento relativamente simples, baseado em protocolo de atendimento. A pessoa tem que fazer uma radiografia e engessa o dedo a partir do diagnóstico do médico, é algo bem processual. Nesse caso tem mais processo do que tecnologia. Num segundo caso, você precisa de um diagnóstico mais profundo, vai fazer um exame de imagem tridimensional, algo que requer mais tecnologia. Existe um técnico que opera a máquina, estamos falando de um aparelho que custa centenas de milhares de dólares, operada por uma pessoa com um salário de 2 mil reais. Agora, se você vai para uma cirurgia de alta complexidade, é muito mais na competência da equipe médica do que em tecnologia ou processos. É preciso fazer uma seleção, decidir o que é mais focado em tecnologia, o que necessita mais de processos ou o que requer mais competências.

5. Segmentar o tipo de atendimento.

Esta dica complementa a anterior. O atendimento deve ser segmentado com base no usuário, baixa, média ou alta complexidade, por especialidade ou por outro critério que faça sentido e seja relevante. Se você faz o levantamento do tipo de atendimento, isso permite selecionar naturalmente o tipo de assistência, criar uma otimização e direcionar de forma eficaz o paciente, poupando tempo e recursos.

6. Focar mais na prevenção e promoção de saúde do que nos tratamentos.

Partindo do velho ditado “é melhor prevenir do que remediar”, sai muito mais barato acompanhar o paciente que sofre de pressão alta, estimular para que faça exercício e tenham uma alimentação regrada, do que depois suportar o internamento. Apostar na educação das pessoas para que sigam um estilo de vida saudável e dessa forma não necessitem, por exemplo, de internamento. Olhando para o caso da AMIL, ela percebeu que 5% dos seus segurados correspondia a 35% dos seus custos. Esses 5% correspondiam a doenças crônicas, diabetes, hipertensos, que necessitam ir regularmente ao hospital e requerem tratamentos constantes, então, ela criou um produto que corresponde a um atendimento diferenciado, na sua rede própria e tem uma abordagem preventiva. Essa solução representa uma redução importante nos seus custos.

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‘A tempestade perfeita’ e o engajamento do paciente

O empoderamento dos pacientes através da tecnologia criou uma tempestade perfeita. A expressão é do israelense Ronen Rozenblum, diretor do Brigham and Women’s Hospital e professor de Harvard, que esteve recentemente no Brasil para explicar como o modelo centrado no paciente pode ser implementado no país.

Ronen Rozenblum, diretor do Brigham and Women’s Hospital e professor de Harvard defende que as redes sociais e APPS estão empoderando o paciente

CUIDADOS CENTRADOS NO PACIENTE

Uma das grandes tendências do setor de healthcare mundial é o engajamento do paciente, algo fundamental para aquela que é considerada a lógica do futuro da saúde: os cuidados centrados no paciente. Estados Unidos, Reino Unido e Austrália são, atualmente, os países em que a sua implementação está mais avançada. O Brasil é o alvo seguinte. Tenho uma firme convicção de que o país tem condições para implementar o modelo, basta criar políticas e estabelecer diretrizes para sua aplicação, quer em instituições públicas, quer em instituições privadas.

Mas é necessário, como em qualquer outro país, definir políticas e linhas orientadoras, compreender termos e conceitos de centros de cuidados ao paciente e saber a importância dessa dimensão de qualidade no cuidado, além de compreender o papel dos médicos nesse tipo de centro.

EMPODERAMENTO DO PACIENTE

O envolvimento mais profundo do paciente e dos familiares é uma das alterações fundamentais para atingir melhores resultados e conseguir qualidade superior na prestação de serviços de saúde. O Centro de Cuidados ao Paciente do Brigham and Women’s Hospital serviu de balão de ensaio e conseguimos atingir resultados positivos. Empoderar o paciente e seus familiares se traduziu em melhores resultados clínicos, maior eficiência nos serviços de saúde e, consequentemente, em efeitos positivos na área financeira da instituição.

AUMENTANDO O LUCRO

Atualmente, existem cada vez mais dados baseados em relatórios e estudos que mostram que assistência centrada no paciente tem impacto positivo na qualidade da assistência e segurança. A um nível macro, sabemos que a qualidade assistencial e a assistência centrada no paciente estão associadas a menos casos de negligência médica, menos processos legais, até melhorando a situação econômica da organização. Tudo isso significa melhores resultados financeiros.

É NECESSÁRIO CRIAR UMA CULTURA

Para melhorar a experiência do paciente, primeiro temos que entender que precisamos melhorar a comunicação entre o pessoal clínico e os pacientes. Temos que envolver os pacientes na assistência e os clínicos e os provedores devem ser prestativos e atentos às necessidades, preocupações e expectativas dos pacientes. Se queremos mesmo melhorar a experiência do paciente e incorporar os pacientes, temos que focar nestes fatores.

O nível seguinte é criar uma cultura. Criar uma cultura que suporte assistência centrada no paciente. Isso requer todo um processo e o Brasil tem que percorrer um caminho de paciência. É claro que vai necessitar de um processo, não é algo que mude de um dia para o outro. Leva tempo mudar o paradigma.

DA MODA À PRÁTICA

Os cuidados centrados no paciente são quase uma moda, todos falam nisso, mas a realidade é que a saúde ainda está focada no provedor e não no paciente. Então, o que é necessário alterar? Simples: temos que mudar o estado de espírito dos clínicos.

Segundo estudos realizados por mim e pela minha equipe, a maioria dos médicos e enfermeiros consideram muito importante ter cuidados centrados no paciente e melhorar a experiência do paciente, no entanto, o que também descobrimos foi que apenas 16% dos inquiridos incorporam esse modelo ou tentam melhorar a experiência do paciente. As duas razões que os estudos encontraram são a fraca sensibilização de enfermeiros e médicos e a falta de treinamento. Então, há que procurar formas de aumentar a sensibilização do pessoal clínico e também de o treinar para que saiba como incorporar e incluir os pacientes e melhorar a experiência do paciente.

MAIS PODER PARA O PACIENTE, MENOS PODER PARA O MÉDICO

O que ainda sucede com alguns médicos é o receio da perda de poder. Isso é uma realidade em certos países e certas culturas. Mas a tendência dos cuidados centrados no paciente está se espalhando por todo o globo. Quer os médicos gostem ou não, eles terão que aprender a lidar com essa tendência e aceitar que pacientes e clientes têm cada vez mais poder. Primeiro, porque existe cada vez mais informação disponível na internet ou em apps, e isso vai empoderando os pacientes. Portanto, os médicos têm que estar preparados para essa mudança.

CRIAR POLÍTICAS E NORMAS

Num nível mais elevado, mais voltado para as políticas, países que apoiam assistência centrada no paciente e engagamento do paciente, como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, precisam criar políticas e diretrizes para melhorar experiência do paciente. É claro que alguns médicos estão preocupados com a forma como o paciente está sendo empoderado, mas quando entenderem que ao criarem uma parceria — e eu adoro esta palavra, mais até do que empoderamento -, ao criarem uma verdadeira parceria, estão reforçando a qualidade da assistência e a segurança do paciente. Então, o médico vai ter melhores resultados e vai tornar os processos mais eficientes. No final das contas, os médicos vão entender que tudo isto vai ser melhor para eles. mas temos que olhar para a realidade e reconhecer que esse ponto ainda não foi atingido. Alguns médicos ainda exibem alguma apreensão e nós temos trabalho a fazer para os treinar e lhes levar mais informação. Com mais informação e treinamento conseguiremos chegar lá.

DIFERENTES REALIDADES

A lógica brasileira ainda é bem diferente da norte-americana, onde existe uma obrigatoriedade de recolhimento e tratamento de dados de avaliação dos hospitais por parte dos pacientes, ou da britânica, em que o programa UK NHS Choices se encarrega de recolher as apreciações dos pacientes, mas existem condições para implementar o programa nos hospitais e instituições de saúde nacionais, públicos e privados.

Embora as ferramentas não existam no Brasil, o fenômeno tecnológico da internet, redes sociais e apps está mostrando a força dos consumidores, em geral, e dos pacientes, em particular. Hoje em dia, os consumidores usam sites, redes sociais e apps para descrever e classificar suas experiências com bens e serviços. Revoluções tiveram recentemente início na web, basta relembrar o fenômeno da Primavera Árabe, em 2010, e toda a mobilização feita através de redes sociais. É impensável achar que a saúde vai conseguir escapar desta avalanche digital de avaliação de satisfação e partilha de opiniões dos pacientes. O que o paciente pensa já tem um grande impacto no comportamento e nas decisões das organizações de saúde e terá uma influência ainda maior no futuro.

A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS

Existem resultados contraditórios, de acordo com um estudo que tentou avaliar os efeitos da HIT na satisfação do cliente, por isso posso revelar que estamos realizando um grande estudo para avaliar e classificar apps para iPhone e Android e a generalidade dos smartphones. São mais de quatro mil apps que ajudam os pacientes na gestão da alimentação e nutrição, doenças crônicas, monitoramento do peso, calorias. O que tentamos avaliar é, primeiramente, é a qualidade destes apps. Depois, como existe tanta informação nas redes sociais, mais do que ver qual é positiva e qual é negativa, é ver qual devemos considerar para decidir quais apps devemos baixar. O que tentamos fazer é construir um conjunto de recomendações e orientações sobre uso de redes sociais e apps de forma a garantir que terão uma utilização positiva.

É NECESSÁRIO OUVIR TODOS

As tecnologias de informação e redes sociais são ferramentas fantásticas para o setor de healthcare e para levar o setor para outra dimensão ao envolver ativamente o paciente e empoderando o paciente, mas deveremos ser muito cuidadosos quanto aos apps que recomendamos. Os apps devem ser desenvolvidos tendo em conta o médicos, prestadores e pacientes. Todos devem ser ouvidos no processo de desenvolvimento, mas também no processo de controle de qualidade. É essa a grande falha que ainda hoje está existindo. Precisamos incentivar esse empoderamento do paciente, pois é para ele que os apps são desenvolvidos. Ouvir o paciente leva a que se possa melhorar os resultados, faz com que se possa obter os resultados pretendidos e que se possa identificar e corrigir o que de menos positivo possa estar sendo feito ou possa estar ocorrendo.

AS LIMITAÇÕES DOS APPS

Outra preocupação está ligada ao foco dos apps. A grande questão que existe com a indústria de tecnologia é a limitação dos apps. Falta garantir que eles sejam concebidos para um determinado tipo de paciente. Acontece que, embora os apps sejam criados e desenvolvidos para casos específicos como diabetes ou doenças crônicas, certas condições médicas são normais em pacientes mais idosos ou com menor rendimento. Então aí temos um problema. Sabemos que a internet, redes sociais e apps são usados principalmente por um público mais jovem, mais escolarizado ou com mais poder econômico, portanto é preciso criar formas de fazer chegar a todos os pacientes, de forma universal, as vantagens das tecnologias de informação da saúde. E segurança do paciente inclui segurança dos seus dados médicos, ou seja, garantia da privacidade dos mesmos. É necessário que as empresas de tecnologia garantam que os dados fornecidos pelos pacientes sejam protegidos e impeçam a partilha de dados clínicos sem autorização do paciente. Isso é algo muito particular dos apps mas requer os mesmos cuidados quando falamos da internet e do uso dos portais para consulta de informação pessoal

O INGREDIENTE SECRETO

O envolvimento e empoderamento do paciente é, claramente, uma área-chave para inovação no setor de saúde e na indústria de HIT associada durante a próxima década. Muitos consideram que o envolvimento do paciente é o “ingrediente secreto” para garantir o sucesso futuro e dois cenários se afiguram envolvendo o mercado e as políticas: ou os grandes fornecedores ficam perdidos no meio do furacão de ideias e necessidades e não conseguem dar resposta às pretensões, abrindo o caminho a novas ideias, novas e menores empresas com menores custos associados que criam o que o mercado procura; ou os grandes fornecedores evoluem rápida e responsavelmente, criando plataformas e ferramentas que funcionam e correspondem ao que se pretende delas, cimentando a posição desses grandes grupos que já dominam o mercado.

O QUE FALTA

Para atingir a tempestade perfeita, é imperativo juntar no seu centro todos os stakeholders. Instituições, companhias de tecnologia, médicos, enfermeiros, pacientes, todos têm um papel fundamental na construção desse modelo.

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Michael Volkov “Empresas éticas são mais rentáveis”

Para o ex-promotor federal americano Michael Volkov — uma das vozes mais relevantes dos Estados Unidos quando o assunto é a adoção de políticas de compliance –, as empresas e os indivíduos querem fazer a coisa certa. Trata-se apenas, segundo ele, de se dedicar tempo, recursos e atenção para esta missão.

Estamos num caminho para uma maior “iluminação” das atividades de compliance. E essa será uma jornada incrível

O ex-promotor federal americano Michael Volkov é uma das vozes mais relevantes dos Estados Unidos quando o assunto é a adoção de políticas de compliance em grandes organizações. Depois de 17 anos agindo nos tribunais para incriminar empresas não-éticas, Volkov decidiu ser consultor de empresas interessadas em saber os meandros para se tornar exemplos de obediência à lei. “A cultura de ética deve ser transversal a qualquer tipo de empresa. E a indústria de healthcare não é exceção”, defende o advogado, CEO da Volkov Law. Segundo ele, as empresas e os profissionais de saúde estão cada vez mais na mira das novas políticas do DOJ (Departamento de Justiça Americano), que tornaram a vigilância mais agressiva e as penas mais pesadas.

Amante de viagens, artes e atividades filantrópicas e um ávido jogador de tênis, Volkov aceitou responder às seguintes questões em Julho de 2015.

Começou sua carreira na área jurídica em 1982 e, desde então, muita coisa mudou na política, direito, ética e compliance. O que de mais relevante ocorreu no EUA ao longo desse período?

Michael Volkov — Em 30 anos de carreira, tenho visto mudanças significativas na política, direito, ética e compliance americano. Em primeiro lugar, tem havido um enorme aumento do volume e da natureza das ações penais de empresas e indivíduos por crimes de colarinho branco, incluindo suborno, fraude, Anti-money Laundering — antilavagem de dinheiro, em tradução livre –, e violações antitruste. Os processos criminais substituíram os processos civis como motor principal de execução, dissuasão e prevenção. Em segundo lugar, em resposta a esta tendência significativa, nos últimos dez anos temos visto o risco à crescente importância do compliance como uma função estabelecida de governança corporativa. Com o aumento da responsabilidade penal para executivos e gerentes individuais, as empresas se voltaram para a ética interna e programas de compliance. Profissionais de compliance são, atualmente, os profissionais mais procurados para muitas indústrias, incluindo farmacêuticas, dispositivos médicos, prestadores de serviços — hospitais, por exemplo –, instituições financeiras e empresas de petróleo e gás.

Como sua experiência de ex-procurador federal influencia na sua carreira de advogado?

Volkov — A minha experiência anterior como procurador federal — atualmente estou aposentado — colocou-me em uma posição única. Porém, mesmo conhecendo todas as evidências que um promotor procura e precisa para construir um caso criminal, busco levar para meus clientes a noção de que ser um ator non compliance não compensa. Naturalmente, sou procurado por empresas interessadas em fugir de uma condenação ou simplesmente ter uma pena reduzida em ações da Justiça americana. Ter sido procurador federal, obviamente, me auxilia no domínio da técnica. Afinal, estive do outro lado. Sei como funciona.

Os funcionários de empresas éticas não mais fiéis?

Volkov — Sim e por razões bastante óbvias. Os colaboradores de empresas éticas acreditam na organização e na sua liderança. Eles são mais produtivos e menos propensos a deixar uma empresa que é referência em compliance. Com taxas de rotatividade mais baixas e maior produtividade, empresas éticas são mais propensas a aumentar o desempenho financeiro e a rentabilidade.

Algumas corporações são reincidentes, outras criam seus próprios códigos de compliance, mas, ainda assim, não “praticam o que pregam”. Pode comentar?

Volkov — Você identificou dois dos maiores problemas de compliance em muitas indústrias. Algumas são reincidentes porque sofrem de graves deficiências culturais que geralmente se refletem em forma de infração de suas regras de compliance por parte do conselho, CEO e da alta administração. “Programas de compliance de papel”, que nunca são postos em prática, em alguma medida também têm ligação com deficiências na cultura ética da organização. Ambos os problemas continuam atormentando as empresas — percebo a ocorrência de mais “programas de papel” do que empresas reincidentes em ações non compliance. Mas é preciso dizer que as consequências colaterais para as empresas que violam a lei estão aumentando em todo o mundo e as ações judiciais, por parte de acionistas “lesados”, estão aumentando rapidamente em número e exigências. Como resultado, as empresas estão percebendo que gastar dinheiro em compliance é um bom investimento. Cada vez melhor do que as sérias consequências da execução penal por imposição governamental ou consequências colaterais de litígios entre particulares. Defendo regularmente que empresas comprometidas com as regras de compliance devem começar por criar uma cultura ética em primeiro lugar. Empresas detentoras de princípios morais têm menor incidência de má conduta e são mais propensas a relatar internamente casos de má conduta.

O senhor costuma defender que os CCOs do setor de healthcare precisam ser elevados e fortalecidos. Eles têm o título, mas faltam recursos. O que pode ser feito?

Volkov — Os CCOs do mercado de healthcare têm uma história muito incomum. Há muito tempo, na década de 1990, o governo americano reconheceu a importância de capacitar um CCP (Certified Compliance Professional) independente e separado do departamento jurídico. Eles insistiram em cada acordo que CCO deveria estar separado do departamento jurídico e lhe deveria ser dada maior autoridade fora do departamento jurídico. Infelizmente, na prática, o CCO tornou-se um agente “estagnado”, com autoridade e recursos inadequados. Só agora estamos vendo algumas melhorias no estatuto do CCO em empresas de healthcare. Os conselhos de administração têm estado adormecidos em muitas dessas questões e não conseguiram resolver os problemas de forma proativa. Com um ambiente de aplicação agressivo desse tipo de política, direções de grandes empresas já começaram a abordar esta questão e a exigir melhorias nas funções globais de compliance, incluindo a elevação de CCO a uma nova posição.

Acredita verdadeiramente que o compromisso das direções é o ingrediente que falta para tornar o setor de healthcare mais ético?

Volkov — Sim. Eu vejo muitas palavras “da boca para fora” sobre a importância da ética e do compliance, mas há pouca ação. Os conselhos de administração devem tornar-se mais ativos no exercício da sua supervisão e do seu monitoramento de responsabilidades.

Você definiu as cinco etapas que o DOJ (Departamento de Justiça Americano) está usando para lutar contra fraude de saúde. Poderia explicar como cada uma funciona?

Volkov — Estamos falando de um processo que tem cinco fases: primeiro, focar nos provedores, depois, seguir o dinheiro, usar todas as ferramentas, cobrar dos profissionais, e, finalmente, qualidade da assistência. Atualmente, o DOJ se baseia em um modelo de pay-and-chase (pagamento e caça, em tradução livre) para combate à fraude. Por outras palavras, eles pagam ao provedor, em seguida, investigam o provedor baseado em padrões e montante dos pagamentos, procuram saber se ele ou ela está cometendo uma fraude, e em seguida, procuram/caçam o provedor para processar criminalmente e/ou civilmente para recuperar a verba. O modelo de pay-and-chase, por definição, é ineficiente e malsucedido como enquanto real dissuasor para acabar com a fraude. O DOJ está processando, após o fato consumado, os médicos e outros prestadores de fraude, mas continua perdendo dinheiro na equação; usando o conjunto completo de ferramentas de investigação penal (gravações camufladas, informantes, mandados de busca, etc), e agora trazendo casos criminais e civis por má qualidade do cuidado como um tipo de fraude cometida contra o governo, o que significa que eles estão fornecendo assistência sem a qualidade mínima aos doentes, mas cobrando do paciente/governo por tais serviços. Uma estratégia mais eficaz é uma abordagem proativa. Antes de uma agência seguradora privada ou governamental pública pagar uma conta médica para um provedor, é preciso haver etapas de due diligence (vigilância, em tradução livre) proativas para verificar quem o provedor é, se tem um escritório, se realmente presta serviços, e se legalmente tem direito a receber o dinheiro. Quanto mais dinheiro for gasto em investigações proativas e pré-pagamento, mais frequentemente os pagadores privados e públicos podem identificar potenciais riscos de fraude e evitar a perda de dinheiro.

O senhor escreveu que não podemos olhar para o compliance apenas como um centro de custo — um meio importante para melhorar o desempenho financeiro da organização e reputação de integridade. Reputação custa dinheiro ou atrai o dinheiro?

Volkov — A reputação protege uma empresa por incutir uma visão positiva da empresa nos colaboradores, clientes, fornecedores e vendedores. Em muitos casos, as empresas sofrem mais devido a danos reputacionais do que por encargos financeiros de uma multa. Investir em compliance é uma forma de promover a rentabilidade financeira através da criação de uma cultura ética, e criando uma imagem que a empresa pode apresentar aos stakeholders externos. Isso é importante para promover uma empresa junto dos seus stakeholders e de sua comunidade.

Depois de todos os casos com que lidou desde 1982, tanto com o DOJ quanto como profissional autônomo, consegue ver a luz no fim do túnel? Há esperança para o setor de healthcare?

Volkov — Existe, sem dúvida. Pela primeira vez em nossa história, o compliance é uma parte integrante da nossa estrutura de governança. Há muito trabalho a ser feito, mas estamos no caminho certo. As empresas e os indivíduos querem fazer a coisa certa. Trata-se apenas de se dedicar tempo, recursos e atenção para esta missão. O governo tem muito poder e muitas ferramentas para garantir que isso aconteça, mas toda a aplicação da lei no mundo não pode trazer uma mudança dramática sem o apoio, empenho e engajamento dos órgãos sociais, comunidades, CEOs, executivos e profissionais de compliance. Estamos em um caminho para uma maior “iluminação” das atividades de compliance. E essa será uma jornada incrível.

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Arlen Meyers “Hospitais liderados por médicos são mais lucrativos”

Para o CEO da SoPE — Sociedade de Médicos Empreendedores –, médicos têm cada vez mais a chance de descobrir que aprender a fazer negócios é tão importante quanto se aprofundar na prática clínica.

Arlen Meyers, em São Paulo, 2016

A velha máxima de que o médico é um péssimo empresário não passa de um mito perpetuado por consultorias que, claramente, querem lucrar com essa linha de pensamento. A frase polêmica é do médico americano Arlen Meyers, CEO da SoPE — Society of Physician Entrepreneurs (Sociedade de Médicos Empreendedores, em tradução livre) –, com sede no estado da Connecticut, costa leste americana. Meyers, que continua exercendo a profissão, apesar de dedicar grande parte do seu tempo à consultorias e à docência, defende categoricamente que um sem fim de médicos mundo afora são muito proficientes no exercício do empreendedorismo. “Hospitais liderados por médicos são mais lucrativos e têm melhores resultados financeiros do que aqueles dirigidos por quem não é médico”, garante o dirigente. “O contrário disso é um mito disseminado, em larga medida, por consultorias interessadas em vender seus serviços”. Mas há um aliado nesse processo de “desinformação”, acredita ele: as faculdades de medicina, que formam mal seus estudantes e “enterram cada vez mais a cabeça na areia”, quando assunto é o estímulo ao empreendedorismo. Para Meyers, o “Negócio Saúde” e as novas tecnologias deveriam ser parte da educação de todo estudante de medicina. “É negligente toda faculdade de medicina que não prepara os futuros médicos para as novas ferramentas tecnológicas e para os desafios de gestão na área da medicina”, provoca o docente, para quem as grandes corporações de tecnologia global, a exemplo da Google, Apple e IBM vão ter um peso cada vez mais influente na forma de se fazer a medicina moderna. Mas como será esse futuro médico, misto de aconselhador, detentor da técnica e de um olhar mais “digital”? “Serão profissionais que não irão tratar os pacientes, mas cuidar também de toda a informação fornecida pelos pacientes”, descreve Meyers, em tom professoral. “Esse, aliás, passará a ser um ponto de dados. E o médico, em grande medida, o gestor dessas informações”.

“Encontrei” Meyers na cidade de Denver, bem no coração do Colorado. Às 10h da manhã — horário local –, ele atendeu para falar sobre o futuro da medicina, inovação, tecnologia e empreendedorismo.

Médicos lideram os cinco melhores hospitais dos Estados Unidos, segundo a AAPL (American Association of Physician Liaisons). A expertise clínica conta pontos para o gestor da área da saúde?

Arlen Meyers — Hospitais liderados por médicos são mais lucrativos e têm melhores resultados financeiros do que aqueles dirigidos por quem não é médico. Estamos falando de grandes sistemas hospitalares. Minha experiência diz que entregar aos médicos a missão ou visão do hospital pode ser mais fácil se ele tiver a mentalidade de um líder munido de cultura e entendimento dos detalhes do sistema. É como se um de nós estivesse liderando uma organização depois de já ter estado lá, sabendo como tudo funciona. Parte desse mérito tem a ver, obviamente, com a credibilidade clínica. Fundamentalmente, médicos olham para seus líderes assistenciais por sua credibilidade, mas não fazem o mesmo paralelo na área administrativa.

Existe a ideia de que um médico gestor só pode assumir uma destas funções: ou lidera ou se dedica à assistência. Como quebrar essa linha de pensamento?

Meyers — Em primeiro lugar, é importante definir os termos. Basicamente, estamos falando de médicos que são técnicos e estão na linha da frente tratando pessoas. Em algum momento da carreira, esses profissionais evoluem para a função gerencial, o que os obriga naturalmente a saber otimizar recursos para obter o máximo de eficácia. No passo seguinte, se tornam líderes, conduzindo a visão, direção e inspiração do negócio. O nível acima desse é o do empreendedor, que cria valor e o transfere aos stakeholders. Acho que os médicos têm capacidade plena de seguir essa trajetória. E podem exercer todas as funções concomitantemente ao exercício da medicina. Porém, apenas um número muito reduzido é capaz disso. Quando falamos da evolução ao papel de empreendedor, o número de médicos com essa mentalidade é extremamente limitado, inclusive o de líderes empreendedores. Encontrar um médico que seja líder e tenha mentalidade empreendedora é raríssimo.

Acha que as faculdades de medicina podem contribuir com esse processo?

Meyers — Existe uma lógica segundo a qual todos temos algo que faz parte de nossa natureza e algo que é desenvolvido ao longo da vida. Em parte, ter uma mentalidade empreendedora é um traço de personalidade. Por essa perspectiva, a resposta é não: ou a pessoa tem essas características ou não tem. Por outro lado, alguns indivíduos possuem essas características, só que não completamente desenvolvidas. Para eles, claro, podemos criar um ambiente propício ao desenvolvimento dessas qualidades.

O que dizer aos defensores da tese de que a faculdade de medicina não é lugar de ensinar a fazer negócios?

Meyers — Praticamente nenhuma faculdade de medicina ensina a fazer negócios. Do meu ponto de vista, isso é negligência educacional. O ambiente na área da saúde é tão complexo e mutante que eu não diria que aprender a prática de medicina é mais importante do que aprender sobre o “business da saúde”. Diria que é algo que deveria fazer parte da educação de todo estudante de medicina, mesmo na fase de residência médica. Ao não fazer isso, as faculdades de medicina estão enterrando a cabeça na areia na esperança de que o problema desapareça. Quando muito, a tendência é a de que vá piorar.

Os cursos de medicina precisam diversificar as matérias da grade tradicional ou o ensino de negócios deve ser complementar, tratado na pós-graduação?

Meyers — A maioria dos profissionais do ensino de medicina já reconhece que o sistema não está proporcionando aos alunos as competências de que necessitam para serem bem-sucedidos e cuidarem de suas respectivas comunidades. As pessoas estão tentando entender como redefinir e alterar os programas para dar aos estudantes conhecimentos, competências e habilitações que garantam um aprendizado satisfatório. A meu ver, é necessário incluir saúde digital na grade curricular, assim como as ferramentas de gestão empresarial e empreendedorismo na medicina. Mas não a um extremo em que se desloque o cerne do conhecimento médico científico, que é um requisito indispensável para se cuidar do paciente. No entanto, ignorar totalmente novas vertentes na dinâmica da formação médica é uma irresponsabilidade. Creio que mais estudantes estão chegando à faculdade com a ideia de que não querem exercer a medicina por 40 anos — e alguns sequer querem ser médicos. Se abrirmos o processo de admissão a pessoas que não têm a menor intenção de exercer a medicina e querem um MBA para terem credibilidade clínica, essas pessoas estarão apenas interessadas em criar uma empresa ou montar um negócio na área da saúde. A vida clínica média, isto é, o número de anos em que os médicos exercem a profissão, acredito, será mais curta. Estudantes de medicina saltarão entre diferentes carreiras ou mesmo entre empregos, e mais médicos vão querer clinicar em tempo parcial. O fato é que nós, como academia, não estamos providenciando a plataforma que esses estudantes necessitam para atingir seus objetivos. E precisamos fazer isso, logo. Caso contrário, veremos cada vez mais insatisfação nos médicos, assim como depressão, esgotamento e até suicídio. Nós não estamos nos adaptando às necessidades do mercado.

Há anos existe um consenso de que um executivo hospitalar deve vir do mercado, pois o médico enfatiza demais a excelência técnica e, por isso, abre mão do controle de custos. Concorda com essa visão?

Meyers — Existe um mito de que os médicos são péssimos nos negócios. Isso é absolutamente falso. Em primeiro lugar, é preciso detalhar o que significa ser péssimo para negócios. Seria não saber ganhar dinheiro? O que é um péssimo investidor? Talvez aquele que não saiba como dirigir uma organização. Pessoalmente, lido com diversos médicos que são muito proficientes como empresários. Por isso, acho que existe um mito generalizado de que médicos são péssimos empresários. Isso, de certa forma, é conveniente para os prestadores de serviços que pretendem providenciar aconselhamento financeiro, pois enxergam nesses profissionais um alvo fácil. Discordo absolutamente dessa afirmação, que revela falta de visão. Francamente, considero-a insultuosa.

O que você acha da convivência entre médicos e não-médicos no conselho dos hospitais? É possível conviver com modelos híbridos?

Meyers — Isso é essencial para a bioinovação e o empreendedorismo. Faço parte de diversos comitês consultivos e conselhos de administração, trabalho com pessoal não-médico, técnicos, empresários, engenheiros, e acredito que quanto mais diversificado for o grupo, mais criativo será. Ter um médico no conselho é crucial para dar uma perspectiva clínica ou um melhor entendimento de uma questão clínica, seja em uma diretoria hospitalar ou em uma diretoria de empresa ligada à indústria. Na verdade, muitos dos problemas que estamos vendo na área da saúde digital são consequência de uma falha dos fornecedores, que não envolveram adequadamente os consumidores finais no processo de desenvolvimento dos novos produtos — e isso inclui pacientes e médicos.

O médico Robert Pearl disse em artigo recente que a maioria das startups da área de tecnologia da informação para a saúde tem uma falha embrionária: seus produtos são formados quase sempre por profissionais de informática, com escassa participação de médico, seja como desenvolvedores ou consultores. Por que isso ocorre?

Meyers — Porque essas startups são impulsionadas pelo retorno do investimento, e não pela eficácia clínica. A maioria dos produtos e serviços de saúde digital é criada e desenvolvida fundamentalmente graças a investidores e empreendedores de base tecnológica cujo objetivo é fazer a empresa crescer em escala o mais rapidamente possível. Francamente, eles não estão interessados em segurança dos dados, em segurança de tecnologia da informação para a saúde, e certamente, tampouco em eficácia clínica. A maioria dos produtos criados tem pouco ou nada a ver com o objetivo de trazer melhoria aos pacientes, e sim como ampliar o retorno e gerar cada vez mais lucro.

A entrada de gigantes tecnológicos como Google, Apple e Microsoft continuará a dar o tom sobre o futuro da medicina?

Meyers — Claramente. O futuro dos cuidados em saúde é migrar para tecnologias de interface, como comunicação social e de massa, telecomunicação e Big Data. Tanto a assistência quanto a gestão estão se tornando cada vez mais digitais. Portanto, para todos os efeitos, uma das megatendências é olhar para os pacientes como pontos de dados e para os médicos como gestores de dados. A interface entre ambos serão profissionais de dados e empresas especializadas em adquirir, analisar e distribuir essas informações. Estamos falando de empresas de telecomunicações, de conteúdo, de comunicação social. No futuro, os grandes players do setor de saúde não estarão necessariamente em hospitais, mas em áreas como telecomunicação, aeroespacial, Big Data e tecnologia. Veremos cada vez mais interfaces entre farmacêuticas, dispositivos, prestação de serviços de cuidados de saúde e essas tecnologias. Um exemplo é a Teva, de Israel, que fez um grande investimento em telemedicina. Eles não estão fazendo isso por acharem que é uma boa ideia e sim para expandir seu negócio e por acharem que essa é uma área em crescimento. Será cada vez mais difícil distinguir o que é tecnologia e o que é medicina. Teremos uma fronteira cada vez mais borrada. Acho que, no futuro, as Apples, os Googles e as Samsungs vão liderar a saúde em nível global.

Mesmo com as limitações impostas à telemedicina?

Meyers — Acredito que sim, apesar do desafio ser grande. Afinal, usar essas tecnologias em larga escala depende muito do ecossistema e de restrições regulamentares e legais. Há resistência principalmente com relação a reembolsos, licenciamento, credenciamento, pagamento e, também, com fatores humanos. Existem inúmeras barreiras à adoção e ao uso generalizado da telemedicina nas áreas rurais, por exemplo. Isso não é um problema exclusivo dos Estados Unidos. Países igualmente continentais como Brasil, China e Índia não conseguiram implementar projetos de medicina em larga escala de forma efetiva. O problema, nesse caso específico, está relacionado com infraestrutura, dinheiro, modelo de negócio e restrições regulamentares e legais.

A questão é discutida nos EUA desde o final da década de 50…

Meyers — A primeira patente de telemedicina, e sua primeira aplicação, aconteceu em meados da década de 1920. Ou seja, estamos quase celebrando cem anos da primeira utilização da telemedicina. Mudar qualquer sistema de saúde leva uma eternidade. Na América do Norte, você tem razão, o debate remonda os anos 50. Só muito recentemente, pelo menos nos Estados Unidos, os conselhos estaduais de medicina, legisladores estaduais e as autoridades federais começaram a remover algumas das barreiras para a implementação da telemedicina. Essas questões têm a ver com economia, política e diferenças regionais e culturais. A tecnologia existe há muito tempo e nunca foi o problema. O problema parte das pessoas e dos sistemas políticos e econômicos, que são os verdadeiros obstáculos.

Os médicos devem se adaptar a essas tecnologias ou é a tecnologia que deve ser desenvolvida para os médicos?

Meyers — Acho que deve haver um pouco de ambos. O propósito da tecnologia no setor da saúde é ajudar os médicos a cuidar dos pacientes ou ajudar os pacientes a cuidarem deles mesmos. Portanto, cada tecnologia de saúde deve ser analisada levando-se em conta se ela auxilia o médico a cuidar do paciente com eficácia ou se ajuda o paciente a cuidar de si e mostra resultados favoráveis e comprováveis. Se aplicarmos esse raciocínio às tecnologias disponíveis atualmente, apenas uma parte incrivelmente reduzida realmente cumpre o que se pede, particularmente em saúde digital. Elas simplesmente não ajudam os médicos a cuidar dos pacientes e não permitem obter resultados mais favoráveis.

Que tipo de suporte a SoPE dá aos médicos na organização ou no financiamento para empreender?

Meyers — A SoPE é a maior rede global, sem fins lucrativos, de empreendedorismo e inovação biomédica e em saúde. Nossa missão é ajudar os membros, cuja maioria são médicos, a fazer suas ideias chegarem aos pacientes. Para isso, providenciamos educação, recursos, rede de contatos, mentores, aprendizado experimental e acesso a pessoas com capital para investimento, em um esforço para ajudar a impulsionar suas ideias. Fazemos isso a partir de uma rede internacional e oferecemos suporte a empreendedores para concretizar suas ideias.

E isso inclui também consultoria na área marketing?

Meyers — Sim. O conceito de empreendedorismo médico engloba vários elementos. A área de marketing e vendas — seja de uma entidade, consultório ou outro negócio ou de um produto voltado ao sistema de saúde — está dentro do espectro de competências que ensinamos. Também ligamos nossos membros aos especialistas em cada campo. Nossa vocação é criar plataformas de apoio ao empreendedorismo.

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Publicado no Portal DiagnósticoWeb
Publicado na Revista Diagnóstico
Publicado no site Médicos S/A

Ethical companies are more profitable, says Volkov Law CEO

Former US Attorney Michael Volkov is one of the most prominent voices in the United States when it comes to adopting compliance policies in large organizations. After 17 years in court dealing with unethical companies, Volkov decided to be a consultant to companies interested in knowing the intricacies to become examples of obedience to the law. The culture of ethics must be transversal to any type of company. And the healthcare industry is no exception, advocates Volkov Law’s CEO. He says companies and healthcare professionals are increasingly under the crosshairs of the DOJ’s new policies, with more aggressive surveillance and heavier penalties.

Michael Volkov: We are on a path to greater compliance “enlightenment” — it will be an incredible journey.

Passionate about traveling, arts and philanthropic activities and an avid tennis player, Volkov agreed to answer the following questions in July 2015.

You started your law career in 1982 and since then a lot changed in politics, law, ethics and compliance. What would you say were the main changes?

Michael Volkov — Over the course of my 30 year career, I have seen significant changes in politics, law, ethics and compliance. First, there has been a huge increase the volume and nature of criminal prosecutions of companies and individuals for white collar offenses, including bribery, fraud, AML, and antitrust violations. Criminal prosecution has replaced civil prosecutions as the primary engine of enforcement, deterrence and prevention. Second, in response to this significant trend, the last ten years has seen the risk of the compliance professional and the increasing importance of compliance as an established corporate governance function. With increasing criminal liability for individual executives and managers, companies have turned to internal ethics and compliance programs. Compliance professionals are the most sought after professionals for many industries right now, including pharmaceutical, medical device, service providers (e.g. hospitals), financial institutions, and oil and gas companies.

How does your past experience as federal prosecutor help you nowadays?

MV — My prior experience as a federal prosecutor has put me in a unique position — I am able to work with companies to institute proactive documentation and operational systems to prevent criminal liability for the company and individuals who work at the company. I know what types of evidence a prosecutor looks for and needs to build a criminal case, and I help companies to create systems that generate information to “negate criminal intent.” In other words, I make sure that there is record evidence to show that the company took great efforts to not act like a criminal organization.

You said “ethical companies are more profitable for numerous reasons”. Could you elaborate on that?

MV — I regularly advocate that companies committed to compliance should start with creating an ethical culture first — the best compliance control that a company can create and implement is a culture of ethics and compliance. No compliance system is perfect, and the most effective constraint on possible code and legal violations is a culture of ethics. Companies that have an ethical culture have lower incidents of misconduct and are more likely to report misconduct internally.

On the overall profitability, I have found research studies that show ethical companies are more profitable. This conclusion is fairly obvious — employees are happier at ethical companies because they believe in the organization and its leadership; employees are more productive and less likely to leave an ethical company — with lower turnover rates and higher productivity, companies are more likely to increase financial performance and profitability.

Some companies are repeat offenders, others create their own compliance codes but still they don’t practice what they preach and just use them as “window dressing”. Will that ever change? How?

MV — You have identified two of the biggest compliance problems across many industries — repeat offenders suffer from serious cultural deficiencies which usually reflect a disregard of compliance by the board, the CEO and senior management; and “paper compliance programs” which are those that are on paper but not implemented in practice. Both problems continue to plague companies — I see more paper programs than recidivists. Collateral consequences to companies that violate the law are increasing — shareholder lawsuits are rapidly increasing in number and demands. As a result, companies are realizing that spending money on compliance is a good investment over suffering serious consequence from criminal enforcement by the government and collateral consequences in private litigation.

From a corporate risk perspective, the greatest legal and compliance risk has to be the False Claims Act. Could you explain why?

MV — Companies in the healthcare sector, along with pharmaceutical and medical device companies face serious risks from the False Claims Act. First, the FCA enforcement program has been around for over 150 years; there are huge risks that relators/whistleblowers have in terms of financial rewards to report on companies that are earning revenues from fraud against the government. Second, the penalties are severe for FCA violations — each false claim is trebled (tripled) for damages calculations and can quickly add up. Third, and most significantly, a company cannot challenge the government’s enforcement action because if it loses they can be “excluded” from participating in federal healthcare programs. For most companies, they cannot survive without government reimbursement programs for healthcare services, and they have to settle the case rather than go to trial against the government.

The FCA risk has grown over the last five years as the Justice Department and the Inspector General for Health and Human Services have collected multi-billion dollar recoveries each year against healthcare providers (e.g. hospitals and doctors), and pharmaceutical and medical device companies.

In Brazil we have someting called “delator” which is similar to whistleblower. However, I believe there are some differences. Could you tell us a bit more about the role of the whistleblower? Is it an important role from an ethical point of view?

MV — Whistleblowers/Relators play a critical role in bringing False Claims Act cases. A relator will file a case under seal (meaning non-public) and inform the government of the filing and allegations. The government will review the case, and if they decide to join the whistleblower’s lawsuit, the government wins 99 percent of all of its FCA cases. This mechanism and procedure is the fuel for FCA enforcement and has been increasing each year. Whistleblowers have a financial incentive and are protected legally from retaliation. Companies have to be very careful when interacting with whistleblowers to ensure proper treatment.

You say that “CCOs in the healthcare industry need to be elevated and empowered. They have the title, they lack the resources, and they need to have a message of support sent.” What do board rooms need to do about this?

MV — CCOs in the healthcare industry have a very unusual history. Long ago, in the 1990s, the government recognized the importance of empowering an independent and separate CCP from the legal department. They insisted in every settlement that the CCO be separated and given greater authority outside the legal department. Unfortunately, in practice, the CCO has become a “backwater” player with inadequate authority and resources. Only now are we seeing some improvement in the stature of the CCO in healthcare companies.

Corporate boards have been asleep on many of these issues and have failed to proactively address the problems. With an aggressive enforcement environment, some boards at the larger companies have begun to address this issue and demand improvements in overall compliance functions, including elevating the CCO to a new role.

Do you really think that the lack of board commitment is the missing ingredient in making the healthcare industry more ethical?

MV — Yes, I do. I see “lip service” to the importance of ethics and compliance but there is little follow through on the issue. Corporate boards need to become more active in exercising their oversight and monitoring responsibilities.

Since 2010, in response to scandals and prosecutions in the healthcare sector, companies have had to separate the chief compliance functions from the chief legal officer. With that separation of the CCO and the legal function came a decrease of importance of the CCO. How can the healthcare industry turn CCOs into CCEOs?

MV — With the leadership of corporate boards, the CEO and senior management, healthcare companies have to elevate and empower the CCO function with authority, resources, and accountability for performance.

In 2014, the DOJ and HHS-OIG announced charges against individuals in several cities for Medicare fraud schemes involving approximately $260 million in false billings. Almost a third of those individuals charged were doctors, nurses, and other medical professionals. How would the CCO or the CCEO stop this from happening?

MV- Most of these criminals operate at a level below where compliance officers operate, meaning they work for themselves or small companies without a compliance function. These targeted fraud prosecutions are nothing more than common criminals using the healthcare system to steal money and commit fraud. These cases do not involve larger companies or medical organizations where compliance functions are operating.

You defined the five steps that the DOJ is using to fight healthcare fraud: 1. Focus on Providers, 2. Following the Money, 3. Using All the Tools, 4. Charging Professionals, 5. Quality of Care. Could you explain how each one works?

MV — Right now, DOJ relies on a pay and chase model for fighting fraud. In other words, they pay the provider, then check out the provider based on patterns and amounts of payments, find out he or she is committing fraud, and then seek/chase the provider to prosecute criminally and/or civilly to recover funds. The pay and chase model, by definition, is inefficient and unsuccessful as a real deterrent to stop fraud.

DOJ is prosecuting, after the fact, doctors and other providers for fraud but still losing money in the equation; using the full complement of criminal investigatory tools (undercover recordings, informants, search warrants, etc), and now bringing criminal and civil cases for poor quality of care as a type of fraud committed against the government, meaning that they are not providing minimum quality of care to patients but charging the patient/government for such services.

A more effective strategy is a proactive approach. Before a private insurance or public government agency pays a medical bill to a provider, there needs to be proactive due diligence steps to verify who the provider is, do they have an office, do they really provide services, and are they legally entitled to the money. The more money spent on proactive, pre-payment investigations, the more often private and public payers can identify potential fraud risks and prevent loss of any money.

I don’t know if you heard about the scandal in Brazil with Orthotics & Prosthetics, in 2014. I saw that something similar happened in the US. In 2013 the CMS had failed to stop the illegal practice of paying unlicensed providers for orthotic and prosthetic services provided to Medicare beneficiaries. a) Easy money talks and ethic walks? b) That case shows that we still have no way of learning from other countries’ mistakes or do you think that information doesn’t leave US borders?

MV — Unfortunately, incentives to commit fraud and other criminal acts are not limited by borders — criminals exist in every country and there is nothing to stop them from committing crimes in the healthcare sector. I am not familiar with the Brazil scandal involving Orthotics and Prosthetics, but I am not surprised by financial wrongdoing in this area since it is a high fraud risk area (like hospice and nursing facilities).

You wrote that compliance is not just a cost center, it is an important way to enhance the organization’s financial performance and reputational integrity. Reputation costs money or attracts money?

MV — Reputation protects a company by instilling a positive view of the company in employees, customers, suppliers and vendors — in many cases, companies suffer more from repetitional damage than financial burdens of a fine. Investing in compliance is a way to promote financial profitability by creating an ethical culture, and creating an image that the company can present to external stakeholders. That is important to promote a company with its stakeholders and its community.

“Is this right?” or “Is this legal?”. You wrote this stating that an ethical culture is much more than a compliance culture. But the law is based on moral, on what is right. How did those concepts become so far apart?

MV — I do not accept the premise of your question — what is legally correct is not necessarily what is ethically correct. The law defines legal values. The law does no define ethical values. Usually ethical values are focused on different issues and principles. Compliance with the law does not mean ethical compliance with our values. a Company has to define its ethical principles, usually with specific defined principles.

From all the cases you dealt with since 1982 both with the DOJ and private practice, can you see the light at the end of the tunnel? Is there hope for the healthcare industry?

MV — There is definitely hope for the healthcare industry. For the first time in our history, compliance is an integral part of our governance framework. There is a lot of work to be done but we are on the right path. Companies and individuals want to do the right thing — it is just a matter of dedicating resources and time and attention to this mission. The government has a lot of power and tools to make sure this happens, but all the enforcement in the world cannot bring about a dramatic change without the support, commitment and engagement of corporate boards, communities, CEOs, senior executives and compliance professionals. We are on a path to greater compliance “enlightenment” — it will be an incredible journey.

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Sarfaraz Khan Niazi, Forbes Most Interesting Man Revolutionizing The Health World in 2014

Sarfaraz Khan Niazi is not the typical CEO. Do not expect the traditional picture wearing a tie, suit, arms crossed, in the usual leadership pose. Niazi’personality has the perfect reflection in his image. The mustache, the hats and the suspenders are closely identified with the posture of the man whom Forbes considered “The Most Interesting Man Revolutionizing The Health World” in 2014.

Native of Lucknow, northern India, Niazi is the president of Therapeutic Proteins International (TPI) — a global holding company in the manufacture of recombinant medicines, also known as biosimilars. Considered the newest frontier of the pharmaceutical industry, this market has been causing a furor in the health trade for its disruptive capacity to provide drug solutions at an infinitely lower cost. And Niazi and his companies are the personification of this process. Recently, the businessman, writer and researcher based in Chicago for over ten years, has released a new book, dedicated to his “friend Barack Obama.” He describes his efforts to make medicines affordable for the Affordable Healthcare Act, the “Obamacare.” To that end, he suggests that the US president terminates bioequivalence testing to approve generic drugs. Instead, the government should use orthogonal equivalence testing methods, which would substantially reduce the cost of introducing equivalent drugs. As a result, Niazi argues, this would substantially increase the quality of products on the market. The objective would be to increase access to biological products, which are very expensive and of high complexity, for those who can not afford it.

I had the chance to interview him in November, 2014 and I wrote a profile of him that was published in Portuguese. Here is the original interview.

Forbes called you “The Most Interesting Man Revolutionizing The Health World.” Do you agree that you are a revolutionary or at least have a revolutionary side?

Sarfaraz Niazi — Judgment is in the eye of the beholder. In our own humble way, we all try to make a small change in the world we have come into and want to leave it a better place when we depart. I am doing all I can to achieve this goal. The difference between evolutionary and revolutionary is merely the timescale.

When Forbes considers you the most interesting person in the world of health, do you believe that has a lot to do with your characteristics — poet, writer, teacher, photographer, radio host, inventor, scientist, and your expertise in chemistry, pharmacy and marketing?

SN — To experience the myriad aspects of life proves rejuvenating to me. I have always questioned everything I see because I realized very early in my life that there is no absolute standard to anything, from morality to literature to science and creative art; standards are merely customary. And, with every question that I get answered many more appear. It is almost like being a child exploring the Universe around. I stay a child in my inquiries and find that to be the most satisfying experience. Getting involved with such diverse activities as conducting a radio program that goes out to billions to photography to recombinant manufacturing, I find these diversities challenging but exciting when I am able to switch my roles — otherwise life becomes very boring.

Your books are distributed in developing countries at a lower price because they are “royalty free”. Your goal with the development of biosimilar medicines is to provide medicine like your books, low cost?

SN — Our goal is to expand access to highly complex, very expensive biologics to those that cannot afford them. We believe in providing affordable, high quality options to patients in need around the globe. Charity begins with a charitable heart and we will always give what we can.

It would be logical that the big pharmaceutical see you as “unfair” competition, but some of your investors are linked to pharmaceutical companies as Amneal Pharmaceuticals LLC? Do you think this means (some) labs are interested in producing inexpensive health solutions?

SN — The main driver for the creation of biosimilars and biosimilar regulations in countries is to provide competition to products that have been to date, monopolies. Similar to small molecule drugs expecting competition once patents have expired, biologics will face the same competition. It is not about being unfair but about giving patients alternatives once IP protection runs out. TPI is an independent company founded on that singular goal of helping the world and we shall continue our vigil.

The biosimilars are usually authorized several years after reference biological medicinal product approval, as the reference medicinal product benefits from a period of exclusivity during which the biosimilar medicines can not be allowed. This may delay the benefits that you want to provide?

SN — Just like any follow on pharmaceutical whether generic or biosimilar, a manufacturer has to wait until the patent protection expires to launch. There is a different kind of benefit provided by an innovative new product that a company invests a lot of money in to bring to market and the patent protection those products get reflects that investment.

Niazi: “we all try to make a small change in the world we have come into and want to leave it a better place when we depart. I am doing all I can to achieve this goal.”

What is the difference in production costs between the reference drug, generic and biosimilar? And the sale price to the public?

SN — This will be very depending on the market and company selling the product. In general it takes on average $1–3B to develop a new pharmaceutical, $100–300M to develop a biosimilar and $1M to develop a generic. Pricing in the market will reflect those differences in development costs.

Is the business of Therapeutic Proteins International profitable? It is comparable to a pharmaceutical?

SN — TPI is working on a robust pipeline and expects to launch products in the near future. The business model is totally different from the pharmaceutical product universe; we are making large investment in educating the prescribers and payers of the value of biosimilars.

What about the doctors’ opinion? What feedback have you gotten from doctors regarding your creations?

SN — We have solicited a great amount of feedback from prescribers and users of biologics. Generally, people in the United States are ready for biosimilars and recognize the benefits to patients and to the health care system. Feedback has been very positive. Unlike small molecule drugs where even 70–80% price reduction translates into few dollars, even a small reduction in the cost of biological drugs will make huge total dollar impact. We anticipate that once the doctors are given proper education about the robustness of the regulatory process and a better understanding about the safety of these drugs, the switch to biosimilar drugs will be automatic. As an example, France has, by legislative action made these product interchangeable for new patients. The future market of these products will be driven mainly by the payers.

Besides biosimilars, you have also created a much more economical way to produce drugs, a disposable container that replaces the metal containers. Could you explain the main difference(s) and how it works?

SN — Our process allows for the simultaneous production of numerous products in a relatively small facility with quick scale up. It eliminates the majority of the capital investments needed to develop a more traditional biologic facility. This technology opens a new possibility for the small developers of new drugs including academic institutions, governments and in situations where disaster-related drugs and vaccines are needed to be produced on demand. The key differences between our technology and the standard technology is: completely disposable, no cross-contamination, gentle treatment of living entities to produce a consistent product, extremely cost effective for start up and maintenance, very easy to switchover between batches and highly portable.

Do you believe biosimilars and other inventions that aim to lower the cost of health care would work in most developed countries wishing to reduce their costs with health services?

SN — Absolutely. There is always room for ingenuity and streamlined process in the health care space. To date, developed nations such Europe, Australia, Japan and Canada all have approved biosimilars on market and have been using them safely for years. The issue of affordability remains same for all countries; even in the US, a significant number of patients undergo financial challenges when required to use these products. In the US, a significant cost is paid by the government and billions of dollars of savings are anticipated with biosimilars coming to the US markets.

Do you have any idea of how many people can be benefited if your inventions — biosimilars and the container — are approved?

SN — Currently, biologics realize around $160B in sales globally, representing millions of patients. The potential impact of more accessible biologics is huge and millions and perhaps billions of people around world would be affected. With lowered prices, many more millions will be able benefit from these products who are not currently able to afford them, vastly expanding the market of these products.

And can you imagine how many people have been influenced by your inventions so far?

SN — My inventions always seek to provide practical value and numerous inventions have been put into practical use in various parts of the world. The real use of inventions is when the patents expire so mankind can benefit. A patent simply asserts that the invention is useful, unique and nonobvious. I hope these inventions will find greater use with spin-off devices that will arise including potable water, prevention of hospital-based infections, improved safety of automobiles and very high quality of wines that are affordable as well. The biggest influence I have been able to gather is motivating the young people to be creative, to think different and to challenge everything. And that is more rewarding than any other gain.

I could see by your blog that you are a thinker, so I would like to know what is your opinion about The Affordable Care Act.

SN — The Affordable Care Act was put in place with a similar mission, to allow all patients access to care and to bring down health care costs that are on an unsustainable path. Getting a law passed with that aim is no small feat and TPI is under the impression that patients that need access should get access. That is part of our mission as well.

Related to that, health insurance exchanges are having amazing projections to 2015. As someone concerned with the reduction of health care costs, what would you invent to help people or businesses save on insurance?

SN — Due to the complex nature of the healthcare system in the United States, insurance will also be complex but efforts to make the system more competitive will benefit the people. Additionally, preventative care mandates and the access of preventative care to a wider population has the potential to reduce the burden to the system.

Do you think it is possible to have a free and universal national healthcare system in the US?

SN — There are no free healthcare systems anywhere in the world today. In the U.S. the cost is shared by employers, patients and the government. In other places healthcare is covered by the government but the cost is shouldered by tax payers. Healthcare in the U.S. will stay a mixed system for the foreseeable future. It works very well and with the Affordable Healthcare Act it will become more universal and therefore more affordable.

How do you analyze the future challenges of the health system in developing countries like India or Brazil?

SN — There are challenges with health systems in developing countries. On one had, emerging nations find ways to do more with less. In another the quality of pharmaceuticals and care is not the same as in more developed nations in a lot of instances. To bring up the quality standards while keeping treatments costs affordable will continue to be a challenge going forward. It is unfortunate that some regulatory agencies apply the same quality standards to biological as they do to small molecule drugs and as a result, the damage to patients may be much more severe than otherwise imagined. In my new book, “Biosimilars and Interchangeable Products — from cell lines to commercial launch” that is under printing and the book, “Handbook of Bioequivalence Testing, 2nd Edition” that was released on 29 October 2014, I provide advise to developing countries on how to formulate robust policies to assure quality of biological drugs. This includes advise on using third party evaluators and ongoing surveillance of products produced locally. The regulatory agencies in these countries can develop a safe pathway but that requires a new thinking.

How do you have time to conciliate all the activities in which you engage? (Please tell me if you have invented a way to make your days last more thank 24 hours).

When you have a passion for something, you find ways to do it more efficiently and to find time to engage in those activities for which you are passionate. Actually 24 hours are more than enough. I am 65 years old, I just ran my first marathon (Chicago Marathon) and am looking forward to many years of enjoying life 24/7.

One last question. Your moustache is your trademark, it is even your Twitter profile image. Is there a story behind it?

SN — It did not start as a trademark. When I got married, 40 years ago, my wife told me to keep it and I did. I have enclosed my wedding picture here. Then I began reading Gorky and saw his unruly moustaches and unruly mind — we kind of have a great biosimilarity in our thoughts.

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