WannaCry: conheça o software malicioso que paralisou o NHS

O software malicioso WannaCry atacou o serviço de saúde da Grã-Bretanha e empresas na Espanha, Rússia, Ucrânia e Taiwan, sequestrando dados e exigindo um resgate para liberar. Este tipo de software, de nome ransomware (de ransom: resgate) usa uma vulnerabilidade revelada pela primeira vez ao público devido a documentos que foram vazados relacionados a NSA, com a finalidade de infectar computadores com o sistema Windows e criptografar seu conteúdo, exigindo pagamentos de centenas de dólares em troca da chave para descriptografar arquivos.

Ransomware WannaCry atacou grandes empresas multinacionais de diversos setores

O ataque coordenado conseguiu infectar um grande número de computadores em todo o serviço de saúde britânico em menos de seis horas após ser detectado pela primeira vez por pesquisadores de segurança, o que revela sua capacidade de se espalhar em redes de PC para PC. Hospitais em toda a Inglaterra foram obrigados a desviar pacientes de emergência devido ao WannaCry.

Quando um computador é infectado, o ransomware costuma entrar em contato com um servidor central para obter as informações necessárias para ativá-lo e, em seguida, começa a criptografar arquivos no computador infectado com essas informações. Após criptografar todos os arquivos, ele envia uma mensagem solicitando o pagamento para descriptografar os arquivos — e ameaça destruir as informações se ele não for pago. O efeito dramático é dado frequentemente através de um temporizador.Para evitar este tipo de ataque, é preciso saber como não abrir a porta ao ransomware. A maioria dos ransomware está escondida dentro de documentos do Word, PDFs e outros arquivos normalmente enviados via e-mail, ou através de uma infecção secundária em computadores já afetados por vírus que oferecem uma porta traseira para novos ataques. Basta que um usuário inconscientemente instale este ransomware em seu próprio PC, para que ele tente se espalhar para outros computadores na mesma rede. Para isso, usa uma vulnerabilidade conhecida no sistema operacional Windows, saltando entre PC e PC. Essa fraqueza foi revelada ao mundo como parte de um enorme vazamento de ferramentas de hacking da NSA e fraquezas conhecidas por um grupo anônimo chamado “Shadow Brokers” em abril.

O WannaCry, que afetou a Telefónica na Espanha e o NHS na Grã-Bretanha, é o mesmo software: um pedaço de ransomware. Em menos de quatro horas já tinha infectado computadores apenas em Lancashire, de onde terá se espalhado para toda a rede interna do NHS. O valor pedido é de 300 libras, a ser pago em Bitcoin, para desbloquear o conteúdo dos computadores.

Mas, será que pagar o resgate realmente desbloqueia os arquivos? Talvez. Nem sempre funciona.O ransomware de Cryptolocker que atacou há alguns anos e exigia um resgate em torno de £ 300, terá cumprido a devolução após receber o pagamento, mas, lembram especialistas em cibersegurança, citados pelo The Guardian, “não há garantia de pagamento vai funcionar, porque os cibercriminosos não são exatamente o grupo mais confiável de pessoas”. Além disso, lembram, há a questão ética: pagar o resgate pode fomentar mais crimes. A solução mais prática é efetuar um backup dos arquivos.Por que o NHS está sendo direcionado?

Segundo a imprensa britânica, o NHS foi uma vítima fácil, pois ainda usa Windows XP, um software antigo, que não recebeu atualizações de segurança disponíveis há meia década, sendo esse o motivo para o ataque. Mas, atualmente ataques em provedores de cuidados de saúde em todo o mundo estão em um máximo de todos os tempos. As informações privadas, incluindo registros de saúde, são extremamente valiosas, tornando-se um alvo apetecível dos cibercriminosos.

Publicado originalmente no portal DiagnósticoWeb

Shafi Ahmed wants to put an end to the global shortage of surgeons

The Lancet Commission on Global Surgery released a report in 2015 stating that about five billion people worldwide didn’t have access to safe surgery. Shafi Ahmed is trying to change that. He teaches surgeons around the world either using technology or flying to med schools in different countries.

Shafi Ahmed is known as The Virtual Surgeon

Shafi Ahmed is a laparoscopic colorectal surgeon at The Royal London and St Bartholomew’s Hospitals, a trainer, educator and teacher, innovator, entrepreneur and an evangelist in augmented and virtual reality. A futurist who is the Associate Dean of Bart’s Royal London Hospital, the biggest hospital in western European and one of the oldest hospitals in the world, founded in 1123.

Fun fact: This was the place where Sir Arthur Conan Doyle’s Sherlock Holmes and Dr Watson met for the first time. And if Sherlock had his magnifying glass, Shafi has Google Glass, Google Cardboard, Snapchat Spectacles and is open to try all sorts of headsets that may help him share. Share his knowledge and his experiences.

In 2014, using Google Glass, he removed a liver cancer under the far away eyes of 13,000 students from 113 countries, who were sending Ahmed questions shown on his Glass. He read and replied just by speaking as if they were next to him.

The global shortage mentioned on the 2015 report means that milions of surgeons, anaesthetists and obstetricians will need to be trained over the next decade. Medical Realities, the company Ahmed founded in 2015 together with Steve Dann, launched its platform this week and will enable Ahmed to teach remotely using 360-degree streaming.

Shafi Ahmed accepted my interview request one day after Medical Realities was launched and told me a bit about this project and his future plans.

Yesterday you launched your platform Medical Realities. How much of an accomplishment was it?

Shafi Ahmed — Basically, it’s a major achievement. It disrupts education forever. This is a new way, a new paradigm of learning. What we’ve done with our VR platform is change the way that people might be taught and learn in the future, not just medicine but everything. So, VR and 360 video, people are still figuring out what it means. You take the video, you look around, that’s fine, that’s immersive. You take CGI animation. What we’ve done as a company, we’ve spent 9 months working with 20 developers and clinicians and CGI animators, etc. So, what does the VR mean? Hack and create learning in this environment. We spent ages thinking about the value and the validation of that system. Now we released it, everyone who’s seen it understands where VR can be of benefit. Before yesterday, no one knew where VR was going, there was no content. It’s hardware, it’s a bit of software. So, we’ve created a way that others now can create content that’s going to be valuable. So, I think it’s a big change, a complete change of direction of future learning. It is that big. I went to my team today and congratulated them for changing the whole paradigm of learning.

You also opened the OR to other professionals. Is there someone recording? How does it work?

SA — I have a team and we have a rig above the patient in the OR which we can record. That streams live into any mobile phone device. So, you can watch what’s happening around the operating theatre in real time in a VR headset, live. That’s how it works.

When we think about recording an operation live we think about al the trouble you face around the world with telemedicine and privacy and legal issues. Have you found any and, if so, how did you manage to get past them?

SA — First of all, the hospital I work in, the Royal London Hospital, which is part of Barts Health Trust, they’ve been very supportive. My hospital is the biggest hospital in western Europe. It’s huge. It’s one of the oldest hospitals in the world, a thousand years old. We are taking this institution on a journey in innovation. And what they said to me was, rather than say “no, there are too many issues”, they said “how do we make it work? What do you need to make it work?”. And so, we looked at the ethics, the privacy/confidentiality, we think about the legal framework, and all those things. What we do we innovate and do that at the same time, rather than going one by one thinking how we can make this work. I guess a lot of the questions around privacy and confidentiality and things haven’t really been answered, we are way behind technology, right? We know that. If you ask the right questions, you get the answers. Our patients are really supportive, they give explicit consent to me to do an operation live around the world and stream. They are very supportive and that makes a difference. So the legal framework supports that. As long as you’re open and frank and honest and patients supporting it with explicit consent then there are no issues. When we first started we delayed the operation by 30 seconds, in cases of major catastrophe or complication, but we’ve done so many now they don’t bother, it’s just understanding that the cameras being around you, the team working in environment, just make sure that when we go live the whole thing looks professional and the team’s working well so the public when are watching it think that this is a good learning experience and very professional which is what we’re trying to showcase.

A lot of the operations are on cancer patients. Is there a special reason for choosing oncology?

SA — I’m a cancer specialist, so, my patients have cancer diagnosis. I think cancer is universal, everyone understands cancer around the globe, the treatment is standard and it’s a certain standard around the globe. So, when the patients have cancer and they agree to have an operation shown live that’s a big emotional thing they’re giving, right? Around the world, everyone understands and it captures imagination. It’s just the practice I have, I mean, if I was doing another speciality it would be something else. It just happens I’m a cancer specialist and my patients all have got cancer that require surgery and they support me.

You don’t just take it on a virtual scale where people can watch what you’re doing. You go around the world, you go to several hospitals worldwide and teach this in person…

SA — I do a lot of work around the globe in many countries: Bangladesh, Pakistan, India, Sri Lanka, Egypt, Palestine, the Middle East, Africa, many places. Just show that a lot of my interest is about global education, global health, how do we democratize education, how to scale it up, and how to use these technologies to empower people around the globe, how to make it easier, how to make healthcare more equitable. And how to train not just one surgeon, not two surgeons, but thousands at a time, and share that knowledge.

Your next step is the virtual patient. You really want to operate on a virtual body. How far or close are you to get to that point?

SA — A long way. What we are trying to create first in virtual world is a virtual patient in photo real avatar imaging CGI so it looks realistic in front of you in a virtual environment. Then we have to place all the organs inside and then you’ll be able to operate on that virtual patient. That requires some haptic feedback, to be able to feel, to be able to operate. So, the whole thing would take probably about 2 to 5 years, maybe a couple of years to get in a position where you can do something on a virtual patient.

Your first operation using Google Glass was in 2014. What has changed from that first experience to the latest one?

SA — I guess that first experience was really experimenting with new technologies and it was a test on whether we could do this. It was new, it was a little bit, I guess, unknown. On that day, we taught 14 thousand students across the globe using the Google Glass. Since then obviously AR (Augmented Reality) which is what Google Glass is, has changed to VR (Virtual Reality). VR has come in, it’s new, it’s more different, it’s more immersive. And I think with that experience now of live operating around the globe and teaching, we have a great platform and I guess we have a worldwide recognition. Many things have changed, including people’s understanding acceptance and VR allowing different kind of learn experience. I guess we’ve just moved on and we matured with that experience.

A lot of people in China were watching you from their desktops, some people in other countries were wearing their glasses or smartphones…do you have those numbers?

SA — I’ll tell you the story. What happened was when we were doing the VR operation last April 2016, half hour before the operation we got a phone call from the main broadcasting channel in China saying “we heard about what you’re doing, we love it, we want the feed to give out to 1.2 billion Chinese people. So we thought “what will we do?”. Because we only had a certain bandwidth, we had so much storage capacity in our servers and we said “ok, we’re not sure what’s going to happen but we don’t want to overtake the whole server and crash everything”. So, we increased the volume to 200 thousand but what they did actually they took the feed off our servers up into their servers in China. So we have no idea of how many people tuned in. It may have been hundreds of thousands. We have no idea.

That wasn’t your last broadcasted operation…

SA — No. My last big one was as Snapchat one I did in November using Snapchat Spectacles. That was the last one in terms of global broadcast.

So, you’re trying different platforms. Would you say that you would try all of them or focus on just one?

SA — Google Glass was great when it came out. Great device, live streaming, easy access on your head, light device, very powerful computer, and you can text people on their phone, we can see them when they message on the screen, nice interaction. VR means less interaction for you, interaction for everybody else because they’re immersed in the VR world. It’s high fidelity but low cost with your smartphone, your app and your Google Cardboard. Snapchat was another experiment. If you look at my students around the globe, there’s about 150 million active daily snapchat users. I think it’s the most powerful Augmented Reality platform that’s out there. It’s the biggest one. We don’t think about it as Augmented Reality but it is an Augmented Reality platform in light of its filters and things, right. So, 75% of the users are between the ages of 17 and 25. If you look at my medical students, that’s the age they are. They use these social media. Social media to me is a way of accessing people. Everybody has a free APP on their phone, one click can access millions of people, if you want to. Ease of access, connecting human minds, right? When I used Snapchat Spectacles, Spectacles came out, it allows you to record in 10 second clips, so my view is: can you teach people in 10 second segments? We have to think about what we’re trying to say, record it, push it out in 10 seconds. It’s short, it’s sharp and it makes sense. So, it was an experiment to see whether that would be able to enable people. I thought I don’t want to get global on this one, I’m sure if I use social media I’d be uneasy about how social media might look using this device. We were viewed by 2 million people, it had over 100 thousand downloads on youtube. I’ve met every magazine and newspaper in the world, just based on simple spectacles and a 10 second clip. Time magazine covered it, every magazine around the world, including Cosmopolitan, which is really amazing! Disruptive!

I was watching one of your surgeries on Facebook Live and I’m not a big fan of blood…

SA — You saw that! In Bangladesh. Facebook, remember, has 2 billion active users daily. That’s a third of the population. So, if you want to access human beings and train them and provide knowledge, there you are: one click on Facebook and you access the entire world. That’s what I was trying to show. In Bangladesh I did a Facebook live operation and 10 thousand students tuned in immediately. Straight away! You’re accessing people and teaching around the globe. And that’s the beauty of social media platforms. And I think we’re not using them the right way. You can take pictures of your cat, your dog, your food and your travelling and that’s great. But there’s something more powerful behind that message and it’s about connecting people and sharing your knowledge. You have knowledge, I have knowledge, we want to share the knowledge. So we share with one or two people, we feel empowered, because we are sharing what we’ve learned experience wise. But why not share knowledge with 10 of thousands of people? That has much more impact and to leave a legacy. That’s my view.

More than just educating, you’re allowing families and future patients to watch the surgery. How important is that to someone who is about have surgery or has a loved one being operated on?

SA — One of the things about surgery that is trying to change is to demystify surgery. I know that surgeries are bit secret, you have the mask, you’re in the theatre, no one knows what is going on. There’s a certain amount of mystique about surgery, which we share. I think we keep it like that on purpose so people don’t understand what we do. I think when we do this, be open, be transparent, bring people to the operating theatre, this is what we do, this is who we are, we’re human beings, we help people, the team around you is working. It’s good to showcase that whole side of surgery because people then understand. The story that I share with you is when I did a live virtual reality operation last year, I finished the operation, which was a cancer operation, I came out of the operating theatre, there were lots of news cameras and TV cameras that I had to push away, I get to the other end of corridor and I met the wife and children of the patient I that I had operated on. So I say to them “How did you find it, how did you feel?” and they said “thank you very much Mr Ahmed, we watched the operation live. Thank you.” My jaw dropped, I’m not kidding. I didn’t know what to say. That was the last think I thought I’d hear. So I said “How did you feel? I didn’t realize you were watching it”. And they said something very interesting: “It helped us. Because normally when your loved one goes for an operation, you go away to have a coffee for 3 or 4 hours, you’re pacing up and down, you’re anxious and everything else. On this occasion, we were watching the operation live, we could see what you were doing and we were reassured he was good hands and things were going well. We were happier.” And I didn’t expect that at all in any shape or form. In some way, because we hadn’t asked the question we didn’t get the answers. We assume patients want different things. Just ask the patients: “what would you like? How would you want to be treated? Do you want to watch your operation?” And actually the answers might be more surprising than we’d imagine.

Shafi Ahmed quer acabar com escassez global de cirurgiões

A Comissão do Lancet sobre Cirurgia Global divulgou um relatório em 2015 afirmando que cerca de cinco bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a cirurgia segura. Shafi Ahmed está tentando mudar isso. Ele ensina cirurgiões em todo o mundo usando tecnologia ou se deslocando até escolas de medicina em diferentes países.

Cirurgião do Royal London Hospital lançou plataforma de Realidade Virtual para ensino da medicina, Medical Realities.

Shafi é cirurgião laparoscópico no Royal London and St Bartholomew’s Hospitals, educador e professor, inovador, empreendedor e evangelista de realidade aumentada e virtual (RA e RV). Um futurista que é o decano associado do Bart’s Royal London Hospital, o maior hospital da Europa ocidental e um dos hospitais mais antigos do mundo, fundado em 1123. Curiosidade: foi o lugar onde Sherlock Holmes e Dr. Watson se encontraram pela primeira vez. E se Sherlock tinha sua lupa, Shafi tem Google Glass, Google Cardboard, Snapchat Spectacles e está aberto para tentar todos os tipos de tecnologia que ajudem a compartilhar seu conhecimento e suas experiências.

Em 2014, usando o Google Glass, ele removeu um câncer de fígado sob o olhar distante de 13.000 estudantes de 113 países, que enviavam perguntas a Ahmed e iam surgindo na lente do seu Glass. Ele leu e respondeu no mesmo instante, falando como se estivessem ao lado dele.

A escassez global publicada no relatório de 2015 obriga a que milhões de cirurgiões, anestesistas e obstetras sejam treinados durante a próxima década. Medical Realities, a empresa que Shafi Ahmed fundou em 2015, juntamente com Steve Dann, lançou sua plataforma esta semana e permitirá que Ahmed ensine remotamente usando streaming de 360 graus.

Shafi Ahmed aceitou o meu pedido de entrevista um dia depois do lançamento da plataforma Medical Realities revelou um pouco sobre esse projeto e seus planos futuros.

Ontem você lançou sua plataforma Medical Realities. Qual a importância desta realização?

Shafi Ahmed — Basicamente, é uma grande conquista. Vem mudar a educação para sempre. Esta é uma nova forma, um novo paradigma de aprendizagem. O que fizemos com a nossa plataforma RV é mudar a forma como as pessoas podem ser ensinadas e podem aprender no futuro, não apenas em medicina, mas todas as áreas. As pessoas ainda estão descobrindo o que significa RV e vídeo 360. Você assiste ao vídeo, olha ao redor, é imersivo. Você junta animação CGI. Como uma empresa, passamos 9 meses a trabalhar com 20 desenvolvedores, clínicos e animadores CGI, etc. O que RV significa? Hackear e criar aprendizagem neste ambiente. Passamos muito tempo pensando no valor e na validação desse sistema. Agora que lançamos, todo mundo que viu e entende onde a RV pode ser benéfica. Antes de ontem, ninguém sabia onde a RV ia, não havia nenhum conteúdo. É hardware, é um pouco de software. Criamos uma forma para que outros possam agora criar conteúdo que vai ser valioso. Acho que é uma grande mudança, uma mudança completa de direção da aprendizagem futura. É formidável! Falei com a minha equipe hoje para felicitar cada um por mudar todo o paradigma de aprendizagem.

Como funciona essa transmissão ao vivo?

SA — Tenho uma equipe e nós temos um equipamento montado por cima do paciente no teatro cirúrgico para podemos gravar. Isso transmite ao vivo para qualquer dispositivo ou smartphone. Você pode assistir ao que está acontecendo no teatro de operações em tempo real em dispositivo RV, ao vivo. É assim que funciona.

Quando pensamos em gravar uma operação ao vivo, pensamos nos problemas que, por todo o mundo, se coloca à telemedicina, em termos de privacidade e questões legais. Você encontrou algum e, caso tenha encontrado, como você conseguiu ultrapassar?

SA — Primeiro que tudo, o hospital onde trabalho, o Royal London Hospital, que faz parte do Barts Health Trust, todos têm sido muito solidários. O meu hospital é o maior hospital da Europa Ocidental. É enorme. É um dos hospitais mais antigos do mundo, com mil anos de idade. Estamos levando esta instituição numa viagem em inovação. E, ao invés de dizerem “não, há muitos problemas”, perguntaram “como podemos fazê-lo funcionar? O que você precisa para fazer o trabalho?”. Então, nós olhamos para a ética, a privacidade / confidencialidade, pensamos sobre o quadro legal, e todas essas coisas. O que fazemos é inovar e cuidar da parte ética e legal ao mesmo tempo, ao invés de pensar um a um e questionar como podemos fazer isso funcionar. Acredito que muitas perguntas sobre privacidade e confidencialidade não foram realmente respondidas, estamos muito atrás da tecnologia, certo? Nós sabemos isso. Se você fizer as perguntas certas, você obterá as respostas. Nossos pacientes são realmente solidários, eles dão consentimento explícito para fazer uma operação ao vivo em todo o mundo e para a transmitir. Eles são muito solidários e isso faz a diferença. Assim, o quadro legal suporta isso. Se você é claro, franco, honesto e os pacientes dão consentimento explícito, não há qualquer problema. No início, atrasávamos a operação em 30 segundos para prevenir casos de grandes catástrofes ou complicações, mas já fizemos tantas operações transmitidas, que agora que eles não se incomodam, é apenas uma questão de entender que as câmeras estão ao seu redor e a equipe trabalha no ambiente. Apenas é necessário certifique que, quando começamos a transmissão, tudo deve parecer profissional e a equipe deve estar trabalhando bem, para que público assistindo considere que é uma experiência de aprendizagem boa e muito profissional. É isso que estamos tentando mostrar.

Muitas das operações são sobre pacientes com câncer. Quão grande é isso em oncologia?

SA — Eu sou especialista em câncer, por isso, os meus pacientes têm diagnóstico de câncer. Penso que o câncer é universal, todos entendem o câncer em todo o mundo, o tratamento é padrão. Quando os pacientes têm câncer e concordam em ter uma operação transmitida ao vivo, é algo muito emocional que eles estão dando. Todos percebem isso e é algo que prende a imaginação. Mas, é apenas a minha área, quero dizer, se eu estivesse fazendo outra especialidade, seria outra coisa. Acontece que eu sou especialista em câncer e meus pacientes têm câncer que requer cirurgia e eles são solidários.

Você atua apenas na escala virtual onde as pessoas podem assistir o que você está fazendo. Viaja e vai a vários hospitais em todo o mundo, ensinando pessoalmente…

SA — Levo o meu trabalho até muitos países: Bangladesh, Paquistão, Índia, Sri Lanka, Egito, Palestina, no Oriente Médio, África, vários lugares. Apenas mostra que muito do meu interesse é sobre educação global, saúde global, como democratizar a educação, como ampliá-la e como usar essas tecnologias para capacitar as pessoas ao redor do globo, como tornar mais fácil, como fazer tornar a saúde mais equitativa. E como treinar não apenas um cirurgião, não dois cirurgiões, mas milhares de cada vez, e compartilhar esse conhecimento.

O próximo passo é o paciente virtual. Você realmente quer operar em um corpo virtual, correto? Quão longe ou perto você está para chegar a esse ponto?

SA — Um longo caminho. O que estamos tentando criar, em primeiro lugar, no mundo virtual é um paciente virtual com avatar de real, imagiologia CGI, para parecer realista na sua frente, em ambiente virtual. Depois, é preciso introduzir todos os órgãos, só então você será capaz de operar naquele paciente virtual. Isso exige algum feedback de sensibilidade ao toque, ser capaz de sentir, ser capaz de operar. O processo todo levaria provavelmente cerca de 2 a 5 anos, talvez um par de anos para chegar no ponto em que você pode fazer algo em um paciente virtual.

Sua primeira operação usando Google Glass foi em 2014. O que mudou desde a primeira experiência até à mais recente?

SA — Acho que a primeira experiência foi mesmo experimentar com novas tecnologias e foi um teste sobre se poderíamos fazer isso. Era novo, era talvez um pouco desconhecido. Naquele dia, nós ensinamos 14 mil alunos em todo o mundo usando Google Glass. Desde então RA (Realidade Aumentada), que é o que o Google Glass é, mudou para RV (Realidade Virtual). VR entrou, é novo, é mais diferente, é mais imersiva. E acho que com essa experiência de viver operando e ensinando ao redor do globo, temos uma grande plataforma e acredito que temos reconhecimento mundial. Muitas coisas mudaram, incluindo a aceitação, a compreensão das pessoas, e a RV permite diferentes tipos de experiência de aprendizado. Acho que seguimos em frente e amadurecemos com essa experiência.

Nessa ocasião, muitas pessoas na China estavam assistindo de seus desktops, algumas pessoas em outros países estavam usando seus óculos ou smartphones … você sabe quantas pessoas estavam assistindo?

SA — Vou lhe contar essa história. O que aconteceu foi que, quando estávamos fazendo a operação RV no passado mês de abril de 2016, meia hora antes da operação recebemos uma ligação da maior rede emissora de TV da China dizendo “soubemos do que você está fazendo, nós amamos a ideia, queremos o feed para transmitir para 1,2 bilhão de chineses”. Então nós pensamos “o que vamos fazer?”. Como tínhamos apenas uma certa largura de banda, tínhamos apenas alguma capacidade de armazenamento em nossos servidores e dissemos “ok, não temos certeza do que vai acontecer, mas não queremos sobrecarregar o servidor inteiro e travar tudo”. Então, nós aumentamos o volume para 200 mil, mas o que eles fizeram na verdade foi tirar o feed de nossos servidores para os próprios servidores na China. Portanto, não temos noção de quantas pessoas estavam sintonizadas. Podem ter sido centenas de milhares. Não fazemos ideia.

Essa não foi a sua última operação transmitida …

SA — Não. A última grande foi o Snapchat que eu fiz em novembro usando Snapchat Spectacles. Essa foi o última em termos de transmissão global.

Ou seja, você está tentando diferentes plataformas. Você diria que você vai tentar todas elas ou vai se concentrar em apenas uma?

SA — Google Glass foi ótimo quando saiu. Ótimo dispositivo, transmissão ao vivo, fácil de usar na sua cabeça, dispositivo de luz, computador muito poderoso, e você pode pessoas de texto em seu telefone, podemos ver as mensagem na tela e a interação é agradável. RV significa menos interação para você, interação para todos os outros, porque eles estão imersos no mundo RV. É de alta fidelidade, mas de baixo custo com seu smartphone, seu aplicativo e seu Google Cardboard. Snapchat foi outra experiência. Se você olhar para meus alunos em todo o mundo, há cerca de 150 milhões de usuários Snapchat ativos diariamente. Acho que é a plataforma de Realidade Aumentada mais poderosa que está lá fora. É a maior. Nós não pensamos nisso como Realidade Aumentada, mas é uma plataforma de realidade aumentada. Veja que 75% dos usuários estão entre as idades de 17 e 25 anos. Se você olhar para os meus estudantes de medicina, é a idade deles. Eles usam essas redes sociais. As redes sociais, para mim, são uma maneira de acessar as pessoas. Todo mundo tem um APP gratuito em seu celular, um clique pode acessar milhões de pessoas, se você quiser. Facilidade de acesso, conectando mentes humanas, correto? Quando eu usei Snapchat Spectacles, tinha acabado de ser lançado, permitindo que você grave em clipes de 10 segundos. A minha questão era se dava para ensinar as pessoas em segmentos de 10 segundos. Temos que pensar sobre o que estamos tentando dizer, gravar, e publicar em 10 segundos. É curto, é nítido e faz sentido. Então, foi uma experiência para ver se isso seria capaz de capacitar as pessoas. Apesar de algumas dúvidas quanto ao uso de redes sociais, nós fomos vistos por 2 milhões de pessoas, e tivemos mais de 100 mil downloads no youtube. Recebi todas as revistas e jornais do mundo, apenas com base nos simples Snapchat Spectacles e clipes de 10 segundos. Revistas de todo o mundo cobriram, incluindo a revista Time, até mesmo a Cosmopolitan, o que é realmente incrível! Disruptivo!

SA — Eu estive assistindo a uma de suas cirurgias no Facebook Live e eu não sou um grande fã de sangue …

SA — Você viu isso! No Bangladesh! O Facebook, lembre, tem 2 bilhões de usuários ativos diariamente. Isso é um terço da população mundial. Se você quiser acessar seres humanos, treiná-los e fornecer conhecimento, você está lá: um clique no Facebook e você acessa o mundo inteiro. Isso é o que eu estava tentando mostrar. No Bangladesh, fiz uma operação ao vivo no Facebook e 10 mil alunos sintonizaram imediatamente. Imediatamente! Você está acessando pessoas e ensinando em todo o mundo. E essa é a beleza das plataformas de rede social. E eu acho que não estamos usando da forma correta. Você pode tirar fotos de seu gato, seu cachorro, sua comida e sua viagem e isso é ótimo. Mas há algo mais poderoso por trás dessa mensagem e é sobre conectar pessoas e compartilhar seus conhecimentos. Você tem conhecimento, eu tenho conhecimento, queremos compartilhar esse conhecimento. Então, nós compartilhamos com uma ou duas pessoas, nos sentimos empoderados, por estarmos compartilhando o que aprendemos nessa troca de experiências. Mas por que não compartilhar conhecimento com dezenas de milhares de pessoas? Isso tem muito mais impacto. E deixa um legado. Essa é a minha opinião.

Mais do que apenas educar, você está permitindo que famílias e futuros pacientes assistam à cirurgia. Qual a importância para alguém que vai ter uma cirurgia ou que tem um ente querido sendo operado?

SA — Uma das coisas sobre a cirurgia que estamos tentando mudar é desmistificar a cirurgia. Eu sei que as cirurgias são um pouco secretas, você tem a máscara, você está no teatro de operações, ninguém sabe o que está acontecendo. Há uma certa carga mística sobre a cirurgia, que nós compartilhamos. Eu acho que nós mantemos isso assim de propósito para que as pessoas não entendam o que fazemos. Acho que quando fazemos isso, ser claros, ser transparentes, levar as pessoas para a sala de operações, isso é o que fazemos, isso é quem somos, somos seres humanos, ajudamos as pessoas, a equipe ao seu redor está trabalhando. É bom para mostrar esse todo esse lado da cirurgia, para que as pessoas aí entendam. Há uma história que quero compartilhar com você. Quando fiz uma operação transmitida ao vivo em realidade virtual no ano passado, terminei a operação, que foi uma operação de câncer e saí da sala de operações. Havia muitas câmaras de televisão, que eu fui afastando, até chegar ao outro extremo do corredor. Encontrei a esposa e os filhos do paciente que eu tinha operado. Então eu perguntei como estavam, como se sentiam. E eles responderam “Muito obrigado, Sr. Ahmed, assistimos à operação ao vivo. Obrigado”. Meu queixo caiu. Caiu, não estou brincando. Eu não sabia o que dizer. Era a última coisa que pensava ouvir. Confessei que não imaginava que estivessem assistindo. E a resposta muito interessante. “Isso nos ajudou. Porque normalmente quando seu ente querido vai para uma operação, você vai tomar um café durante 3 ou 4 horas, fica andando inquieto para cima e para baixo, está ansioso e tudo mais. Nesta ocasião, estávamos assistindo a operação ao vivo, podíamos ver o que você estava fazendo e fomos tranquilizados pois ele estava em boas mãos e as coisas estavam indo bem. Estávamos mais felizes”. Eu não esperava isso de forma alguma. Como não fizemos a pergunta, não obtivemos as respostas. Assumimos que os pacientes querem coisas diferentes. Basta perguntar aos pacientes: “o que você gostaria? Como você gostaria de ser tratado? Você quer assistir a sua operação?” E, na verdade, as respostas podem ser mais surpreendentes do que imaginamos.

Publicado originalmente no portal DiagnósticoWeb

Saúde das Coisas: IoT otimiza processos de gestão

Internet das coisas é um conceito muito amplo. Abrange aplicativos, dispositivos, equipamentos e já apresenta soluções que estão otimizando processos de gestão no setor de saúde. Apesar de estar em desenvolvimento em vários países, no Brasil ainda dá os primeiros passos.

No setor de saúde

Está proliferando a quantidade de empresas que atuam na área de internet das coisas (IdC), na parte de plataformas, equipamentos e aplicações. Na área de saúde, lá fora, a grande evolução está principalmente com a parte de monitoramento de equipamentos e pacientes dentro de unidades hospitalares. Douglas Pesavento, CEO da Sensorweb, dá o exemplo dos equipamentos já integrados ao sistema de gestão do hospital, mas afirma que isso é algo que está ainda engatinhando no Brasil. Existem padrões de comunicação hospitalar, como o protocolo HL7, que permite interoperar sistemas na área de saúde — equipamentos, software, banco de dados — e integrar todas as informações. Isso está bem evoluído lá fora, nos EUA, Europa, Japão, e os equipamentos já estão saindo da fábrica com a comunicação embarcada e permitindo integrar ao sistema de gestão dos hospitais.

No Brasil

Alguns hospitais de referência — Albert Einstein, Rede D’Or, Icesp — estão começando agora a colocar isso como requisito de compra. É algo muito recente, em fase muito embrionária. Também a rastreabilidade de medicamentos está padronizada no exterior. Ou seja, temos uma tag associada ao medicamento que me dá todo o movimento dele, como correu e que me permite ativamente saber a localização dele. Essa é a área de IdC que tem crescido mais no Brasil, mas ainda é pouco utilizada, especialmente em ambiente público, que tem muito controle manual de medicamentos. Isso faz com que a perda aumente, seja por vencimento ou por armazenamento em condições não adequadas. Algumas pesquisas apontam que temos 15 a 20% dos medicamentos falsificados, então a rastreabilidade dos medicamentos ajuda nesse tipo de controle também.

Lá fora

Uma área que já tem soluções no estrangeiro é o monitoramento de insumos como líquidos e gases. Monitorar cilindros de hélio e gases especiais para a área de saúde é ainda muito manual. As pessoas têm que se deslocar periodicamente até os locais para ver se é necessário trocar. No estrangeiro isso já tem soluções, já está integrado no sistema de gestão. Quando o nível do gás está crítico, dispara automaticamente um processo de compra. É algo que aqui lemos, mas ainda não se vê na prática.

O controle de dispositivos vestíveis para monitoramento de pacientes traz bastante benefício para os hospitais, o que lá fora é bastante utilizado. As próprias farmacêuticas usam isso para testes de medicamentos, monitorando um paciente que está usando um medicamento em fase de teste, antes da aprovação. Mas isso está em fase de desenvolvimento, especialmente no Brasil, pois é necessário avaliar quais as soluções que têm uma boa relação custo-benefício. A população que tem dependência de alguém, que precisa de cuidados, tem a tendência de crescer e existe uma expectativa de que essa população dependente deve ultrapassar a população dita produtiva, uma meta apontada para 2025, o que abre um leque muito grande de oportunidades para os vestíveis. Uma vez que você monitora o paciente, você pode trabalhar proativamente, verificar se ele está fazendo os exercícios regularmente, se está tendo os cuidados necessários, apoiar na indicação de medicamentos. Ainda é, hoje, muito incipiente.

Investimento

A eficiência da monitorização do paciente tem vindo a se comprovar e existem reais vantagens sobre a internação. Nos EUA e na China existe financiamento público para vestíveis, o Estado está ajudando as pessoas a adquirir esse tipo de equipamento pensando numa qualidade de vida e numa redução de custos do próprio sistema. No Brasil, vemos um aumento dos planos de saúde — atingiu quase 30% em 2015 -, comparativamente com outros países como os Estados Unidos, onde a cobertura engloba quase 90% da população. Dentro dos planos de saúde, existe o interesse em investir no monitoramento dos pacientes, especialmente idosos ou pacientes com problemas críticos. Já estamos comprovando os benefícios disso, evitando ter o paciente internado, reduzindo custo e conseguindo acompanhar o paciente diariamente e proativamente.

No Brasil deveremos ter várias frentes: os planos de saúde que vão disponibilizar isso para determinados perfis de pacientes, como os idosos, o próprio governo fomentando, mas não num curto prazo, e vai ter até o caso de famílias com poder aquisitivo contratando serviço de monitoramento diretamente com as empresas que oferecem esse tipo de serviço. Ainda existe a possibilidade de certos médicos ou as clínicas particulares disponibilizarem esse tipo de solução. Não há clareza quanto às formas como isso irá surgir, mas com toda a certeza não irá surgir de uma única forma.

Segurança de dados

De acordo com artigo do médico escocês Des Spence, no British Medical Journal, os dispositivos vestíveis e apps de saúde são meros adornos comparáveis a brincos e colares. Para o médico de Glasgow, “Estes dispositivos e apps são incertos, os dados recolhidos não são confiáveis e muitos desses instrumentos não foram testados e não são científicos. A humanidade está perdendo tempo monitorando a vida em vez de vivê-la”. A segurança e privacidade dos dados são outras falhas apontadas por Spence.

Douglas Pesavento diz que isso é algo crítico no mundo inteiro, com casos de dados de planos de saúde e de hospitais que foram roubados ou extraviados, recuperados após o pagamento de milhares de dólares. Não há registro de casos de extravio de dados no Brasil, pelo menos na área de saúde. Mas é verdadeiro que há lacunas que vêm sendo corrigidas na infraestrutura de informação e telecom e de transmissão de dados. São coisas que atrasam a evolução da IdC, mas que obrigam a melhorar, tendo em consideração onde e como se guarda a informação, quem tem acesso a essa informação. São pontos críticos, requerem uma estrutura segura e fazem com que se trabalhe para melhorar a segurança dos dados e informações.

2016 é cedo demais

Hoje em dia a IdC para a área da saúde ainda está começando. Temos soluções, temos empresas iniciando nessa área, temos fundos de investimento, o primeiro fundo nasceu recentemente, em 2015, em São Paulo. Tem um tempo de maturação para isso e o próprio panorama do Brasil é complicado. Grande parte do investimento do setor de saúde vem do setor público e é sabido que há uma recessão. O próprio Ministério da Saúde admitiu que a situação está ruim, mas pode piorar, o que faz prever dificuldades na evolução. Na parte privada, com a abertura ao investimento estrangeiro, está tendo muito movimento de fundos estrangeiros querendo investir em hospitais e estruturas, principalmente, o que pode trazer alguma evolução na área privada. O ano de 2016 não será o boom da IdC na saúde brasileira, mas será um ano de validação, é o ano em que poderemos validar a viabilidade financeira e vai permitir testar essas tecnologias e ter mais contato com isso, se familiarizar com esse tipo de solução, criar uma segurança na hora de apostar na tecnologia de IdC. Isso é algo que a Sensorweb percebe de forma intima, um processo pelo qual passou e passa na hora de demonstrar para o cliente o quanto a solução é eficaz, qual o retorno do investimento que ele faz. Na área de saúde, é necessário provar por A+B que vai haver ganhos com a aposta em IdC. Hoje em dia, isso é algo possível de fazer com base em clientes existentes, apresentando históricos, o que se conseguiu evitar de perdas, como foi possível tornar os processos mais eficientes, o que agregou de valor em termos de qualidade e segurança de paciente.

Uma segunda opinião

Roberto Cruz, CEO da Pixeon, falou recentemente sobre como a internet das coisas pode ser um dos novos pilares da saúde. Internet das coisas (IdC) ou internet of things (IoT) é a comunicação entre “produtos do cotidiano” e a internet de forma a proporcionar ao usuário maior conforto e praticidade na hora de planejar atividades que dependam de alguma tecnologia. Dispositivos que lançam alertas, equipamentos programados para realizar uma determinada ação em determinado horário e com uma determinada periodicidade, ou os já famosos aparelhos para monitoramento e os dispositivos vestíveis. Mas existem aplicações mais complexas de IdC, algo que seria mais futurista, como dispositivos subdérmicos colocados no paciente para monitorar os níveis de açúcar ou sensores ingeríveis, que controlam os efeitos de um medicamento. A internet das coisas pode proporcionar um conjunto de vantagens, que vão da área clínica à área financeira, reduzindo custos e aumentando a qualidade da assistência, diminuindo as perdas e os erros e majorando a eficácia dos tratamentos.

Cases de sucesso (Sensorweb)

O Brasil está ainda (en)gatinhando no que diz respeito à internet das coisas, no entanto, existem casos práticos dos pequenos avanços que vão já se registrando. A Sensorweb apresentou alguns desses casos que já são uma realidade no setor de saúde brasileiro.

SÃO PAULO — ICESP

O Icesp possui mais de 100 equipamentos monitorados, distribuídos em 27 andares. Antes da Sensorweb, os registros principalmente fora do horário comercial (noite, feriados, fins de semana) eram feitos pelos técnicos a cada quatro horas, ou seja, nem terminava de anotar as informações já tinham que recomeçar para dar conta. Ou seja, nestes horários alocavam praticamente uma pessoa dedicada a isso. Além da questão de tempo e de pessoas, o processo manual não garantia a confiabilidade necessária, ou seja, após a implantação do Sensorweb, os dados históricos de monitoramento e alertas no momento exato permitiram à equipe de manutenção trabalhar proativamente nestes problemas e conseguir evitar perdas. Os alertas e informações gráficas permitiram também fazer uma manutenção preditiva de equipamentos, o que não acontecia anteriormente, pois os registros eram pontuais de quatro em quatro horas, não permitindo identificar problemas ou falhas nos equipamentos.

Hemorrede de Santa Catarina — HEMOSC

São monitorados mais de 400 equipamentos em 23 unidades do Hemosc. Antes da Sensorweb, era necessário deslocar pessoas durante fins de semana, feriados e à noite para as unidades a fim de realizar o registro da temperatura a cada quatro horas, conforme legislação. Também havia alocação de pessoas por 24 horas em algumas unidades mais críticas, para realizar este registro. Além de reduzir estes custos, o sistema permitiu monitorar o sistema constantemente em tempo real e não somente a cada quatro horas, trazendo inúmeros benefícios, como a verificação de problemas em equipamentos, disparo de alertas no momento do problema e maior confiabilidade com a automação do registro. Também contribuiu para a conquista da certificação internacional da AABB (Associação Americana de Bancos de Sangue).

Institutos de Pesquisa

Em instituições de pesquisa, onde são armazenados materiais com vários anos de estudo ou com vários anos de armazenamento, os equipamentos monitorados possuem valores muitas vezes inestimáveis, devido ao grande esforço de equipe, tempo de estudo e materiais utilizados. Em dois casos a Sensorweb foi efetiva no monitoramento, enviando os alarmes nos momentos críticos em que os ultrafreezers de armazenamento ficaram inoperantes, permitindo aos responsáveis tomar as devidas ações e não perder o material destes equipamentos. Em outros dois registros de fatos, que aconteceram no Instituto Carlos Chagas da Fiocruz em Curitiba e também no Centro de Desenvolvimento Científico (CDCT) vinculado ao Governo do RS, a perda evitada foi superior ao investimento na solução de IdC.

Resumindo os ganhos

  • Redução na frequência de falhas nos equipamentos, pois a atuação em alarmes permite antecipar algumas quebras;
  • Redução do risco de perda de produtos, com casos reais em que foram evitadas estas perdas;
  • Verificação de problemas dos freezers através dos gráficos e alertas que o sistema possibilita;
  • Melhoria na logística de manutenção, permitindo uma vez identificar equipamentos com problemas, planejar melhor sua manutenção;
  • Redução no tempo gasto com as atividades de registro e verificação manuais;
  • Registo em tempo real, o que permite correção imediata de eventuais anomalias.

Publicado no LinkedIn
Publicado no Portal DiagnósticoWeb
Publicado na Revista Diagnóstico

2016: o ano zero para a saúde no Brasil

A crise brasileira avisou que ia chegar em 2013, mas só se instalou em 2015. Comércio e imobiliário foram dois dos setores mais afetados. A Saúde, pela sua demanda constante, não sofreu o mesmo tipo de sequela. E 2016? Como será?

No ano de 2013 já se falava na crise que estava chegando; em 2014, o pior estava por vir, mas o Brasil foi sacudindo como podia, evitando que as previsões do ano anterior se confirmassem. Mas, em 2015, não teve mais volta. A crise bateu à porta e decidiu ficar. 2015 foi também o ano da aprovação da lei que permite investimento estrangeiro no setor da saúde. Interessados não faltam. O dólar em alta favorece fusões e aquisições, mas também levanta ressalvas, pois tem impacto negativo na hora de importar insumos, dispositivos e tecnologia, tudo mais caro e diminuindo o lucro. A falta de acreditação e o nível de maturidade reduzido da gestão das instituições também deixam o capital estrangeiro hesitante.

O sistema de saúde brasileiro continua com falta de médicos e de leitos, a população segue envelhecendo, aumentando o número de pacientes crônicos, prosseguem velhos problemas, a luta entre privado, público e suplementar, o “nós” contra “eles” coloca a nu lacunas de gestão e atrasa o Brasil na corrida pelo melhor modelo de saúde possível.

E 2016 tem tudo para ser um ano de mudança, o ano zero de adoção de novos modelos, tecnologias e mentalidades. Será um ano em que muitos poderão sofrer as consequências darwinianas da sobrevivência dos mais fortes e preparados, mas será também o ano em que se poderão vencer desafios e afinar estratégias que melhorem a gestão das instituições.

As consultorias são uma ajuda preciosa em horas de dificuldade; rara é a instituição que não recorre a esse auxílio especializado. Seguindo essa lógica, a Diagnóstico fez o mesmo e quis avaliar 2015 e projetar 2016 junto com algumas das consultorias de topo mundiais.

A Inflação médica é um parâmetro de elevada relevância destacado por Ernst & Young (EY) e PricewaterhouseCoopers (PwC). Para Eliane Kihara, sócia-líder da consultoria da PwC na área de health, “em março de 2015, ocorreu o maior índice de inflação médica já registrado desde 2007, de 18,24%”, explica, recorrendo a dados do IESS. É possível perceber que o setor está aberto a discussões para analisar maneiras de reverter a situação. Novos modelos de remuneração estão sendo analisados. Sistemas de saúde do mundo todo já tiveram que lidar com a alta inflação do setor, portanto experiências internacionais, como o uso do DRG (metodologia Diagnosis Related Group), têm sido consideradas. O aumento dos custos médico-hospitalares poderá ser contido quando houver um compartilhamento de riscos entre pagadores e prestadores de saúde, pois, no atual modelo, quem demanda os recursos (prestadores) não é quem paga por eles (operadoras).

A diretora de consultoria para o setor de saúde da Ernst & Young, Adriana Gasparian, diz que o ano não foi fácil para todos os setores da economia, incluindo a saúde. “O custo do setor está insustentável, ele está numa linha de tendência, que é uma linha de crescimento, decorrente de uma inflação médica alta, muito acima da inflação normal, decorrente não do aumento de honorários, mas de todos os custos assistenciais. Há um descolamento da inflação habitual que afeta todos os players do mercado, sejam prestadores, pagadores, todos os setores”, sustenta a diretora da EY.

Observamos também uma grande movimentação das empresas. Com o aumento do custo médico, o benefício do colaborador, o do plano de saúde, está ficando insustentável nas empresas, portanto, isso está tendo um impacto grande nas empresas. Antes a gente falava de players e providers, mas hoje em dia a maioria das empresas está muito envolvida nessa cadeia e, por isso, elas estão revendo o modelo de oferecer esse benefício de saúde.

Há o aumento de custo devido ao envelhecimento da população. Temos uma população mais idosa, invertendo a pirâmide. A população mais idosa tem doenças crônicas, fica doente com mais frequência, com coisas mais complexas. Isso impacta no custo médico. A receita das operadoras é muito menor, mesmo os hospitais de excelência estão tentando manter a qualidade com um custo menor, mais controlado. Resumindo, os custos referentes à saúde aumentaram bastante, tornando o ambiente bastante desafiador para todos os envolvidos, incluindo aí as empresas dentro da cadeia.

Já Enrico de Vettori, sócio-líder da Deloitte na área de life sciences e healthcare, divide a análise pela área de life sciences, que engloba indústria farmacêutica, dispositivos médico-hospitalares, medicina diagnóstica e materiais de consumo, e de healthcare, relativa a médicos e prestadores. De acordo com Vettori, “o grande ponto de 2015 é a questão das demissões, na medida em que, sendo 80% dos planos coletivos, foi registrada uma demissão na ordem de 100 pessoas por mês. Considerando colaboradores e família, o impacto global no setor é maior. Em segundo lugar, olhando para o plano de saúde dos funcionários, vemos um movimento importante, algo que até há três ou quatro anos não era alvo de cortes ou retenções ou reduções, passa a ter políticas muito fortes, quer na coparticipação, quer na migração para planos de uma categoria maior para uma categoria menor. Houve uma mudança de comportamento que era regra, pelo menos no que era normal em termos de despesas das empresas com saúde.

Ainda assim, nem tudo é negativo. Vettori refere a legislação que passou a admitir investimento estrangeiro no setor de saúde e as consequências que daí advêm. O capital não chega sozinho, ele traz conhecimento, experiência, exigências, como o próprio desenvolve: “Já existem vários negócios em curso. Isso vai energizar, vai ajudar o setor, com uma priorização do investimento em detrimento de outros setores, passando a ser uma opção no meio de outras escolhas de investimentos setoriais. Diante disso, iremos ver uma consolidação de um setor que ainda é fragmentado, dividido entre indústrias, distribuição, prestadores, operadoras. Esse investimento vem mas traz com ele uma gama de outras empresas, da área de tecnologia, de serviços, outras abordagens, como wellness, não é puramente capital e investidor. A reboque vêm mais benefícios, mas esses são dois grandes vetores, novas tendências, que, sem dúvida, vão ajudar a mexer com a ordem natural do setor”.

Mas 2015 merece uma outra abordagem por parte de Cintia Soares, gerente da KPMG, que define como um ano de muito mais discussões e abertura de questões. Para a gerente da KPMG, a participação de capital estrangeiro no setor levou as empresas, tanto hospitais quanto as demais fornecedoras de serviço em saúde, a discutir o impacto e as mudanças nas instituições que podem surgir desta oportunidade. “Sobretudo no sentido de definir o momento de negociar com um fundo estrangeiro ou reavaliar o modelo de governança”, diz, deixando o aviso para não se esperar algo a curto prazo: “São alterações que beneficiam o setor, não agora, mas daqui a dois ou três anos”.

Saúde: Igual ou diferente dos outros setores?

Especialistas consideram o setor de saúde como um dos que menos sofrem os impactos da crise. A abertura para capital estrangeiro e a desvalorização do real trazem boas perspectivas para o setor na área de aquisições. Porém, avisa Eliane Kihara, isso não significa que esteja totalmente protegido. Para a responsável da PwC, “a saúde suplementar, por exemplo, pode sofrer o impacto da crise atual, pois seu crescimento esteve nos últimos anos diretamente relacionado ao nível de emprego no país. Com o aumento do desemprego, espera-se diminuição no número de beneficiários. Se fizermos uma avaliação retroativa desde junho/2011, março de 2015 foi a primeira vez em que houve diminuição da carteira de beneficiários das operadoras”.

O setor público também sofreu impacto. Foi anunciado em julho um corte orçamentário de aproximadamente R$ 12 bilhões. O subfinanciamento da saúde pública afeta o setor como um todo, já que a maioria dos hospitais do país presta serviços ao SUS. O governo também possui bastante representatividade nas compras de medicamentos, podendo afetar também o setor farmacêutico. Além de, claro, afetar principalmente a população, que terá de lidar com filas de espera mais longas e falta de atendimento.

Vettori indica o exemplo do setor da agricultura brasileira, que descolou bem da crise. Por outro lado, o setor da saúde já está tendo transformações e vai ter uma depuração no sentido de ficarem os maiores, os mais competentes, os mais resilientes, aqueles que olham mais para o longo prazo, que de fato valorizam a qualidade e que têm melhor gestão e governança. O setor foi impulsionado de modo a que agora passa a ter a necessidade de uma requalificação e readequação, de uma atualização, principalmente nos aspectos de gestão, governança, de estrutura, de capital, de gestão financeira do fluxo de caixa. O setor está sendo impactado por tantas variáveis, entre as quais o aparecimento de novos atores, que vieram para a área de saúde, e a vinda desses novos atores veio aumentar o nível de exigência. Em life sciences, o impacto do dólar foi muito forte. De acordo com o responsável da Deloitte, é preciso notar que “em materiais médicos, genéricos e outros insumos, o problema não é o dólar alto ou baixo, é o dólar instável. Isso atrapalha muito o fechamento de câmbio de negócios. E tem ainda a questão regulatória de uma Anvisa que precisa se reinventar, na medida em que é necessário permitir o acesso a novas tecnologias e uma agência reguladora que não esteja com esse foco não dá à população local acesso aos melhores tratamentos possíveis”.

Transformações, mudanças, movimentações. As consultoras parecem estar de acordo e Cintia Soares menciona isso mesmo, falando de um setor de saúde “caracterizado predominantemente em relação a mudanças e movimentações, apostando na redução de custos e melhoria da eficiência operacional”. Embora seja semelhante aos outros setores, para a KPMG não é algo comparativo, uma vez que a saúde tem um nível menor de maturidade em termos de gestão profissional e aplicação de estratégias. Tem havido movimentações de parcerias entre players em relação à governança, está sendo discutido como otimizar esse mercado misto, ou seja, como as instituições podem atender os planos de saúde privados e suplementares, também questões sobre remuneração e empoderamento das lideranças, ou nas palavras de Cintia Soares: “Tudo atrás dos restantes setores”.

Eficiência. Essa é a chave que permite abrir a porta de saída da crise, segundo Kihara. As organizações devem tomar ações de investimentos para buscar eficiência operacional, através de melhoria de gestão e tecnologia. O momento é difícil para se tomar decisões sobre investimentos, porém, quanto mais tempo as organizações esperarem, menor capacidade de reação elas terão para ser mais competitivas num cenário de crise que parece que se manterá por um tempo. O investimento estrangeiro é, para a PwC, precioso, principalmente devido à desvalorização do real. As empresas estrangeiras percebem o país como fonte de oportunidades, e é uma fonte de capital importante para permitir os investimentos necessários para a modernização da gestão.

Já Gasparian acredita que o Brasil sai da crise sem o investimento estrangeiro: “Não é essencial. Precisamos buscar relações saudáveis, isso sim. Aliás, o capital estrangeiro é saudável na medida em que ele não se torne essencialmente especulativo, que nem nos outros setores. Estamos mexendo com um bem essencial à população. Deve haver uma monitorização dos órgãos competentes e lapidando a lei”. Mas essa abertura aos investidores estrangeiros pode ter uma influência muito positiva. “Como esse capital está vindo de países com uma eficiência de processos maior que a nossa, pode ser muito útil na busca e construção desse modelo de relação mais saudável entre os prestadores e os pagadores. Até porque os investidores não colocam o capital em algo ruim, o objetivo não é ajudar o Brasil num momento difícil. O Brasil deve aproveitar a chance dessa entrada de empresas estrangeiras para aprender com essas empresas mais evoluídas”, sustenta a diretora da EY, não sem relembrar as particularidades do Brasil: “É necessário tropicalizar a eficiência dessas empresas, não é possível pegar e aplicar uma cultura, isso não vai dar certo. É preciso considerar o cenário brasileiro, o modelo de saúde e a cultura do Brasil”.

Adriana Gasparian recomenda que o Brasil encontre um modelo de relacionamento novo para a cadeira da saúde. Ela descreve o modelo de saúde como sendo essencialmente paternalista e reativo: “Eu trato a doença, espero o paciente estar doente para tomar alguma atitude. O novo modelo é proativo, atua na prevenção das doenças, ou seja, existe um historial do paciente desde a infância, acompanhando e fazendo um trabalho de prevenção. Outra diferença é o papel do paciente, ele tem que ser mais engajado e mais responsável pela sua saúde. O paciente atual tem uma postura muito passiva sobre a sua saúde”. O novo modelo, além da cultura da relação médico e paciente, deve instituir uma a relação diferente entre operadoras e hospitais: “Hoje estão em lados opostos e eles devem caminhar para a colaboração entre ambos, a troca de informação saudável. Não é necessário interferir na ação um do outro, mas eles têm algo em comum: o paciente”. Nos modelos mais maduros, essa troca de informações existe e só beneficia o próprio sistema como um todo, tornando os custos mais sustentáveis.

KPGM e EY concordam na análise do impacto do financiamento estrangeiro. A questão da lei, para que possa ser aproveitada, implica que as empresas estejam preparadas e para isso elas precisam elevar minimamente o seu patamar de gestão. “A salvação não é o financiamento, as instituições devem seguir um caminho de reestruturação, governança com relação à gestão financeira, trabalhar modelos de colaboração. Cada vez mais deve haver aproximação de grupos e empresas em prol de um único tema, como por exemplo, desenvolvimento de fornecedores, compartilhar com a indústria a custificação e remuneração de consumo de materiais e medicamentos”, refere Cintia Soares. No final do dia, o que dita quanto vai custar a saúde é o consumo de materiais e medicamentos, não dá para sustentar a indústria sem fazer mudanças no sistema. Para a KPMG o mais importante será instituir um modelo colaborativo.

No meio das diversas soluções apontadas para escapar das teias da crise, a tecnologia tem sido uma das mais referidas. A adoção de tecnologias de informação (TI) só por si nada garante, como explica Cláudio Giulliano Alves da Costa, diretor-presidente da Folks. Aliás, quando mal utilizadas, essas ferramentas podem ter um efeito nefasto. Existem quatro benefícios básicos da adoção de TI: qualidade assistencial, segurança do paciente, eficiência operacional e redução de custos. Esses dois últimos é que permitem que o hospital tenha um retorno financeiro melhor, por exemplo, tornando mais rápidas tarefas que consumiam largos minutos ou horas, ganhando também eficiência e produtividade. A redução e controle dos custos é consequência do controle total da cadeia, todas as informações estão no sistema. Isso são resultados que, por vezes mais, por vezes menos mensurados, já acontecem e estão documentados. No entanto, para Cláudio Giulliano, 2016 pode ser cedo demais: “Nem sempre quando se investe em tecnologia os retornos vêm no primeiro ano ou no segundo. Em tempos de crise, qualquer ferramenta tecnológica que aumente a eficiência operacional e controle ou reduza os custos é essencial para sobreviver a esse período turbulento. Pode ser que o retorno desse investimento não aconteça em apenas um ano”. Isso não significa que não existam instituições com resultados no imediato, basta que tenham se antecipado na adoção dessa tecnologia. Os hospitais que plantaram isso ao longo dos últimos três ou quatro anos vão colher os frutos agora em 2016.

América Latina

O universo da América Latina, no que diz respeito à saúde, é altamente heterogêneo e exibe uma diversidade de estágios de desenvolvimento e maturidade, dependendo do país que analisamos. O Brasil deverá seguir modelos de sucesso de seus vizinhos e deverá servir como referência para outros.

Enrico de Vettori não tem dúvidas em afirmar que o setor de saúde brasileiro segue o modelo americano. “O Brasil tem um mercado privado mais pujante que a maioria da América Latina, mas alguns mercados deram soluções mais inteligentes do que o Brasil, começam a existir mais soluções na rede primária, mais integrada, em alguns casos não só com o próprio médico mas com a distribuição de medicamentos”, afirma Vettori, ilustrando com o caso da Fundação Carlos Slim, que começa a trazer a rede de atenção primária no metrô do México, e com o caso da Colômbia, onde já existe wellness de prevenção com um forte ataque às indústrias de alimentação, por causa do açúcar e refrigerantes para crianças. “É um movimento global na América do Sul que busca uma melhor atenção primária. O mercado brasileiro é mais descolado e está mais próximo do que era o mercado norte-americano há uma década ou duas”, conclui.

Já Adriana Gasparian documenta sua visão com sua experiência no Equador. Dentro da América Latina, o Brasil tem o maior valor do PIB envolvido com saúde — 10% — mas está muito aquém dos países desenvolvidos. Existem realidades muito distintas na América Latina, até por existirem outros países que estão em diferentes estágios. Tomando o exemplo do Equador, que tem um modelo de saúde diferente do brasileiro, que não é universal, a população que não tem emprego formal, com baixas condições socioeconômicas, não tem direito a assistência de saúde pública. Eles estão num estágio anterior ao Brasil. Gasparian acredita numa diversidade que assenta num plano comum, que se estende a uma escala planetária: “Cada um tem seu perfil, mas todos eles se encontram numa fase de controle de custos, não apenas na América Latina, mas também os países mais desenvolvidos e mesmo os que são inteiramente custeados pelo governo, com planos de saúde universais”.

“O Brasil pode aprender com os seus vizinhos, tem algumas instituições que são referência na América Latina, mas não temos o melhor modelo de gestão em saúde da América Latina”. As palavras são de Cintia Soares, que remete para a reforma feita na saúde da Colômbia, “principalmente dos modelos operacionais, que é onde o Brasil deve mudar, onde devem ser feitos alguns tipos de reformas ou no mínimo uma aproximação do órgão regulador, a ANS, com o Ministério de Saúde, criando mais sinergias entre os dois modelos de saúde existentes.”

A gerente da KPMG segue para a mesma localização e indica o Equador, país que está tomando o Brasil como modelo de elaboração de processos mais eficientes, de otimização e redução de custos e de atendimento a uma parcela maior da população, dizendo que “o Equador tem deficiências semelhantes, faltam veículos, faltam médicos, faltam enfermeiras, mas o Brasil tem uma maturidade maior”.

Brasil não é uma nova Grécia ou uma nova Argentina

Não serão as vozes mais ouvidas, mas a verdade é que há quem compare o Brasil com a Argentina. Outros dizem que o Brasil é uma repetição da recente situação da Grécia. Os mais pessimistas recuam mesmo até a crise de 2001 na Terra da Prata. Enrico Vettori assegura que “existe uma diferença brutal de uma Argentina ou até mesmo de uma Grécia. O que nós temos é uma crise política que está se abatendo fortemente, interesses pessoais que estão atrapalhando os nossos avanços fiscais, mas iremos avançar até porque esses interesses irão ser compatibilizados de uma maneira ou de outra, caso a classe política não tenha a dignidade, a decência ou a presteza de o fazer, o mercado já está fazendo”. O líder da Deloitte prossegue explicando que não é um caso de dominância fiscal, ou seja, quando o Banco Central perde totalmente a capacidade de política monetária”. Por outro lado, ele acredita que chegou ao fim aquilo que designa como “ciclo do populismo e inconsequência”. O momento agora é de arrumação, de as empresas olharem para dentro, para fazer uma reflexão de gestão e modelo de negócio. A crise pode trazer oportunidades, aqueles que estão menos maduros e confiam no amadorismo, na sorte ou empirismo podem sofrer mais, mas os que estão preparados vão superar. Aliás, ele faz questão de deixar um elogio: “O DNA do empresariado brasileiro resiste bem a isso”.

Para a KPGM, na voz de Cintia Soares, a única comparação que deve ser feita é no sentido de seguir o exemplo da Argentina sob o ponto de vista de assumir uma postura colaborativa da saúde com a indústria de fármacos, mas só nesse sentido. Transitar de um modelo individualista para modelos colaborativos em parceria com a indústria. Eliane Kihara concorda que apenas faz sentido comparar as duas realidades em apenas um detalhe: “As famílias argentinas optaram por trocar seus planos de saúde por outros mais em conta. Nessa linha, acredito que este movimento pode ocorrer aqui, vis-à-vis o impacto de custo de saúde no orçamento familiar bem como as famílias irão procurar opções mais em conta de medicamentos também, alavancando o mercado de genéricos”.

Projeções para 2016

O ano de 2016 não será um ano de crescimento para o setor de saúde brasileiro. Cintia Soares prevê que seja um ano — talvez o primeiro grande ano — em que existirá uma mobilização em massa para reestruturar e, aí sim, alcançar a estabilidade para fazer face às dificuldades econômicas. O motor dessa mobilização será o setor privado: “Não teremos mudança nenhuma no sistema público, por isso essa mobilização terá que vir do setor privado”.

“As perspectivas são muito mais positivas, que a maioria dos demais setores da economia”, nas palavras de Eliane Kihara. A demanda por serviços de saúde se manterá ou aumentará, vis-à-vis aos reflexos do envelhecimento da nossa população. “O grande desafio das organizações será o quão preparadas elas estarão para enfrentar a pressão sobre custos em toda a cadeia da saúde, para ofertar uma proposição de valor adequada para o quanto os seus clientes estão preparados a pagar, num contexto de crise”, sustenta Kihara.

Segundo Enrico de Vettori, 2016 vai ser um ano muito difícil, os índices econômicos não são favoráveis, mas o mercado já passou por uma primeira perda do grau de investimento e está preparado para precificar uma segunda. “Não é um cenário econômico ou político positivo, mas é o final de ciclo democrático e esse final é o lado positivo. Houve um bom aproveitamento da liquidez gerada e da caixa existente, mas acabou”, explica, lançando seu vaticínio: “2016 vai ser um ano melhor que 2015 e vai ser bom para as empresas e empresários, primeiro porque vai ter muitas oportunidades, segundo porque vai fazer com que mergulhem nessas empresas e vão sair mais fortalecidos”.

Adriana Gasparian é mais contundente e repele o pessimismo: “Quem acreditar que 2016 é um ano que já está perdido deve fazer as malas e ir embora do Brasil”. Gasparian define 2016 não como um ano perdido ou difícil, mas como mais desafiador. Vai exigir ser mais criativo, mais colaborativo e mais participativo. Pensando nisso, a saúde brasileira e os players da cadeia da saúde têm que se voltar para um modelo participativo, colaborativo e engajador, que envolva paciente, médico e governança. “A saúde não pode dar o ano como perdido, isso significaria que muita gente morreria”, palavras fortes, seguidas de uma mensagem final de otimismo: “Os grandes players de saúde são afetados pela situação econômica, as empresas que contratam planos de saúde são afetadas, mas o Brasil e a saúde brasileira têm chance”.

Publicado no LinkedIn
Publicado na Revista Diagnóstico