Theranos: como uma startup de biotecnologia desceu do céu ao inferno

Técnica promissora de análise de sangue sem uso de agulha, afinal, não funciona. Investigações da FDA, Medicare e Medicaid já decorrem e Walgreen cessou parceria com laboratório. Mais recentemente o hedge fund de São Francisco, Partner Fund Management LP, processou a Theranos por ter mentido para atrair investidores.

A promessa da Theranos era fazer 250 exames diferentes com uma simples gota de sangue, sem uso de agulhas

Elizabeth Holmes, fundadora da Theranos, anunciou ao mundo que tinha descoberto uma técnica revolucionária que iria reinventar os exames laboratoriais e permitiria realizar mais de 200 exames de sangue com uma gota de sangue apenas. A notícia fez correr muita tinta, por isso, não foi espantoso quando, há um ano atrás, a Theranos valia 9 bilhões de dólares. Isso significava que Holmes, detentora de 50% da empresa, liderava a lista da Forbes das mulheres empreendedoras mais ricas da América. Desde o momento do anúncio até à atualidade, a Theranos tem estado envolvida em diversos escândalos, que levaram um grupo de investidores a reavaliar o valor da empresa, depreciando de 9 bilhões para 800 milhões de dólares.

Os problemas da startup se multiplicam. Holmes adotou a tática de Steve Jobs e tentou liderar a empresa envolvendo-a num manto de secretismo. Se a promessa era de realizar exames sem uso de agulhas e rentabilizando uma gota de sangue que serviria para centenas de diferentes testes, desde câncer a colesterol, a realidade foi bem redutora: pouco mais de uma dezena de resultados foram atingidos. Até a credibilidade desses resultados tem sido amplamente discutida, perante a ausência de publicação de estudos e pesquisa. Após as questões levantadas, a Theranos submeteu à aprovação da Food and Drug Administration (FDA) um teste para herpes, algo que provaria que a tecnologia estaria funcionando. Essa seria a primeira de mais de uma centena de aprovações. O resultado saiu totalmente ao contrário, uma vez que a FDA impôs tantas restrições, que a Theranos foi obrigada a suspender os testes.

A Theranos tem sido acusada de fraude, a própria declaração de que seria apenas uma gota de sangue foi dada como falsa. A tecnologia precisa de apenas 3 pequenos frascos, bem menos que os 6 frascos grandes que normalmente são necessários, ainda assim, mais que uma gota. Apesar da ausência de condenações e apesar de não ter visto revogada a sua licença pela Medicare ou Medicaid, está sob investigação após terem sido detetados erros nos exames de sangue. A maior cadeia de farmácias dos Estados Unidos, a Walgreens, decidiu terminar a ligação à Theranos, o que significou o encerramento de 40 operações, só no estado do Arizona.

Os piores desafios que a Theranos enfrenta agora são a recuperação de sua reputação e as promessas de processos judiciais, quer de pacientes, quer de investidores. O Partner Fund Management LP deu o primeiro passo, mas outros já se perfilam. Elizabeth Holmes afirmou publicamente que acredita que vai conseguir atingir os objetivos que definiu inicialmente. Em caso de falência da empresa, Holmes corre o sério risco de ficar sem um centavo, uma vez que acionistas e investidores serão os primeiros a receber indenizações.

Publicado originalmente no Portal DiagnósticoWeb

WannaCry: conheça o software malicioso que paralisou o NHS

O software malicioso WannaCry atacou o serviço de saúde da Grã-Bretanha e empresas na Espanha, Rússia, Ucrânia e Taiwan, sequestrando dados e exigindo um resgate para liberar. Este tipo de software, de nome ransomware (de ransom: resgate) usa uma vulnerabilidade revelada pela primeira vez ao público devido a documentos que foram vazados relacionados a NSA, com a finalidade de infectar computadores com o sistema Windows e criptografar seu conteúdo, exigindo pagamentos de centenas de dólares em troca da chave para descriptografar arquivos.

Ransomware WannaCry atacou grandes empresas multinacionais de diversos setores

O ataque coordenado conseguiu infectar um grande número de computadores em todo o serviço de saúde britânico em menos de seis horas após ser detectado pela primeira vez por pesquisadores de segurança, o que revela sua capacidade de se espalhar em redes de PC para PC. Hospitais em toda a Inglaterra foram obrigados a desviar pacientes de emergência devido ao WannaCry.

Quando um computador é infectado, o ransomware costuma entrar em contato com um servidor central para obter as informações necessárias para ativá-lo e, em seguida, começa a criptografar arquivos no computador infectado com essas informações. Após criptografar todos os arquivos, ele envia uma mensagem solicitando o pagamento para descriptografar os arquivos — e ameaça destruir as informações se ele não for pago. O efeito dramático é dado frequentemente através de um temporizador.Para evitar este tipo de ataque, é preciso saber como não abrir a porta ao ransomware. A maioria dos ransomware está escondida dentro de documentos do Word, PDFs e outros arquivos normalmente enviados via e-mail, ou através de uma infecção secundária em computadores já afetados por vírus que oferecem uma porta traseira para novos ataques. Basta que um usuário inconscientemente instale este ransomware em seu próprio PC, para que ele tente se espalhar para outros computadores na mesma rede. Para isso, usa uma vulnerabilidade conhecida no sistema operacional Windows, saltando entre PC e PC. Essa fraqueza foi revelada ao mundo como parte de um enorme vazamento de ferramentas de hacking da NSA e fraquezas conhecidas por um grupo anônimo chamado “Shadow Brokers” em abril.

O WannaCry, que afetou a Telefónica na Espanha e o NHS na Grã-Bretanha, é o mesmo software: um pedaço de ransomware. Em menos de quatro horas já tinha infectado computadores apenas em Lancashire, de onde terá se espalhado para toda a rede interna do NHS. O valor pedido é de 300 libras, a ser pago em Bitcoin, para desbloquear o conteúdo dos computadores.

Mas, será que pagar o resgate realmente desbloqueia os arquivos? Talvez. Nem sempre funciona.O ransomware de Cryptolocker que atacou há alguns anos e exigia um resgate em torno de £ 300, terá cumprido a devolução após receber o pagamento, mas, lembram especialistas em cibersegurança, citados pelo The Guardian, “não há garantia de pagamento vai funcionar, porque os cibercriminosos não são exatamente o grupo mais confiável de pessoas”. Além disso, lembram, há a questão ética: pagar o resgate pode fomentar mais crimes. A solução mais prática é efetuar um backup dos arquivos.Por que o NHS está sendo direcionado?

Segundo a imprensa britânica, o NHS foi uma vítima fácil, pois ainda usa Windows XP, um software antigo, que não recebeu atualizações de segurança disponíveis há meia década, sendo esse o motivo para o ataque. Mas, atualmente ataques em provedores de cuidados de saúde em todo o mundo estão em um máximo de todos os tempos. As informações privadas, incluindo registros de saúde, são extremamente valiosas, tornando-se um alvo apetecível dos cibercriminosos.

Publicado originalmente no portal DiagnósticoWeb

2016: o ano zero para a saúde no Brasil

A crise brasileira avisou que ia chegar em 2013, mas só se instalou em 2015. Comércio e imobiliário foram dois dos setores mais afetados. A Saúde, pela sua demanda constante, não sofreu o mesmo tipo de sequela. E 2016? Como será?

No ano de 2013 já se falava na crise que estava chegando; em 2014, o pior estava por vir, mas o Brasil foi sacudindo como podia, evitando que as previsões do ano anterior se confirmassem. Mas, em 2015, não teve mais volta. A crise bateu à porta e decidiu ficar. 2015 foi também o ano da aprovação da lei que permite investimento estrangeiro no setor da saúde. Interessados não faltam. O dólar em alta favorece fusões e aquisições, mas também levanta ressalvas, pois tem impacto negativo na hora de importar insumos, dispositivos e tecnologia, tudo mais caro e diminuindo o lucro. A falta de acreditação e o nível de maturidade reduzido da gestão das instituições também deixam o capital estrangeiro hesitante.

O sistema de saúde brasileiro continua com falta de médicos e de leitos, a população segue envelhecendo, aumentando o número de pacientes crônicos, prosseguem velhos problemas, a luta entre privado, público e suplementar, o “nós” contra “eles” coloca a nu lacunas de gestão e atrasa o Brasil na corrida pelo melhor modelo de saúde possível.

E 2016 tem tudo para ser um ano de mudança, o ano zero de adoção de novos modelos, tecnologias e mentalidades. Será um ano em que muitos poderão sofrer as consequências darwinianas da sobrevivência dos mais fortes e preparados, mas será também o ano em que se poderão vencer desafios e afinar estratégias que melhorem a gestão das instituições.

As consultorias são uma ajuda preciosa em horas de dificuldade; rara é a instituição que não recorre a esse auxílio especializado. Seguindo essa lógica, a Diagnóstico fez o mesmo e quis avaliar 2015 e projetar 2016 junto com algumas das consultorias de topo mundiais.

A Inflação médica é um parâmetro de elevada relevância destacado por Ernst & Young (EY) e PricewaterhouseCoopers (PwC). Para Eliane Kihara, sócia-líder da consultoria da PwC na área de health, “em março de 2015, ocorreu o maior índice de inflação médica já registrado desde 2007, de 18,24%”, explica, recorrendo a dados do IESS. É possível perceber que o setor está aberto a discussões para analisar maneiras de reverter a situação. Novos modelos de remuneração estão sendo analisados. Sistemas de saúde do mundo todo já tiveram que lidar com a alta inflação do setor, portanto experiências internacionais, como o uso do DRG (metodologia Diagnosis Related Group), têm sido consideradas. O aumento dos custos médico-hospitalares poderá ser contido quando houver um compartilhamento de riscos entre pagadores e prestadores de saúde, pois, no atual modelo, quem demanda os recursos (prestadores) não é quem paga por eles (operadoras).

A diretora de consultoria para o setor de saúde da Ernst & Young, Adriana Gasparian, diz que o ano não foi fácil para todos os setores da economia, incluindo a saúde. “O custo do setor está insustentável, ele está numa linha de tendência, que é uma linha de crescimento, decorrente de uma inflação médica alta, muito acima da inflação normal, decorrente não do aumento de honorários, mas de todos os custos assistenciais. Há um descolamento da inflação habitual que afeta todos os players do mercado, sejam prestadores, pagadores, todos os setores”, sustenta a diretora da EY.

Observamos também uma grande movimentação das empresas. Com o aumento do custo médico, o benefício do colaborador, o do plano de saúde, está ficando insustentável nas empresas, portanto, isso está tendo um impacto grande nas empresas. Antes a gente falava de players e providers, mas hoje em dia a maioria das empresas está muito envolvida nessa cadeia e, por isso, elas estão revendo o modelo de oferecer esse benefício de saúde.

Há o aumento de custo devido ao envelhecimento da população. Temos uma população mais idosa, invertendo a pirâmide. A população mais idosa tem doenças crônicas, fica doente com mais frequência, com coisas mais complexas. Isso impacta no custo médico. A receita das operadoras é muito menor, mesmo os hospitais de excelência estão tentando manter a qualidade com um custo menor, mais controlado. Resumindo, os custos referentes à saúde aumentaram bastante, tornando o ambiente bastante desafiador para todos os envolvidos, incluindo aí as empresas dentro da cadeia.

Já Enrico de Vettori, sócio-líder da Deloitte na área de life sciences e healthcare, divide a análise pela área de life sciences, que engloba indústria farmacêutica, dispositivos médico-hospitalares, medicina diagnóstica e materiais de consumo, e de healthcare, relativa a médicos e prestadores. De acordo com Vettori, “o grande ponto de 2015 é a questão das demissões, na medida em que, sendo 80% dos planos coletivos, foi registrada uma demissão na ordem de 100 pessoas por mês. Considerando colaboradores e família, o impacto global no setor é maior. Em segundo lugar, olhando para o plano de saúde dos funcionários, vemos um movimento importante, algo que até há três ou quatro anos não era alvo de cortes ou retenções ou reduções, passa a ter políticas muito fortes, quer na coparticipação, quer na migração para planos de uma categoria maior para uma categoria menor. Houve uma mudança de comportamento que era regra, pelo menos no que era normal em termos de despesas das empresas com saúde.

Ainda assim, nem tudo é negativo. Vettori refere a legislação que passou a admitir investimento estrangeiro no setor de saúde e as consequências que daí advêm. O capital não chega sozinho, ele traz conhecimento, experiência, exigências, como o próprio desenvolve: “Já existem vários negócios em curso. Isso vai energizar, vai ajudar o setor, com uma priorização do investimento em detrimento de outros setores, passando a ser uma opção no meio de outras escolhas de investimentos setoriais. Diante disso, iremos ver uma consolidação de um setor que ainda é fragmentado, dividido entre indústrias, distribuição, prestadores, operadoras. Esse investimento vem mas traz com ele uma gama de outras empresas, da área de tecnologia, de serviços, outras abordagens, como wellness, não é puramente capital e investidor. A reboque vêm mais benefícios, mas esses são dois grandes vetores, novas tendências, que, sem dúvida, vão ajudar a mexer com a ordem natural do setor”.

Mas 2015 merece uma outra abordagem por parte de Cintia Soares, gerente da KPMG, que define como um ano de muito mais discussões e abertura de questões. Para a gerente da KPMG, a participação de capital estrangeiro no setor levou as empresas, tanto hospitais quanto as demais fornecedoras de serviço em saúde, a discutir o impacto e as mudanças nas instituições que podem surgir desta oportunidade. “Sobretudo no sentido de definir o momento de negociar com um fundo estrangeiro ou reavaliar o modelo de governança”, diz, deixando o aviso para não se esperar algo a curto prazo: “São alterações que beneficiam o setor, não agora, mas daqui a dois ou três anos”.

Saúde: Igual ou diferente dos outros setores?

Especialistas consideram o setor de saúde como um dos que menos sofrem os impactos da crise. A abertura para capital estrangeiro e a desvalorização do real trazem boas perspectivas para o setor na área de aquisições. Porém, avisa Eliane Kihara, isso não significa que esteja totalmente protegido. Para a responsável da PwC, “a saúde suplementar, por exemplo, pode sofrer o impacto da crise atual, pois seu crescimento esteve nos últimos anos diretamente relacionado ao nível de emprego no país. Com o aumento do desemprego, espera-se diminuição no número de beneficiários. Se fizermos uma avaliação retroativa desde junho/2011, março de 2015 foi a primeira vez em que houve diminuição da carteira de beneficiários das operadoras”.

O setor público também sofreu impacto. Foi anunciado em julho um corte orçamentário de aproximadamente R$ 12 bilhões. O subfinanciamento da saúde pública afeta o setor como um todo, já que a maioria dos hospitais do país presta serviços ao SUS. O governo também possui bastante representatividade nas compras de medicamentos, podendo afetar também o setor farmacêutico. Além de, claro, afetar principalmente a população, que terá de lidar com filas de espera mais longas e falta de atendimento.

Vettori indica o exemplo do setor da agricultura brasileira, que descolou bem da crise. Por outro lado, o setor da saúde já está tendo transformações e vai ter uma depuração no sentido de ficarem os maiores, os mais competentes, os mais resilientes, aqueles que olham mais para o longo prazo, que de fato valorizam a qualidade e que têm melhor gestão e governança. O setor foi impulsionado de modo a que agora passa a ter a necessidade de uma requalificação e readequação, de uma atualização, principalmente nos aspectos de gestão, governança, de estrutura, de capital, de gestão financeira do fluxo de caixa. O setor está sendo impactado por tantas variáveis, entre as quais o aparecimento de novos atores, que vieram para a área de saúde, e a vinda desses novos atores veio aumentar o nível de exigência. Em life sciences, o impacto do dólar foi muito forte. De acordo com o responsável da Deloitte, é preciso notar que “em materiais médicos, genéricos e outros insumos, o problema não é o dólar alto ou baixo, é o dólar instável. Isso atrapalha muito o fechamento de câmbio de negócios. E tem ainda a questão regulatória de uma Anvisa que precisa se reinventar, na medida em que é necessário permitir o acesso a novas tecnologias e uma agência reguladora que não esteja com esse foco não dá à população local acesso aos melhores tratamentos possíveis”.

Transformações, mudanças, movimentações. As consultoras parecem estar de acordo e Cintia Soares menciona isso mesmo, falando de um setor de saúde “caracterizado predominantemente em relação a mudanças e movimentações, apostando na redução de custos e melhoria da eficiência operacional”. Embora seja semelhante aos outros setores, para a KPMG não é algo comparativo, uma vez que a saúde tem um nível menor de maturidade em termos de gestão profissional e aplicação de estratégias. Tem havido movimentações de parcerias entre players em relação à governança, está sendo discutido como otimizar esse mercado misto, ou seja, como as instituições podem atender os planos de saúde privados e suplementares, também questões sobre remuneração e empoderamento das lideranças, ou nas palavras de Cintia Soares: “Tudo atrás dos restantes setores”.

Eficiência. Essa é a chave que permite abrir a porta de saída da crise, segundo Kihara. As organizações devem tomar ações de investimentos para buscar eficiência operacional, através de melhoria de gestão e tecnologia. O momento é difícil para se tomar decisões sobre investimentos, porém, quanto mais tempo as organizações esperarem, menor capacidade de reação elas terão para ser mais competitivas num cenário de crise que parece que se manterá por um tempo. O investimento estrangeiro é, para a PwC, precioso, principalmente devido à desvalorização do real. As empresas estrangeiras percebem o país como fonte de oportunidades, e é uma fonte de capital importante para permitir os investimentos necessários para a modernização da gestão.

Já Gasparian acredita que o Brasil sai da crise sem o investimento estrangeiro: “Não é essencial. Precisamos buscar relações saudáveis, isso sim. Aliás, o capital estrangeiro é saudável na medida em que ele não se torne essencialmente especulativo, que nem nos outros setores. Estamos mexendo com um bem essencial à população. Deve haver uma monitorização dos órgãos competentes e lapidando a lei”. Mas essa abertura aos investidores estrangeiros pode ter uma influência muito positiva. “Como esse capital está vindo de países com uma eficiência de processos maior que a nossa, pode ser muito útil na busca e construção desse modelo de relação mais saudável entre os prestadores e os pagadores. Até porque os investidores não colocam o capital em algo ruim, o objetivo não é ajudar o Brasil num momento difícil. O Brasil deve aproveitar a chance dessa entrada de empresas estrangeiras para aprender com essas empresas mais evoluídas”, sustenta a diretora da EY, não sem relembrar as particularidades do Brasil: “É necessário tropicalizar a eficiência dessas empresas, não é possível pegar e aplicar uma cultura, isso não vai dar certo. É preciso considerar o cenário brasileiro, o modelo de saúde e a cultura do Brasil”.

Adriana Gasparian recomenda que o Brasil encontre um modelo de relacionamento novo para a cadeira da saúde. Ela descreve o modelo de saúde como sendo essencialmente paternalista e reativo: “Eu trato a doença, espero o paciente estar doente para tomar alguma atitude. O novo modelo é proativo, atua na prevenção das doenças, ou seja, existe um historial do paciente desde a infância, acompanhando e fazendo um trabalho de prevenção. Outra diferença é o papel do paciente, ele tem que ser mais engajado e mais responsável pela sua saúde. O paciente atual tem uma postura muito passiva sobre a sua saúde”. O novo modelo, além da cultura da relação médico e paciente, deve instituir uma a relação diferente entre operadoras e hospitais: “Hoje estão em lados opostos e eles devem caminhar para a colaboração entre ambos, a troca de informação saudável. Não é necessário interferir na ação um do outro, mas eles têm algo em comum: o paciente”. Nos modelos mais maduros, essa troca de informações existe e só beneficia o próprio sistema como um todo, tornando os custos mais sustentáveis.

KPGM e EY concordam na análise do impacto do financiamento estrangeiro. A questão da lei, para que possa ser aproveitada, implica que as empresas estejam preparadas e para isso elas precisam elevar minimamente o seu patamar de gestão. “A salvação não é o financiamento, as instituições devem seguir um caminho de reestruturação, governança com relação à gestão financeira, trabalhar modelos de colaboração. Cada vez mais deve haver aproximação de grupos e empresas em prol de um único tema, como por exemplo, desenvolvimento de fornecedores, compartilhar com a indústria a custificação e remuneração de consumo de materiais e medicamentos”, refere Cintia Soares. No final do dia, o que dita quanto vai custar a saúde é o consumo de materiais e medicamentos, não dá para sustentar a indústria sem fazer mudanças no sistema. Para a KPMG o mais importante será instituir um modelo colaborativo.

No meio das diversas soluções apontadas para escapar das teias da crise, a tecnologia tem sido uma das mais referidas. A adoção de tecnologias de informação (TI) só por si nada garante, como explica Cláudio Giulliano Alves da Costa, diretor-presidente da Folks. Aliás, quando mal utilizadas, essas ferramentas podem ter um efeito nefasto. Existem quatro benefícios básicos da adoção de TI: qualidade assistencial, segurança do paciente, eficiência operacional e redução de custos. Esses dois últimos é que permitem que o hospital tenha um retorno financeiro melhor, por exemplo, tornando mais rápidas tarefas que consumiam largos minutos ou horas, ganhando também eficiência e produtividade. A redução e controle dos custos é consequência do controle total da cadeia, todas as informações estão no sistema. Isso são resultados que, por vezes mais, por vezes menos mensurados, já acontecem e estão documentados. No entanto, para Cláudio Giulliano, 2016 pode ser cedo demais: “Nem sempre quando se investe em tecnologia os retornos vêm no primeiro ano ou no segundo. Em tempos de crise, qualquer ferramenta tecnológica que aumente a eficiência operacional e controle ou reduza os custos é essencial para sobreviver a esse período turbulento. Pode ser que o retorno desse investimento não aconteça em apenas um ano”. Isso não significa que não existam instituições com resultados no imediato, basta que tenham se antecipado na adoção dessa tecnologia. Os hospitais que plantaram isso ao longo dos últimos três ou quatro anos vão colher os frutos agora em 2016.

América Latina

O universo da América Latina, no que diz respeito à saúde, é altamente heterogêneo e exibe uma diversidade de estágios de desenvolvimento e maturidade, dependendo do país que analisamos. O Brasil deverá seguir modelos de sucesso de seus vizinhos e deverá servir como referência para outros.

Enrico de Vettori não tem dúvidas em afirmar que o setor de saúde brasileiro segue o modelo americano. “O Brasil tem um mercado privado mais pujante que a maioria da América Latina, mas alguns mercados deram soluções mais inteligentes do que o Brasil, começam a existir mais soluções na rede primária, mais integrada, em alguns casos não só com o próprio médico mas com a distribuição de medicamentos”, afirma Vettori, ilustrando com o caso da Fundação Carlos Slim, que começa a trazer a rede de atenção primária no metrô do México, e com o caso da Colômbia, onde já existe wellness de prevenção com um forte ataque às indústrias de alimentação, por causa do açúcar e refrigerantes para crianças. “É um movimento global na América do Sul que busca uma melhor atenção primária. O mercado brasileiro é mais descolado e está mais próximo do que era o mercado norte-americano há uma década ou duas”, conclui.

Já Adriana Gasparian documenta sua visão com sua experiência no Equador. Dentro da América Latina, o Brasil tem o maior valor do PIB envolvido com saúde — 10% — mas está muito aquém dos países desenvolvidos. Existem realidades muito distintas na América Latina, até por existirem outros países que estão em diferentes estágios. Tomando o exemplo do Equador, que tem um modelo de saúde diferente do brasileiro, que não é universal, a população que não tem emprego formal, com baixas condições socioeconômicas, não tem direito a assistência de saúde pública. Eles estão num estágio anterior ao Brasil. Gasparian acredita numa diversidade que assenta num plano comum, que se estende a uma escala planetária: “Cada um tem seu perfil, mas todos eles se encontram numa fase de controle de custos, não apenas na América Latina, mas também os países mais desenvolvidos e mesmo os que são inteiramente custeados pelo governo, com planos de saúde universais”.

“O Brasil pode aprender com os seus vizinhos, tem algumas instituições que são referência na América Latina, mas não temos o melhor modelo de gestão em saúde da América Latina”. As palavras são de Cintia Soares, que remete para a reforma feita na saúde da Colômbia, “principalmente dos modelos operacionais, que é onde o Brasil deve mudar, onde devem ser feitos alguns tipos de reformas ou no mínimo uma aproximação do órgão regulador, a ANS, com o Ministério de Saúde, criando mais sinergias entre os dois modelos de saúde existentes.”

A gerente da KPMG segue para a mesma localização e indica o Equador, país que está tomando o Brasil como modelo de elaboração de processos mais eficientes, de otimização e redução de custos e de atendimento a uma parcela maior da população, dizendo que “o Equador tem deficiências semelhantes, faltam veículos, faltam médicos, faltam enfermeiras, mas o Brasil tem uma maturidade maior”.

Brasil não é uma nova Grécia ou uma nova Argentina

Não serão as vozes mais ouvidas, mas a verdade é que há quem compare o Brasil com a Argentina. Outros dizem que o Brasil é uma repetição da recente situação da Grécia. Os mais pessimistas recuam mesmo até a crise de 2001 na Terra da Prata. Enrico Vettori assegura que “existe uma diferença brutal de uma Argentina ou até mesmo de uma Grécia. O que nós temos é uma crise política que está se abatendo fortemente, interesses pessoais que estão atrapalhando os nossos avanços fiscais, mas iremos avançar até porque esses interesses irão ser compatibilizados de uma maneira ou de outra, caso a classe política não tenha a dignidade, a decência ou a presteza de o fazer, o mercado já está fazendo”. O líder da Deloitte prossegue explicando que não é um caso de dominância fiscal, ou seja, quando o Banco Central perde totalmente a capacidade de política monetária”. Por outro lado, ele acredita que chegou ao fim aquilo que designa como “ciclo do populismo e inconsequência”. O momento agora é de arrumação, de as empresas olharem para dentro, para fazer uma reflexão de gestão e modelo de negócio. A crise pode trazer oportunidades, aqueles que estão menos maduros e confiam no amadorismo, na sorte ou empirismo podem sofrer mais, mas os que estão preparados vão superar. Aliás, ele faz questão de deixar um elogio: “O DNA do empresariado brasileiro resiste bem a isso”.

Para a KPGM, na voz de Cintia Soares, a única comparação que deve ser feita é no sentido de seguir o exemplo da Argentina sob o ponto de vista de assumir uma postura colaborativa da saúde com a indústria de fármacos, mas só nesse sentido. Transitar de um modelo individualista para modelos colaborativos em parceria com a indústria. Eliane Kihara concorda que apenas faz sentido comparar as duas realidades em apenas um detalhe: “As famílias argentinas optaram por trocar seus planos de saúde por outros mais em conta. Nessa linha, acredito que este movimento pode ocorrer aqui, vis-à-vis o impacto de custo de saúde no orçamento familiar bem como as famílias irão procurar opções mais em conta de medicamentos também, alavancando o mercado de genéricos”.

Projeções para 2016

O ano de 2016 não será um ano de crescimento para o setor de saúde brasileiro. Cintia Soares prevê que seja um ano — talvez o primeiro grande ano — em que existirá uma mobilização em massa para reestruturar e, aí sim, alcançar a estabilidade para fazer face às dificuldades econômicas. O motor dessa mobilização será o setor privado: “Não teremos mudança nenhuma no sistema público, por isso essa mobilização terá que vir do setor privado”.

“As perspectivas são muito mais positivas, que a maioria dos demais setores da economia”, nas palavras de Eliane Kihara. A demanda por serviços de saúde se manterá ou aumentará, vis-à-vis aos reflexos do envelhecimento da nossa população. “O grande desafio das organizações será o quão preparadas elas estarão para enfrentar a pressão sobre custos em toda a cadeia da saúde, para ofertar uma proposição de valor adequada para o quanto os seus clientes estão preparados a pagar, num contexto de crise”, sustenta Kihara.

Segundo Enrico de Vettori, 2016 vai ser um ano muito difícil, os índices econômicos não são favoráveis, mas o mercado já passou por uma primeira perda do grau de investimento e está preparado para precificar uma segunda. “Não é um cenário econômico ou político positivo, mas é o final de ciclo democrático e esse final é o lado positivo. Houve um bom aproveitamento da liquidez gerada e da caixa existente, mas acabou”, explica, lançando seu vaticínio: “2016 vai ser um ano melhor que 2015 e vai ser bom para as empresas e empresários, primeiro porque vai ter muitas oportunidades, segundo porque vai fazer com que mergulhem nessas empresas e vão sair mais fortalecidos”.

Adriana Gasparian é mais contundente e repele o pessimismo: “Quem acreditar que 2016 é um ano que já está perdido deve fazer as malas e ir embora do Brasil”. Gasparian define 2016 não como um ano perdido ou difícil, mas como mais desafiador. Vai exigir ser mais criativo, mais colaborativo e mais participativo. Pensando nisso, a saúde brasileira e os players da cadeia da saúde têm que se voltar para um modelo participativo, colaborativo e engajador, que envolva paciente, médico e governança. “A saúde não pode dar o ano como perdido, isso significaria que muita gente morreria”, palavras fortes, seguidas de uma mensagem final de otimismo: “Os grandes players de saúde são afetados pela situação econômica, as empresas que contratam planos de saúde são afetadas, mas o Brasil e a saúde brasileira têm chance”.

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Publicado na Revista Diagnóstico

Michael Volkov “Empresas éticas são mais rentáveis”

Para o ex-promotor federal americano Michael Volkov — uma das vozes mais relevantes dos Estados Unidos quando o assunto é a adoção de políticas de compliance –, as empresas e os indivíduos querem fazer a coisa certa. Trata-se apenas, segundo ele, de se dedicar tempo, recursos e atenção para esta missão.

Estamos num caminho para uma maior “iluminação” das atividades de compliance. E essa será uma jornada incrível

O ex-promotor federal americano Michael Volkov é uma das vozes mais relevantes dos Estados Unidos quando o assunto é a adoção de políticas de compliance em grandes organizações. Depois de 17 anos agindo nos tribunais para incriminar empresas não-éticas, Volkov decidiu ser consultor de empresas interessadas em saber os meandros para se tornar exemplos de obediência à lei. “A cultura de ética deve ser transversal a qualquer tipo de empresa. E a indústria de healthcare não é exceção”, defende o advogado, CEO da Volkov Law. Segundo ele, as empresas e os profissionais de saúde estão cada vez mais na mira das novas políticas do DOJ (Departamento de Justiça Americano), que tornaram a vigilância mais agressiva e as penas mais pesadas.

Amante de viagens, artes e atividades filantrópicas e um ávido jogador de tênis, Volkov aceitou responder às seguintes questões em Julho de 2015.

Começou sua carreira na área jurídica em 1982 e, desde então, muita coisa mudou na política, direito, ética e compliance. O que de mais relevante ocorreu no EUA ao longo desse período?

Michael Volkov — Em 30 anos de carreira, tenho visto mudanças significativas na política, direito, ética e compliance americano. Em primeiro lugar, tem havido um enorme aumento do volume e da natureza das ações penais de empresas e indivíduos por crimes de colarinho branco, incluindo suborno, fraude, Anti-money Laundering — antilavagem de dinheiro, em tradução livre –, e violações antitruste. Os processos criminais substituíram os processos civis como motor principal de execução, dissuasão e prevenção. Em segundo lugar, em resposta a esta tendência significativa, nos últimos dez anos temos visto o risco à crescente importância do compliance como uma função estabelecida de governança corporativa. Com o aumento da responsabilidade penal para executivos e gerentes individuais, as empresas se voltaram para a ética interna e programas de compliance. Profissionais de compliance são, atualmente, os profissionais mais procurados para muitas indústrias, incluindo farmacêuticas, dispositivos médicos, prestadores de serviços — hospitais, por exemplo –, instituições financeiras e empresas de petróleo e gás.

Como sua experiência de ex-procurador federal influencia na sua carreira de advogado?

Volkov — A minha experiência anterior como procurador federal — atualmente estou aposentado — colocou-me em uma posição única. Porém, mesmo conhecendo todas as evidências que um promotor procura e precisa para construir um caso criminal, busco levar para meus clientes a noção de que ser um ator non compliance não compensa. Naturalmente, sou procurado por empresas interessadas em fugir de uma condenação ou simplesmente ter uma pena reduzida em ações da Justiça americana. Ter sido procurador federal, obviamente, me auxilia no domínio da técnica. Afinal, estive do outro lado. Sei como funciona.

Os funcionários de empresas éticas não mais fiéis?

Volkov — Sim e por razões bastante óbvias. Os colaboradores de empresas éticas acreditam na organização e na sua liderança. Eles são mais produtivos e menos propensos a deixar uma empresa que é referência em compliance. Com taxas de rotatividade mais baixas e maior produtividade, empresas éticas são mais propensas a aumentar o desempenho financeiro e a rentabilidade.

Algumas corporações são reincidentes, outras criam seus próprios códigos de compliance, mas, ainda assim, não “praticam o que pregam”. Pode comentar?

Volkov — Você identificou dois dos maiores problemas de compliance em muitas indústrias. Algumas são reincidentes porque sofrem de graves deficiências culturais que geralmente se refletem em forma de infração de suas regras de compliance por parte do conselho, CEO e da alta administração. “Programas de compliance de papel”, que nunca são postos em prática, em alguma medida também têm ligação com deficiências na cultura ética da organização. Ambos os problemas continuam atormentando as empresas — percebo a ocorrência de mais “programas de papel” do que empresas reincidentes em ações non compliance. Mas é preciso dizer que as consequências colaterais para as empresas que violam a lei estão aumentando em todo o mundo e as ações judiciais, por parte de acionistas “lesados”, estão aumentando rapidamente em número e exigências. Como resultado, as empresas estão percebendo que gastar dinheiro em compliance é um bom investimento. Cada vez melhor do que as sérias consequências da execução penal por imposição governamental ou consequências colaterais de litígios entre particulares. Defendo regularmente que empresas comprometidas com as regras de compliance devem começar por criar uma cultura ética em primeiro lugar. Empresas detentoras de princípios morais têm menor incidência de má conduta e são mais propensas a relatar internamente casos de má conduta.

O senhor costuma defender que os CCOs do setor de healthcare precisam ser elevados e fortalecidos. Eles têm o título, mas faltam recursos. O que pode ser feito?

Volkov — Os CCOs do mercado de healthcare têm uma história muito incomum. Há muito tempo, na década de 1990, o governo americano reconheceu a importância de capacitar um CCP (Certified Compliance Professional) independente e separado do departamento jurídico. Eles insistiram em cada acordo que CCO deveria estar separado do departamento jurídico e lhe deveria ser dada maior autoridade fora do departamento jurídico. Infelizmente, na prática, o CCO tornou-se um agente “estagnado”, com autoridade e recursos inadequados. Só agora estamos vendo algumas melhorias no estatuto do CCO em empresas de healthcare. Os conselhos de administração têm estado adormecidos em muitas dessas questões e não conseguiram resolver os problemas de forma proativa. Com um ambiente de aplicação agressivo desse tipo de política, direções de grandes empresas já começaram a abordar esta questão e a exigir melhorias nas funções globais de compliance, incluindo a elevação de CCO a uma nova posição.

Acredita verdadeiramente que o compromisso das direções é o ingrediente que falta para tornar o setor de healthcare mais ético?

Volkov — Sim. Eu vejo muitas palavras “da boca para fora” sobre a importância da ética e do compliance, mas há pouca ação. Os conselhos de administração devem tornar-se mais ativos no exercício da sua supervisão e do seu monitoramento de responsabilidades.

Você definiu as cinco etapas que o DOJ (Departamento de Justiça Americano) está usando para lutar contra fraude de saúde. Poderia explicar como cada uma funciona?

Volkov — Estamos falando de um processo que tem cinco fases: primeiro, focar nos provedores, depois, seguir o dinheiro, usar todas as ferramentas, cobrar dos profissionais, e, finalmente, qualidade da assistência. Atualmente, o DOJ se baseia em um modelo de pay-and-chase (pagamento e caça, em tradução livre) para combate à fraude. Por outras palavras, eles pagam ao provedor, em seguida, investigam o provedor baseado em padrões e montante dos pagamentos, procuram saber se ele ou ela está cometendo uma fraude, e em seguida, procuram/caçam o provedor para processar criminalmente e/ou civilmente para recuperar a verba. O modelo de pay-and-chase, por definição, é ineficiente e malsucedido como enquanto real dissuasor para acabar com a fraude. O DOJ está processando, após o fato consumado, os médicos e outros prestadores de fraude, mas continua perdendo dinheiro na equação; usando o conjunto completo de ferramentas de investigação penal (gravações camufladas, informantes, mandados de busca, etc), e agora trazendo casos criminais e civis por má qualidade do cuidado como um tipo de fraude cometida contra o governo, o que significa que eles estão fornecendo assistência sem a qualidade mínima aos doentes, mas cobrando do paciente/governo por tais serviços. Uma estratégia mais eficaz é uma abordagem proativa. Antes de uma agência seguradora privada ou governamental pública pagar uma conta médica para um provedor, é preciso haver etapas de due diligence (vigilância, em tradução livre) proativas para verificar quem o provedor é, se tem um escritório, se realmente presta serviços, e se legalmente tem direito a receber o dinheiro. Quanto mais dinheiro for gasto em investigações proativas e pré-pagamento, mais frequentemente os pagadores privados e públicos podem identificar potenciais riscos de fraude e evitar a perda de dinheiro.

O senhor escreveu que não podemos olhar para o compliance apenas como um centro de custo — um meio importante para melhorar o desempenho financeiro da organização e reputação de integridade. Reputação custa dinheiro ou atrai o dinheiro?

Volkov — A reputação protege uma empresa por incutir uma visão positiva da empresa nos colaboradores, clientes, fornecedores e vendedores. Em muitos casos, as empresas sofrem mais devido a danos reputacionais do que por encargos financeiros de uma multa. Investir em compliance é uma forma de promover a rentabilidade financeira através da criação de uma cultura ética, e criando uma imagem que a empresa pode apresentar aos stakeholders externos. Isso é importante para promover uma empresa junto dos seus stakeholders e de sua comunidade.

Depois de todos os casos com que lidou desde 1982, tanto com o DOJ quanto como profissional autônomo, consegue ver a luz no fim do túnel? Há esperança para o setor de healthcare?

Volkov — Existe, sem dúvida. Pela primeira vez em nossa história, o compliance é uma parte integrante da nossa estrutura de governança. Há muito trabalho a ser feito, mas estamos no caminho certo. As empresas e os indivíduos querem fazer a coisa certa. Trata-se apenas de se dedicar tempo, recursos e atenção para esta missão. O governo tem muito poder e muitas ferramentas para garantir que isso aconteça, mas toda a aplicação da lei no mundo não pode trazer uma mudança dramática sem o apoio, empenho e engajamento dos órgãos sociais, comunidades, CEOs, executivos e profissionais de compliance. Estamos em um caminho para uma maior “iluminação” das atividades de compliance. E essa será uma jornada incrível.

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Publicado no Portal DiagnósticoWeb
Publicado na Revista Diagnóstico

Ethical companies are more profitable, says Volkov Law CEO

Former US Attorney Michael Volkov is one of the most prominent voices in the United States when it comes to adopting compliance policies in large organizations. After 17 years in court dealing with unethical companies, Volkov decided to be a consultant to companies interested in knowing the intricacies to become examples of obedience to the law. The culture of ethics must be transversal to any type of company. And the healthcare industry is no exception, advocates Volkov Law’s CEO. He says companies and healthcare professionals are increasingly under the crosshairs of the DOJ’s new policies, with more aggressive surveillance and heavier penalties.

Michael Volkov: We are on a path to greater compliance “enlightenment” — it will be an incredible journey.

Passionate about traveling, arts and philanthropic activities and an avid tennis player, Volkov agreed to answer the following questions in July 2015.

You started your law career in 1982 and since then a lot changed in politics, law, ethics and compliance. What would you say were the main changes?

Michael Volkov — Over the course of my 30 year career, I have seen significant changes in politics, law, ethics and compliance. First, there has been a huge increase the volume and nature of criminal prosecutions of companies and individuals for white collar offenses, including bribery, fraud, AML, and antitrust violations. Criminal prosecution has replaced civil prosecutions as the primary engine of enforcement, deterrence and prevention. Second, in response to this significant trend, the last ten years has seen the risk of the compliance professional and the increasing importance of compliance as an established corporate governance function. With increasing criminal liability for individual executives and managers, companies have turned to internal ethics and compliance programs. Compliance professionals are the most sought after professionals for many industries right now, including pharmaceutical, medical device, service providers (e.g. hospitals), financial institutions, and oil and gas companies.

How does your past experience as federal prosecutor help you nowadays?

MV — My prior experience as a federal prosecutor has put me in a unique position — I am able to work with companies to institute proactive documentation and operational systems to prevent criminal liability for the company and individuals who work at the company. I know what types of evidence a prosecutor looks for and needs to build a criminal case, and I help companies to create systems that generate information to “negate criminal intent.” In other words, I make sure that there is record evidence to show that the company took great efforts to not act like a criminal organization.

You said “ethical companies are more profitable for numerous reasons”. Could you elaborate on that?

MV — I regularly advocate that companies committed to compliance should start with creating an ethical culture first — the best compliance control that a company can create and implement is a culture of ethics and compliance. No compliance system is perfect, and the most effective constraint on possible code and legal violations is a culture of ethics. Companies that have an ethical culture have lower incidents of misconduct and are more likely to report misconduct internally.

On the overall profitability, I have found research studies that show ethical companies are more profitable. This conclusion is fairly obvious — employees are happier at ethical companies because they believe in the organization and its leadership; employees are more productive and less likely to leave an ethical company — with lower turnover rates and higher productivity, companies are more likely to increase financial performance and profitability.

Some companies are repeat offenders, others create their own compliance codes but still they don’t practice what they preach and just use them as “window dressing”. Will that ever change? How?

MV — You have identified two of the biggest compliance problems across many industries — repeat offenders suffer from serious cultural deficiencies which usually reflect a disregard of compliance by the board, the CEO and senior management; and “paper compliance programs” which are those that are on paper but not implemented in practice. Both problems continue to plague companies — I see more paper programs than recidivists. Collateral consequences to companies that violate the law are increasing — shareholder lawsuits are rapidly increasing in number and demands. As a result, companies are realizing that spending money on compliance is a good investment over suffering serious consequence from criminal enforcement by the government and collateral consequences in private litigation.

From a corporate risk perspective, the greatest legal and compliance risk has to be the False Claims Act. Could you explain why?

MV — Companies in the healthcare sector, along with pharmaceutical and medical device companies face serious risks from the False Claims Act. First, the FCA enforcement program has been around for over 150 years; there are huge risks that relators/whistleblowers have in terms of financial rewards to report on companies that are earning revenues from fraud against the government. Second, the penalties are severe for FCA violations — each false claim is trebled (tripled) for damages calculations and can quickly add up. Third, and most significantly, a company cannot challenge the government’s enforcement action because if it loses they can be “excluded” from participating in federal healthcare programs. For most companies, they cannot survive without government reimbursement programs for healthcare services, and they have to settle the case rather than go to trial against the government.

The FCA risk has grown over the last five years as the Justice Department and the Inspector General for Health and Human Services have collected multi-billion dollar recoveries each year against healthcare providers (e.g. hospitals and doctors), and pharmaceutical and medical device companies.

In Brazil we have someting called “delator” which is similar to whistleblower. However, I believe there are some differences. Could you tell us a bit more about the role of the whistleblower? Is it an important role from an ethical point of view?

MV — Whistleblowers/Relators play a critical role in bringing False Claims Act cases. A relator will file a case under seal (meaning non-public) and inform the government of the filing and allegations. The government will review the case, and if they decide to join the whistleblower’s lawsuit, the government wins 99 percent of all of its FCA cases. This mechanism and procedure is the fuel for FCA enforcement and has been increasing each year. Whistleblowers have a financial incentive and are protected legally from retaliation. Companies have to be very careful when interacting with whistleblowers to ensure proper treatment.

You say that “CCOs in the healthcare industry need to be elevated and empowered. They have the title, they lack the resources, and they need to have a message of support sent.” What do board rooms need to do about this?

MV — CCOs in the healthcare industry have a very unusual history. Long ago, in the 1990s, the government recognized the importance of empowering an independent and separate CCP from the legal department. They insisted in every settlement that the CCO be separated and given greater authority outside the legal department. Unfortunately, in practice, the CCO has become a “backwater” player with inadequate authority and resources. Only now are we seeing some improvement in the stature of the CCO in healthcare companies.

Corporate boards have been asleep on many of these issues and have failed to proactively address the problems. With an aggressive enforcement environment, some boards at the larger companies have begun to address this issue and demand improvements in overall compliance functions, including elevating the CCO to a new role.

Do you really think that the lack of board commitment is the missing ingredient in making the healthcare industry more ethical?

MV — Yes, I do. I see “lip service” to the importance of ethics and compliance but there is little follow through on the issue. Corporate boards need to become more active in exercising their oversight and monitoring responsibilities.

Since 2010, in response to scandals and prosecutions in the healthcare sector, companies have had to separate the chief compliance functions from the chief legal officer. With that separation of the CCO and the legal function came a decrease of importance of the CCO. How can the healthcare industry turn CCOs into CCEOs?

MV — With the leadership of corporate boards, the CEO and senior management, healthcare companies have to elevate and empower the CCO function with authority, resources, and accountability for performance.

In 2014, the DOJ and HHS-OIG announced charges against individuals in several cities for Medicare fraud schemes involving approximately $260 million in false billings. Almost a third of those individuals charged were doctors, nurses, and other medical professionals. How would the CCO or the CCEO stop this from happening?

MV- Most of these criminals operate at a level below where compliance officers operate, meaning they work for themselves or small companies without a compliance function. These targeted fraud prosecutions are nothing more than common criminals using the healthcare system to steal money and commit fraud. These cases do not involve larger companies or medical organizations where compliance functions are operating.

You defined the five steps that the DOJ is using to fight healthcare fraud: 1. Focus on Providers, 2. Following the Money, 3. Using All the Tools, 4. Charging Professionals, 5. Quality of Care. Could you explain how each one works?

MV — Right now, DOJ relies on a pay and chase model for fighting fraud. In other words, they pay the provider, then check out the provider based on patterns and amounts of payments, find out he or she is committing fraud, and then seek/chase the provider to prosecute criminally and/or civilly to recover funds. The pay and chase model, by definition, is inefficient and unsuccessful as a real deterrent to stop fraud.

DOJ is prosecuting, after the fact, doctors and other providers for fraud but still losing money in the equation; using the full complement of criminal investigatory tools (undercover recordings, informants, search warrants, etc), and now bringing criminal and civil cases for poor quality of care as a type of fraud committed against the government, meaning that they are not providing minimum quality of care to patients but charging the patient/government for such services.

A more effective strategy is a proactive approach. Before a private insurance or public government agency pays a medical bill to a provider, there needs to be proactive due diligence steps to verify who the provider is, do they have an office, do they really provide services, and are they legally entitled to the money. The more money spent on proactive, pre-payment investigations, the more often private and public payers can identify potential fraud risks and prevent loss of any money.

I don’t know if you heard about the scandal in Brazil with Orthotics & Prosthetics, in 2014. I saw that something similar happened in the US. In 2013 the CMS had failed to stop the illegal practice of paying unlicensed providers for orthotic and prosthetic services provided to Medicare beneficiaries. a) Easy money talks and ethic walks? b) That case shows that we still have no way of learning from other countries’ mistakes or do you think that information doesn’t leave US borders?

MV — Unfortunately, incentives to commit fraud and other criminal acts are not limited by borders — criminals exist in every country and there is nothing to stop them from committing crimes in the healthcare sector. I am not familiar with the Brazil scandal involving Orthotics and Prosthetics, but I am not surprised by financial wrongdoing in this area since it is a high fraud risk area (like hospice and nursing facilities).

You wrote that compliance is not just a cost center, it is an important way to enhance the organization’s financial performance and reputational integrity. Reputation costs money or attracts money?

MV — Reputation protects a company by instilling a positive view of the company in employees, customers, suppliers and vendors — in many cases, companies suffer more from repetitional damage than financial burdens of a fine. Investing in compliance is a way to promote financial profitability by creating an ethical culture, and creating an image that the company can present to external stakeholders. That is important to promote a company with its stakeholders and its community.

“Is this right?” or “Is this legal?”. You wrote this stating that an ethical culture is much more than a compliance culture. But the law is based on moral, on what is right. How did those concepts become so far apart?

MV — I do not accept the premise of your question — what is legally correct is not necessarily what is ethically correct. The law defines legal values. The law does no define ethical values. Usually ethical values are focused on different issues and principles. Compliance with the law does not mean ethical compliance with our values. a Company has to define its ethical principles, usually with specific defined principles.

From all the cases you dealt with since 1982 both with the DOJ and private practice, can you see the light at the end of the tunnel? Is there hope for the healthcare industry?

MV — There is definitely hope for the healthcare industry. For the first time in our history, compliance is an integral part of our governance framework. There is a lot of work to be done but we are on the right path. Companies and individuals want to do the right thing — it is just a matter of dedicating resources and time and attention to this mission. The government has a lot of power and tools to make sure this happens, but all the enforcement in the world cannot bring about a dramatic change without the support, commitment and engagement of corporate boards, communities, CEOs, senior executives and compliance professionals. We are on a path to greater compliance “enlightenment” — it will be an incredible journey.

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