‘The Patient Will See You Now The Future of Medicine is in Your Hands’ – Eric Topol

“Há muito tempo numa galáxia muito muito distante”. Para aguçar a curiosidade em torno do livro de Eric Topol, podemos adaptar esta frase tão usada recentemente para “Em breve numa galáxia muito muito próxima”. A realidade que se segue parece ficção e mistura detalhes que achávamos irreais com pormenores que vamos observando usualmente aplicados nos dias que correm.

O mais recente livro do cardiologista Eric Topol, ‘The Patient Will See You Now: The Future of Medicine is in Your Hands” (“O Paciente vai vê-lo agora: O Futuro da Medicina Está em Suas Mãos “, em tradução livre), possui um certo sabor ao “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley”, trazendo toda uma visão futurista do passado, que nos possibilita assistir à concretização dos sonhos de décadas anteriores.

Dr. Topol, além de cardiologista, dirige o Scripps Translational Science Institute em La Jolla, Califórnia, é editor-chefe do site Medscape, professor da genômica e fundador do primeiro banco genético cardiovascular do mundo na Cleveland Clinic. Seu título no Scripps Institute é, no mínimo, curioso:”Professor de Medicina Inovadora”. Topol anuncia o Fim dos Dias da medicina a que estamos acostumados e o surgimento de cuidados rigorosos, digitalmente aperfeiçoados, precisos e rentáveis.

A teoria central do livro anuncia a morte de um sistema assente no médico e dependente do médico, de suas decisões, de seus palpites e até do seu conhecimento. Não haverá mais a exclusividade dos médicos controlando dados médicos, tratamentos ou lucros. A ciência e a era digital estão trazendo a verdadeira democracia aos cuidados de saúde. A humanidade está sendo empoderada, o paciente está sendo elevado no universo da medicina. O tremendo potencial dos smartphones leva o autor a assinalar um “Momento Gutenberg” da medicina, algo com um impacto tão avassalador e revolucionário na divulgação de informação quanto a invenção do alemão.

A tecnologia que está ao nosso alcance permite pular de um sistema que, em muitos casos, está preso no século XVIII e avançar para um País das Maravilhas com estetoscópios de ultra-som, nanochips ou painéis de sangue realizados em gotas individuais.

Dr. Eric Topol escreveu aquele que eu acredito ser o livro médico de 2015. Ele realizou um trabalho fantástico na apresentação do imenso potencial de smartphones e tecnologia iMedicine na democratização da medicina como nunca. No livro, ele fala do potencial do smartphone para se tornar a “Prensa de Gutenberg” da medicina. O estilo de escrita de Topol é acessível a qualquer pessoa. É uma leitura imprescindível para todos quantos se interessam pela saúde.

Dave Chase (Forbes)

Topol prevê o fim das visitas a um consultório médico. Adeus esperas humilhantes e intermináveis! Um smartphone equipado com os aplicativos corretos vai facilmente analisar, explicar e transmitir todos os dados fisiológicos relevantes para o médico, geralmente sem a necessidade de presença física do paciente. Ficção Não. Topol usa a sua experiência pessoal-profissional para fundamentar essa previsão. Ele relata que, durante anos, não usou estetoscópio, optando por áudio mais preciso e ferramentas eletrônicas de vídeo.

‘Sayonara’ hospitais anacrônicos. “O quarto de hospital do futuro será o quarto”, diz Topol. A maioria dos CEOs hospitalares acreditam que estalou uma bolha hospitalar estalou, com excesso de camas e acentuada sobrecapacidade. O resultado desta tendência será que o quarto do hospital do futuro será o quarto. Hospitais como existem hoje são configurados para falhar e seu futuro fiscal é mais do que desolador.
A casa da pessoa doente será equipada para a ocasião com todos os sensores portáteis apropriados, e assim estarão criados serviços hospitalares “realizado no conforto da nossa própria casa. Veremos os nossos próprios dados em nossos próprios dispositivos. Estaremos no comando.”

O diagnóstico médico será simplificado. Acabará o processo triturador-de-tempo-e-paciência de médicos explicando os seus sintomas com testes e exames intermináveis. Serão substituidos por páginas da web completas de genes sequenciados e todas as formas de cálculos de risco biológico e comportamental. Assim iremos obter um diagnóstico provável instantaneamente. Topol vai mais longe e escreve que o paciente pode perfeitamente fazer esse diagnóstico e apresentá-lo ao médico para avaliação, e todas as informações estarão disponíveis gratuitamente.

Palpites e adivinhação deixarão de fazer parte da prescrição de medicamentos. Padrões genéticos permitirão distinguir facilmente as pessoas susceptíveis de beneficiar de uma droga das pessoas susceptíveis de sofrer consequências danosas. A selecção dos medicamentos vai se tornar segura a ponto de, em algumas situações, os pacientes prescreverem para si próprios. A inspiração ‘Huxleyiana’ de Eric Topol fervilha a ponto de acreditar que pequenos sensores eletrônicos expedidos na corrente sanguínea ou nos intestinos dos pacientes irão calmamente rastrear dados de saúde em tempo real. São “estetoscópios moleculares” altamente sofisticados que, no seu expoente máximo, irão identificar de forma eficiente pequenas moléculas como mediadores inflamatórios e DNA aberrante que anunciam acontecimentos ruins. ‘Bye bye’, catástrofes como ataques cardíacos, diabetes e até mesmo câncer. Todos eles serão identificados, atacados e superados bem antes de acontecerem.

Patient, Heal Thyself

‘The Patient Will See You Now’ perspectiva uma Nova Era de Cuidados Aperfeiçoados Digitalmente

New York Times

O livro é uma boa notícia para os pacientes, embora possua algumas áreas mais sombrias para um leigo, com análises estatísticas mais complexas e uso pesado de terminologia médica, em particular em genômica. O que é realmente impressionante é o volume de conhecimento que Topol reuniu neste livro. Assim como Gutenberg e a sua criação promoveram a liberalização do acesso à informação, acabando com o controle de uma classe de elite, a nova tecnologia está aí para democratizar a medicina. A tecnologia vai colocar o laboratório e a UTI em nossos bolsos. Apesar destes benefícios, o caminho a percorrer não será simples. O setor médico vai tentar resistir a essas mudanças e a medicina digital vai levantar questões sérias, como as relativas a privacidade. Mas esse caminho vai levar a um destino com resultados melhores, mais baratos e mais humanos para os cuidados de saúde.

É claro que ler que dispositivos digitais “vão substituir os médicos em muitas tarefas” não é minimamente agradável para um médico. Um médico sul-africano, lendo as primeiras páginas, disse mesmo que a sua intenção era “lê-lo e rasgá-lo em pedaços”. Não rasgou. É que Topol não afirma que os médicos têm más intenções e que os pacientes devem assumir. Ao longo de sua exposição, ele reconhece o valor do médico e explica como tecnologia pode mudar a prática da medicina para melhor. Numa atualidade em que os médicos, muitas vezes, não têm mãos a medir, o digital pode ser um precioso aliado.

Uma leitura deste livro exige que se pense em duas realidades. A tal galáxia muito, muito distante e a galáxia muito, muito próxima. A próxima é aquela em que vemos acontecer muito do que Topol vê acontecer e acredita que se tornará procedimento usual. A galáxia distante, aquela que, presumivelmente, é fruto de um otimismo e futurismo bem semelhante àquele que, décadas atrás, consideraríamos fantasioso. Só que, quanto do que era fantasioso há anos atrás, é hoje comum?

Topol apresenta contra-argumentos às suas próprias crenças e admite que é necessário mais desenvolvimento. Isso torna o livro realista. Ele coloca no tubo de ensaio a promessa de tecnologias emergentes e abordagens, junta uma avaliação sóbria do que o atual sistema de saúde não está a atingir o seu pleno potencial e mistura ambas. O resultado é um livro com ideias suportadas por dados sólidos.

Várias questões surgem após a leitura. Será que todos os pacientes realmente querem, ou mesmo, será que devem querer ser seus próprios médicos? Quão engajada deve ser uma pessoa? Será que queremos dedicar nosso tempo a controlar nossa saúde? Será que queremos deixar de ter alguém cuidando de nossa saúde?

ISBN: 9780465054749
Contagem de páginas: 384pp
Publisher: Básico

The Patient Will See You Now: The Future of Medicine is in Your Hands
CD áudio – Audiobook, MP3 Audio, Unabridged
Autor: Eric Topol MD | Idioma: Inglês | ISBN: 1452668833 | Formato: PDF, EPUB

‘Bad Faith’ – Paul Offit

Quantos médicos e administrações hospitalares não tiveram que lidar com argumentos religiosos na hora de tratar ou salvar um paciente? Se isso aconteceu com você, Bad Faith teria sido uma bela ajuda. Se nunca aconteceu, Paul Offit oferece um manual de como lidar com tão complexa questão.

No livro Bad Faith (que ainda não tem versão brasileira), Paul Offit, escritor, autor e professor de vacinologia e pediatria na University of Pennsylvania School of Medicine, desbrava uma nova trilha na abordagem da relação entre religião e medicina. Ele se coloca na perspectiva do médico, mas também na daqueles que optam por dar o papel de mártires a si ou a seus filhos, em nome da religião. Bad Faith mostra como a recusa da medicina com base na religião “não é apenas imoral e insensata, é uma rejeição do que os próprios ensinamentos religiosos têm a oferecer”, explica o autor.

Offit relata que leu diversos livros defendendo que a religião é ilógica e potencialmente nefasta. Depois, mudou o alvo da sua atenção e decidiu ler o Novo e o Velho testamento e, diz o próprio, seria fácil chegar à mesma conclusão. Mas não, ele acabou acolhendo diversos ensinamentos religiosos. Segundo Offit, “o Velho Testamento é rico em mitzvahs, ou boas ações (literalmente, mandamentos), dizendo de forma clara que devemos honrar nossos pais, família, amigos, vizinhos, e estranhos com atos de altruísmo”. O Novo Testamento não é muito diferente. O problema não está nos ensinamentos, mas na forma como as pessoas os interpretam.

São diversos os casos relatados por Paul Offit no início do livro Bad Faith que ilustram a interferência da crença na medicina, as mortes causadas por preterir o tratamento clínico e preferir apelar à intervenção do divino. Cientistas Cristãos que rezam pela cura em vez de ir no médico, mortes de crianças pela recusa dos pais em levar no hospital, transfusões de sangue não autorizadas por testemunhas de Jeová, um aborto realizado num hospital católico que valeu o corte de relações decretado pelo bispo local e proibição da realização de missas na capela do hospital, contágio de herpes pelo uso de ferramentas de circuncisão contaminadas usadas em rituais de judeus ultraortodoxos, surto de tosse convulsa na Califórnia, caxumba em Nova Iorque, ou sarampo na comunidade Amish do Ohio, todos casos verídicos, alguns de fácil prevenção através de vacinas, e que ilustram esse lado negro da religião enquanto obstáculo da saúde e da medicina.

Nenhum médico escreve atualmente com mais paixão e coragem sobre o impacto de charlatanismo, fanatismo, publicidade agressiva, e má ciência, na saúde das nossas crianças do que Paul Offit. Bad Faith é outro excelente exemplo, expondo os perigos do extremismo religioso em negar cuidados médicos básicos e tratamento que salvam vidas aos mais vulneráveis entre nós. Isso não é uma discussão contra a religião, longe disso. Profundamente comovente, escrito com elegância, Bad Faith expõe brilhantemente os danos causados por sistemas de crenças que foram distorcidos.

David Oshinsky
Vencedor do Prêmio Pulitzer com “Polio: An American Story” e Diretor da Division of Medical Humanities da New York University Medical School

Tragicamente, todo o ano existem crianças sofrendo e morrendo de doenças com tratamento e, na maioria dos estados norte-americanos, há um manto legal cobrindo os pais que negam tratamento dos próprios filhos por motivos religiosos. Offit centra uma boa parte do livro analisando o que acontece nos Estados Unidos, não apenas no que respeita aos pais, mas à lei.

E ele aponta o dedo a dois homens da administração Nixon H. R. Haldeman and John Ehrlichman, que ficaram famosos pelo seu envolvimento no escândalo Watergate, ambos Cientistas Cristãos. O caso remonta a 1957, quando Lisa Sheridan, de 5 anos, morreu de pneumonia. Sua mãe, Dorothy, também ela Cientista Cristã, trocou os antibióticos pela oração. A autópsia revelou uma grande quantidade de pus no peito da criança e Sheridan foi acusada de homicídio pelo Ministério Público. A pena foi de 5 anos em liberdade condicional. Nesse mesmo período surgiu a Child Abuse Protection and Treatment Act (Capta) e os anciãos da igreja dos Cientistas Cristãos recearam que os holofotes do caso incidissem sobre o seu modo de vida. Foi aí que decidiram recorrer a Haldeman e Ehrlichman. O resultado foi um anexo que imunidade religiosa na Capta: “Nenhum pai ou tutor que de boa-fé esteja fornecendo um tratamento a uma criança exclusivamente por meios espirituais – como a oração – de acordo com os princípios e práticas de uma igreja reconhecida através de um profissional devidamente acreditado pode, só por essa razão, se considerar que tenha negligenciado a criança”.

O professor universitário indica o Canadá e o Reino Unido, onde não existe qualquer cláusula religiosa para negligencia médica e é excepcionalmente raro ocorrer morte infantil causada por cura de fé. Nos EUA, encontrou Rita Swan, que se dedica a desfazer o fruto da ação de Haldeman e Ehrlichman, juntamente com o marido. Ambos criaram a Child: Children’s Healthcare Is a Legal Duty, uma organização que, até hoje, já conseguiu que imunidade religiosa fosse eliminada em 5 estados.

No Brasil, está previsto no Código de Ética Médica que o paciente tem autonomia para decidir, após esclarecimentos dos riscos e consequências, qual o tratamento médico, mas diz também que é dever do médico se utilizar de todos os meios para curar a enfermidade e salvar a vida de seu paciente. A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente protegem crianças e adolescentes de qualquer situação prejudicial, sendo “dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida e à saúde…”e “dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente”.

O livro é mais do que uma exposição de casos, é bem diferente da tradicional acusação da religião, que a mostra enquanto obstáculo da medicina. O pediatra conclui que ser religioso é ser humano. Paul Offit torna claro que os ensinamentos religiosos levaram, ao longo da História, “ao auxílio dos desfavorecidos, à ajuda dos pobres e famintos, ou a um teto para os desalojados”. Mesmo reconhecendo o papel positivo da fé no divino e da religião, é necessário acabar com a figura legal que concede um estatuto de isenção religiosa à negligência médica. Offit quer, com o livro BadFaith, juntar-se a pessoas como Rita Swan para alertar e despertar consciências.

Bad Faith: When Religious Belief Undermines Modern Medicine
Basic Books
272 páginas
Kindle US$18.99
Impresso $20.96
Audiobook $23.27